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sexta-feira, 27 setembro 2019 08:20

Psicanálise no mundo da campanha eleitoral moçambicana: " desejo do desejo do outro", o desejo pela submissão e subserviência na relação eu e o outro

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Nada mais rico e interessante como a possibilidade de " Pensar Moçambique" em momento de campanha eleitoral, entendo aqui por campanha como o 'contrato', namoro, a sedução, o assédio, a troca de mimos e carinhos, os olhos lindos, a exibição de charmes e danças, a busca pela empatia e alteridade entre os políticos e potenciais eleitores, entre os manifestos e os eleitores, entre o debate de 'ideias', entre os partidos com vista a melhor piscar os olhos para os potenciais eleitores, e porque não, entre os propagandistas e as suas capacidades de melhor manipular com recurso as tecnologias de informação aos  potenciais eleitores. 

 

"Pensar Moçambique" já o fizerá Doutor Eduardo Mondlane (1969) no passado, e faz sentido indagar nesta temática em 2019, se sim, como fazê-lo? Pois, o nosso país que se pretende plural carece de reflexões de todas e de todos predispostos em fazê-lo, com ou sem ideologia, com ou sem cores, no final, as lutas dialéticas e epistémicas sobre Moçambique devem ser livres e espontâneas, sem caixas, sem grupinhos e sem donas e donas, até porque as lutas do Doutor Eduardo Mondlane em representação de um grupo plural, que nem sempre foram dentro da mesma panela, continuam presentes e actuais, e hoje com a vantagem de podermos Pensar Moçambique de maneira plural rumo a uma reconciliação, reparem que o silêncio é inimigo não só da paz, mas particularmente da reconciliação.

 

Moçambique é um exemplo natural deste antagonismo, paz e reconciliação. Pensar Moçambique pela sociedade, pela academia, deve ser algo normal, visto que os partidos e os governos não gozam da prerrogativa do monopólio deste debate, até porque a própria cultura de subserviência confundida com respeito pode não ajudar estas duas instituições a procederem e fluírem neste debate. 

 

O desejo e o debate académico 

 

  • Por onde anda a nata e a cereja académica (mais localizada no quotidiano académico)  ou intelectual (mais localizada na sociedade como um todo) moçambicana no espaço dos debates no contexto da campanha?
  • Desejando este grupo pode fazê-lo em segurança?
  • Por onde as 53 Instituições de Ensino Superior (salvo erro), neste momento de barulho construtivo, optaram ou 'optaram' pelo silêncio?
  • O silêncio no lugar da fala em momento de Pensar Moçambique, seria 'normal' ? 
  • Os activistas sociais encontram espaços nas Instituições de Ensino Superior (IES) para Pensar Moçambique?
  • Precisam os debates e as reflexões sobre Pensar Moçambique em época de campanha ter lugar nos hotéis, com tanta infraestrutura boa nas IES?
  • Last, but not least, o que desejam os 'camaradas reitores' face aos debates em prol de uma sociedade autónoma e esclarecida e como reagem os 'camaradas reitores' quando são confrontados por este desejo vindo da nata académica e ou intelectual?

Assumo que o normal e o anormal, assim como a nossa capacidade seletiva depende do contexto e muitas vezes, a geografia do poder tem sido determinante. Mas, em época de campanha ficaria uma luta contra a força do vento tentar justificar a ausência de um 'desejo' por um debate de ideias progressista em prol de Moçambique, não há Moçambique sem ideias, a força braçal tarde ou cedo se ressentirá do vazio de ideias.

 

Os partidos fazem aquilo que melhor conhecem, ou seja, fazem a campanha com base nos nossismos, nos seus euismos, nos seus pessoimos e nos seus meuismos, ou melhor, estão numa panela fechada cheia de ' eu desejo (s)' e como sabem que o mundo deles não procede sem a nossa cumplicidade, entramos numa bola de neve psicanalítica, onde o ' eu desejo' nos é socializado como sendo ' nosso desejo'. 

 

Precisamos desta passividade ' eu desejo versus nosso desejo'? Acredito que esta passividade só ganha espaço com a nossa cumplicidade, visto que a campanha precisa ver vista e percebida não como sinónimo daqueles que fazem política activa, mas e sobretudo de toda e de todo moçambicana\o com interesse em pensar e falar sobre esta temática, respeitando aquelas e aqueles que de forma consciente optam por observar em silêncio, até porque existe uma longa tradição da figura dos ediotes políticos (Grécia antiga). 

 

Mas o interessante e importante é a urgência da classe política perceber que eles devem fazer parte e ser uma força para que o debate académico sobre Pensar Moçambique possa fluir e ser uma prática, libertando assim os ' camaradas reitores' para que estes possam fazer muito bem o seu papel de bem servir rumo a uma academia e sociedade autónomas e com liberdade de expressão. 

 

Existindo académicos e intelectuais com o ' eu desejo social' ou seja, com desejo de debater e pensar em prol do país, imagino que estejam a passar por um conflito interno titânico, uma batalha entre 'falas e silêncios' estruturais e institucionalizados, entre o eu real (silêncio) e o eu ideal (falar). Ouçam, optar pelo silenciamento dos pensamentos, desejos e atitudes, leva as seguintes categorias psíquicas, a saber, 

 

  • Legitima uma forma silenciosa no debate académico e na sociedade;
  • Legitima a cultura do medo;
  • Legitima a cultura de uma sociedade subserviente;
  • Legitima de forma cúmplice que: 1. pensar pode ser perigoso; 2. que pensar diferente pode ser  pecado ou crime; 3. pensar out of the box pode ser um risco;

Estas categorias podem ser vistas de forma societal, ou seja, estrutural (de fora para dentro). Mas na dimensão de indivíduo (de dentro para fora) pode levar aquilo que designamos por desindividualização, e sem deixar de lado os danos na sua psique, a saber: 

 

Vulnerabilidade; Perca de autonomia; Desconfiança excessiva; Passa a agir sempre na reativa; Liberdade muito limitada pelo sentimento de medo e insegurança; Próximo do mundo mental da frustração e ;Consciência inconsistente.

 

Mas no lugar de lutar internamente na mente e com a consciência, o que se pode fazer é criar alianças com aqueles poucos que já passaram por esta fase e valorizam mais a sua consciência do ' eu desejo social'. Não se esqueçam do seguinte, quando nós falamos e somos livres para pensar, encontramos um conforto interno e ajudamos muito a nossa saúde mental. Se notarem, durante os comícios os políticos e os membros, simpatizantes e curiosos trocam muitas gargalhadas, pois, para muitos aqueles momentos são de libertação e de desejos (cruzamos aquilo que ouvimos com os nossos viés).

 

Last, para os 'camaradas reitores' e para os políticos no activo com o martelo da geografia do poder, pensar este momento sem debate seria surreal, pois, para a sociedade, para a academia, não deve existir a seguinte frase 'não é bom momento', para um debate de ideias, sempre é bom momento em prol de um país autónomo e esclarecido. Não há desenvolvimento, não há crescimento sem confronto de ideias e as academias não devem ser vistas como lugares privilegiados do silêncio, o silêncio não deve encontrar espaço nas academias, as mesmas devem ser os verdadeiros celeiros, terrenos, machambas das ideias, estas por sua vez, devem aceitar as culturas dentro delas. Quem trabalha em instituições académicas, deve saber que em momentos de campanha tem uma responsabilidade acrescida perante a comunidade académica e a sociedade em geral. 

 

' As academias não têm cores, nos corações das academias cabem todas e todos '.

 

"Desejo do desejo pelo outro", campanha como desejo

 

A política é uma forma de desejo, que na sua génese se pretende ' eu desejo social'. Os políticos são aqueles que melhores narrativas sabem encontrar para socializar os seus ' desejos ' junto aos membros, simpatizantes e a sociedade como um todo. Pois, a percepção que se tem dos desejos dos políticos e dos seus partidos são importantes neste processo de ' namoro '. 

 

A campanha pode ser percebida como sendo um momento de apetite, um momento de consciência de si que almeja a servidão do outro, um momento onde os partidos políticos querem que eles (comícios, manifestos, músicas, danças) sejam o status quo, onde eles são o centro das atenções. As campanhas necessitam da presença do 'outro ', um outro submisso, obediente, só assim ela alcança os seus intentos, visto que o desejo encontra o seu pilar no outro. Acampanha é um momento de 'dialética' de desejos (Lacan), da reciprocidade (Fanon), ou seja, a busca de ser reconhecido ( Kojéve) e aceite pelas massas. 

 

Em Moçambique, para as Eleições Gerais de 15 de Outubro de 2019, concorrem quatro candidatos às Presidenciais e vinte e seis Partidos Políticos às legislativas e provinciais, que significado têm estes números no desejo do desejo pelo outro? Desejam coisas diferentes para o povo moçambicano? Temos clareza sobre o que eles desejam? Podem estes desejos fluir sem debates inter-candidatos e partidos?

 

No mundo dialético dos desejos, onde o desejo (auto-consciência) reconhece que precisa do desejo do outro (eleitor), para o caso moçambicano, cada candidato presidencial funciona dentro da consciência de si (desejo pelo centro das atenções), com seus manifestos e os quatro precisam da figura e presença do outro para que este seja dominado e satisfaça os seus desejos. Pois a consciência de si necessita da outra consciência, consciência de si mediante o outro e estas consciências interagem, uma como ' senhor' e outra como ' escravo'. 

 

Campanha como desejos deve prever primeiro e acima de tudo um continuun entre o desejo dos potenciais eleitores e os desejos dos partidos políticos (e seus cabeças de lista), significa que estes desejos de forma ética e saudável devem fluir e comunicar. Esta dialética entre os desejos dos eleitores e dos partidos políticos não deve funcionar na lógica " Do Senhor e do Escravo ", onde a relação de dependência em benefício do ' senhor', que sabe que não sobrevive sem a presença do 'escravo'. Mas uma relação com base num continuun entre o senhor e o escravo ou melhor, com base num continuun entre o escravo e o senhor, onde o escravo saiba que ele é o centro das atenções e o senhor tenha consciência de si como um bom servidor. Para tal é necessário vencer o sentimento de medo e o silêncio. 

 

O ' Senhor ' pode funcionar como sol, mas não deve esquecer nunca que o ' escravo' é o protetor solar. O desejo do desejo do outro deve ser humanista e saudável, no lugar de desejos tóxicos. 

 

Sir Motors

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