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BCI
terça-feira, 01 outubro 2019 13:33

Ouvindo a música da natureza no Bistro-Pescador

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Estou sentado na esplanada do Bistro-Pescador, nome dado ao restaurante escondido no sossego de um dos cantos da baía da Inhambane. Tenho vindo para aqui, sempre que possível, poucas vezes, não propriamente para beber alguma coisa ou comer, mas para contemplar a ponte que deste lugar se torna peculiar. Não que a infrasestrutura tenha atributos de grande engenharia moderna. Até porque aquilo é obra dos tempos remotos, sem que seja, mesmo assim, uma velharia. Esta obra é o símbolo do passado. Uma fortaleza do espírito bitonga. Provavelmente seja por isso que me arrebata.

 

As águas do mar estão aqui mesmo, perto de nós, beijando os utentes. Por vezes fugindo deles em maré baixa, para depois regressarem em maré alta, num esplendoroso ciclo da natureza que Deus criou. É isso também que me motiva a estar aqui, mesmo que não peça nada para degustar. O café está caro, porém tenho encontrado uma forma de desencantar algumas moedas para pagá-lo, caso contrário vão mandar-me embora. E eu tenho um desejo irreprimível de banhar-me com esta dádiva.

 

Os inabaláveis pilares da ponte, que avultam para suportar a plataforma, vistos daqui, parecem estar dentro de mim, segurando a bandeja das minhas lembranças. Estando aqui, o meu cérebro não se abre às memórias ruins. Aliás, para quem escuta a música da natureza, não tem como dar espaço aos pensamentos nefastos. E eu estou escutando a música da natureza, dançada pelo meu espírito e pelos raros pássaros marinhos que também cantam. É isso que eu procuro a fim de ostracizar a tristeza.

 

- Não vai mais nada, senhor?

 

Quem me pergunta é a garçonete, enquanto retira a chávena de café, já sem conteúdo, e limpa suavemente a mesa. Ela fala leve de tal modo que condiz com o próprio lugar. Com a própria natureza, que estou a observar.

 

- Não, muito obrigado.

 

À esta hora não está ninguém neste espaço. O que não sei é se as pessoas foram-se embra, ou ainda estão por vir. Mas isso não importa. Até porque daqui a pouco vou zarpar. Saciado. E pelo caminho, de regresso à casa, nada me vai abalar porque estou fortificado. O oxigénio enchido nas botijas da minha alma vai dar para os próximos dias. E quando acabar, volto de novo ao Bistro. Assim, sucessivamente.

Sir Motors

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