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quarta-feira, 30 setembro 2020 08:10

Os "Peregrinos da Pátria"

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Pertencer a um partido político da oposição em quando se é  funcionário público, na República de Moçambique, é o mesmo que assinar um tratado oficial de traição. Principalmente, quando se é residente naqueles distritos onde as vias de acesso são difíceis e problemáticas. Onde a consciência política ainda é primitiva e o pensar diferente é motivo para tornar qualquer cidadão em búfalo ou elefante fora da reserva.

 

Embora não seja apenas nos distritos onde existem os peregrinos da Pátria (aqueles que pensam que podem mudar Moçambique estando doutro lado da bandeira e das convicções políticas, sociais e culturais). Os Peregrinos da Pátria muitos deles vivem em constante medo e na linha do tiro. Mas eles nunca desistem, porque sabem o que querem, pretendem e defendem.

 

É como Vasco Choe; um brilhante professor que já corre nisso há 14 anos. Um corajoso que mesmo sabendo que a sua vida corre perigo entende que a pátria precisa de bons peregrinos. Choe já convive com os lobos há anos. Mesmo quando é dado ordens de transferência para os confins de Chinde, consegue andar em prontidão combativa.

 

A situação que vive Vasco Choe é mais uma das várias que acontecem todos os dias em Moçambique, na África e no Mundo. Onde as pessoas são perseguidas e aniquiladas. A diferença é que Choe é um peregrino patriota, disposto a ir até às últimas consequências, defendendo suas convicções, mas de uma forma ética.

 

É comum ver jovens que perdem a vida porque decidiram ser heróis das suas comunidades. Que perdem emprego porque acreditam que podem fazer melhor de quem detém o poder actualmente. As nossas diferenças nos tornam eternos Peregrinos da Pátria. Foi assim com Jesus Cristo, Martin Luter King Jr, Abraham Lincoln, Patrice Lumumba, Nelson Mandela, Steve Biko, Filipe Samuel Magaia, Urias Simango, Joana Simeão, Mahamudo Amurane, Ibraimo Mbaruco, a senhora baleada em Cabo Delgado e tantos outros.

 

As figuras acima mencionadas viviam como Vasco Choe; vítima das raízes e embondeiros da intolerância política, social e cultural. As nossas sociedades neocolonizaram-se e precisam de novos lutadores pela liberdade completa e rejuvenescida.  

 

O Peregrino da Pátria, Vasco Choe, é um dos vários cidadãos que sofre a ira da ditadura não institucionalizada. Um cidadão que é barrado ao direito à palavra nas visitas presidenciais, num intuito de não revelar a podridão que assola as estruturas governamentais naquele distrito insolar. Em 2019, durante o período eleitoral, Choe candidatou-se a deputado através de uma lista de um partido da oposição, todavia não conseguiu um lugar na dita "escolinha do barulho". 

 

Entretanto, na campanha eleitoral, o Peregrino da Pátria, Vasco Choe, conseguiu mobilizar outros Peregrinos da Pátria com influência política, económica e social a nível do distrito; tudo isso acabou lhe custando uma transferência para um povoado longínquo onde terá trabalhado nos seus primeiros cinco anos de professorado. 

 

A decisão de transferência visava aniquilá-lo profissional e fisicamente, tudo por ser mais um Peregrino da Pátria – eterno lutador pela justiça social, igualdade, desenvolvimento e amante da verdade. No entanto, Choe conseguiu contornar a as espinhosas políticas, ficando atento para os próximos episódios da novela.

 

Texto inspirado em um facto real. O personagem citado no texto vive, actualmente, o cenário relatado.

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