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terça-feira, 23 junho 2020 07:21

Olá Mondlane!

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Em um dos dias do final de semana vi, à hora do telejornal, no canal STV,  passe a publicidade, um vídeo de uma intervenção (em Londres)  de Eduardo  Mondlane, o 1º Presidente da FRELIMO, dado como o arquitecto da unidade nacional.  Na mesma notícia também passou excertos de  uma entrevista de Mondlane. No mesmo dia e no programa  “Pontos de Vistas”, do mesmo canal, um dos painelitas (Silvério Ronguane, académico e deputado da AR) falou de Mondlane para além do que se está habituado. Na sexta ou quinta passada, ainda no mesmo canal, o filósofo Severino Ngoenha, debruçara sobre um outro Mondlane. Deste académico, caiu no meu whtasapp, uma sua  entrevista, creio que a parte escrita que passara na TV,   na qual ele confessa o  seu fascínio por um outro (escondido) Mondlane e que em breve irá apresentá-lo (em livro) aos moçambicanos. Dias antes , vira no Programa “Quinta à noite”, da televisão pública, a TVM, um outro académico , cujo nome não pude fixar,  a referir que urge saber mais de Mondlane, em particular das suas lições e reflexões enquanto professor universitário nos Estados Unidos da América. Estes são alguns exemplos e que constituem uma lufada de ar fresco sobre  as ideias de Eduardo Mondlane.  

 

No meu último texto (Luther King falou, Mondlane ainda)  voltara a reclamar da presença (da voz) de Mondlane em público, sobretudo, e não só,  nos momentos de exaltação do seu papel   na construção do Esatdo moçambicano. No final de semana, embora de raspão/timidamente, finalmente Mondlane apareceu. Foi algo, e por empréstimo da linguagem do futebol, como lança-lo para o jogo no período de compensação e assim, com o seu talento, mudar o rumo da partida no tempo regulamentar. Neste, e um pouco por toda a imprensa e depoimentos, o foco, para além do habitual sobre os ideias de unidade de Mondlane, a velha necessidade da sua  divulgação. No dito período de compensação, fora o perfume da fala de Mondlane, registar, para o caso do presente texto,  a mudança do título ( e do conteúdo) que  passou de “Centenário de Mondlane - Um aniversário sem o aniversariante” para o “Olá Mondlane”. O “Olá” como a tradução da sensação do momento em que alguém, estando num  elevador, que iniciara a subida e com a porta a fechar,  ouve/vê Mondlane  a passar, às pressas,  pelo corredor. Um  instante, curto e rápido, mas o suficiente para um  “Olá Mondlane!”.

 

Espero que em próximas ocasiões, cada moçambicano depare com  Eduardo Mondlane dentro do elevador e a caminho do seu encontro no futuro, pois,  e tal como afirma o filósofo Severino Ngoenha,  na entrevista retro mencionada, “Mondlane não esteve na primeira República, Mondlane não esteve em 1975 quando nos proclamamos Estado Socialista, mas Mondlane não esteve em 1992 quando assinamos os acordos de paz e nos encaminhamos para uma República Pluralista. Na senda daquilo que chamei a Terceira via, Mondlane não está atrás de nós, nos 50 anos da sua morte e no Centenário do seu nascimento, mas me parece alguém que está em frente de nós a nossa espera para que quando nós estivermos prontos como país, como povo e como nação vamos iniciar a intimar um diálogo necessário com ele, com seu pensamento e suas ideias”. Esse diálogo/futuro urge e, quiçá,  a recente aparição pública de Mondlane, no seu centenário  natalício, fique registado como o ponto de (re)partida. 

 

PS1: PS2: O 25 de Junho, o dia da independência, está à porta. É normal nessa data as televisões e as rádios passarem a leitura da declaração de independência feita por Samora Machel, o 1º Presidente de Moçambique. Se não for nessa data, o da Independência, provavelmente em Setembro, o mês do início da luta armada,  seria interessante que o áudio ou o vídeo, caso exista,  da declaração do início da luta, que conduziu Moçambique à Independência, também fosse passada.

 

PS2: Na esteira da necessidade de ouvir Mondlane e em  conversa com um amigo, a propósito da comparação que Severino Ngoenha, na dita entrevista,  fizera de Mondlane com o Amílcar Cabral, o pai das independências de Cabo Verde e Guiné-Bissau, dando conta de que passa na cabeça dos moçambicanos a noção de que Amílcar Cabral tenha sido um grande  intelectual e que Mondlane não fora. Para Ngoenha tal noção é impelida pelo facto de  Cabo Verde e Guiné-Bissau realizaram, há mais de 30 anos, congressos a volta de Amílcar Cabral e que Moçambique, nesses anos, apenas  fez o contrário com Mondlane,    escondendo um   grande intelectual. O meu amigo corroborou e enfatizou  que até já ouvira discursos de Amílcar Cabral, incluindo os da passagem de ano, e de que de Mondlane nunca ouvira. Na sua comparação, o amigo ainda disse que se sentiu diminuto quando,  numa das suas visitas a Cabo Verde,  visitara a Sala-Museu sobre Amílcar Cabral que é um autêntico arquivo-vivo sobre a vida e obra de Amílcar Cabral.  No final da conversa ficamos com a seguinte interrogação-proposta: E porque não um Sala-Museu sobre Eduardo Mondlane? A Universidade Eduardo Mondlane até que podia tomar a vanguarda nesse empreendimento. 

 

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