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BCI
quarta-feira, 03 julho 2019 13:47

*Não Adie, Ligue Agora!*

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Em tempos li num texto - sobre a amizade – que um certo amigo disse ao outro que sempre que puder: abrace, telefone e convide. Abrace porque o abraço é a democracia do afecto. Telefone porque telefonar – nem que seja para dizer que está vivo – demonstra quanto a sua existência pode ser importante para os outros. Convide, porque convidar é o exercício da partilha. E partilhar não é o mesmo que dividir. É fazer dono de uma coisa vários. 

 

Ainda o texto e citando um trecho: “Se eu tivesse ouvido esse amigo, talvez hoje pudéssemos sair, tomar uns copos, falar sobre coisas e a vida. Mas a verdade é que nesse momento ele deve estar em algum lugar do planeta a dizer o que pensa a alguém que mereça a sua companhia muito mais do que eu. Não sei se o perdi: Mas será que um dia voltarei a encontrá-lo?” 

 

E se eu tivesse seguido à risca estes ensinamentos talvez não tivesse necessidade de contar o que abaixo e em breves linhas partilho. E faça-o na esperança de que cada um assuma a sua quota-parte de responsabilidades no que lhe disser respeito.  

 

“Em África cada velho que morre, é uma biblioteca que arde!”. Este é um ditado notável e célebre do historiador africano, Hampâté Bâ, que ficou historicamente lavrado e lacrado de forma indelével. Imagine um dia amanhecer com o Arquivo Histórico de Moçambique em cinzas. Ou suponha que furtem o seu laptop que até então guardava todo o seu arquivo audiovisual entre outra e diversa informação relevante, incluindo a sua tese de doutoramento por submeter na noite do dia em que o larápio achou por bem e dolo que o laptop – por arrasto o conteúdo - não lhe pertencia. 

 

O que lhe veio a cabeça é mais ou menos o meu caso por estes dias depois que o ditado de Hampâté Bâ bateu - no último sábado - uma porta muito próxima que é também minha. E numa semana bati mais vezes a porta da “Biblioteca” ardida - do que em décadas. No quintal, à sombra do limoeiro, logo à entrada, tenho tido dias - na mente - de intensas saudades do acervo oral – que sempre esteve disponível – e de que não me dei tempo para a devida consulta. Infelizmente, não estou sozinho. 

 

Hoje reconheço que se eu tivesse escutado Hampâté Bâ teria visitado mais vezes a “Biblioteca” que se foi e com papel e caneta. E teria muito mais para partilhar, tornado as vastas prateleiras do seu acervo em património democrático de todos. 

 

Infelizmente, por mais que cada um tenha ou compre mais tempo, não existirá tempo nenhum para a partilha do que ficou por absorver das “bibliotecas” africanas por conta de afazeres que se revestem - a partida - de importantíssimos e inadiáveis, deixando – a posterior - que a despedida seja de lamentação e não de celebração. 

 

Contudo, acredito que reste uma réstia de consciência suficiente e perturbante e que a partir deste momento cada um - observando as devidas as excepções - possa iniciar e manter, a prazo infinito, um roteiro de visitas às respectivas “Bibliotecas”. A fórmula é simples: Abrace, telefone e convide sempre!

 

Não adie, ligue agora! Evite que o seu telefone toque primeiro e de outro lado da linha, uma voz trémula, fale que a “Biblioteca” – que teimas em visitar - ardeu. E no final da chamada, a voz tremente e já aos prantos, ainda revele: Na noite passada (a “Biblioteca”) perguntou por ti várias vezes. 

 

Saravá “Bibliotecas” Africanas! 

 

PS (i): Na passada segunda-feira, disse a adeus a uma “Biblioteca” da família e de amigos, em particular os do Bairro 25 de Junho (Chopal). Na despedia do Tio Dias (a biblioteca que partiu) – um homem de elevada cultura de cidadania - lembrei-me de um dia, em 2013/14, ele ter questionado a prioridade governamental em instalar uma linha o Metro de superfície como uma das soluções na ligação entre os municípios de Maputo e Matola. Com certa perplexidade perguntou a quem lhe ouvia – um deles era eu - se no Metro i) as Mamanas entrariam com a trouxa dos seus negócios, ii) se o Jovem entraria com o saco de cimento e a chapa de zinco, e iii) se os sacos das compras do mercado teriam espaço. Estes são apenas alguns dos exemplos. E como prioridade, no lugar do Metro, ele recomendou que se investisse num transporte misto de passageiros e carga. E pelo que me consta, cinco/seis anos depois, este tipo de transporte foi equacionado como prioridade pela recente criada Agência Metropolitana de Transportes de Maputo e já existem passos concretos dados. Para mim, concretizado o projecto do transporte misto, este será o “Tio Dias”, seja qual for o nome oficial ou informal. Saravá, Tio Dias! 

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