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terça-feira, 04 junho 2019 06:23

Relaxa, mano Bang

Escrito por

Epa, meu irmão…

 

Bem gostaria, de lá onde Mr. Bow se encontra a comemorar sua vitória, trazer as palavras mais santificadas possíveis; ungidas de fé e baptizadas de uma completa dose messiânica de solidariedade. Gostaria, mas pelo rufar dos tambores alheios na tua noite de fogueira faltam-me quaisquer resquícios de palavras. Toma apenas esta: relaxa.

 

Suponho não estar a dizer nada, mas parte lá do fundo – mais que qualquer poço, nem o vácuo de todo o mundo cabe. Imagina só dali da Major General Cândido Mondlane? Sai-me das profundezas do eu este “segura-te” ou “aguenta-te”, se quisermos cambiar o seu sinônimo.

 

Não tenho muito a segredar-te, meu mano. Também, se inventasse palavras a tua dor, mais do que das famílias enlutadas, seria abismal, sem mais nós por amarrar. Talvez, aqueles jornalistas não ganhassem uma Conferência de Imprensa, mas chutos e pontapés. Por isso, não vou me atrever a sacudir o silêncio da tua dor: relaxa.

 

Mano, eles no fundo não sabem que a principal família de luto é a tua. Tu estás “irritavelmente” morto como aquelas pessoas que se foram. Estás na mesma dose de sumiço. Eles, coitados, isso não calculam pois te vêem “gymado”. Pensam, lamentavelmente, que estás a sair do ginásio. Que estás junto daquelas pessoas ao encontro do Altíssimo não notam. Que forças tens tu para viver, mano? Que garras tens tu para realizar outro espectáculo? Ainda haviam mais crianças sedentas daquele “sonho molhado” e principalmente daquele grito agudo e mais (in)esperado do planeta (achas que não?): o “yeeeh nigaaaa, beng entretenimenti folaifi”. Mesmo assim, anulaste o segundo dia: colocaste um basta naquela brincadeira mais querida pelas crianças, que, podes crer, na noite de sábado, os mal intencionados destruíram.

 

Destruíram a brincadeira mas antes destruíram a ti e a tua família. Vi-te eu, com os meus próprios olhos. Mas já não eras tu. Estavas tão acabado, à semelhança dos perecidos. Os teus músculos continuam entre a tua pele e ossos, mas já nem músculos são. É que a grande família é a tua que se despediu naquele frenesim que se repete, sempre, a 1 de Junho de cada ano, desde que descobriste o jackpot. A tua família são todas aquelas crianças que inundaram aquele pedaço da Costa do Sol. Embora só sobrasse costa, o sol foi a primeira criatura a morrer.

 

Naquela valeta, empurrados, ainda excitados pelo “sonho molhado” tu também entravas, às cambalhotas. As fontes mentem: não entraram ali nove pessoas. São 10 contando contigo. Isso eles não sabem, nem a SERNIC chegará as verdadeiras conclusões. Por isso, irmão: relaxa.

 

Hoje, eles nem tem um pingo de solidariedade para contigo. Acusam-te até das desgraças nas suas vidas, como se fosses o mentor da má educação e da falta de cultura; do desrespeito institucionalizado pelos direitos das crianças e da falta de afecto que muitos pais exibem nas redes sociais.

 

Relaxa, mano Bang.

 

Olhe-os apenas e junta-te a mim nas pequenas questões: és tu culpado se as crianças só escutam houses e pandzas pornográficas no lugar de músicas puramente infantis? És tu o culpado se os pais não sabem em que parque colocarem seus filhos a 1 de Junho e o teu evento é única companhia de diversão? Não, mano Bang. Vem cá, tenho mais que questionar. Fica aqui: és tu mesmo que soltaste as crianças, desgovernadas, de Patrice Lumumba, Matendene, Khobe, a pé, até Aqua Park? És mesmo tu que algemaste os pais e a força escorraçaste-os até aquele recinto mortífero? Nananinanão! Eles quiseram, por isso, como te digo: relaxa.

 

Nunca te vi assim sabe, irmão. Nem pareces tu aquele que aparece dançando com todo o vigor, ultimamente, em vídeos clipes. Não pareces… Ou eles nunca gostaram da Bang Entretenimento (não a empresa, mas aquela febre de há 10 anos), dos espectáculos Time de Sonhos com angolanos escolhidos minuciosamente, do recente Projecto Âncora e, já agora, da Lizha Só Festas. Talvez, não. Este é um pretexto, se calhar, para te cortarem as pernas, que há muito conhecem o caminho do sucesso. O tecido empresarial anda bem gasto (como se de roupa chinesa se tratasse), por isso ninguém se dá por satisfeito quando o outro encontra nas crianças sua solução financeira. Logo, isso é mais “djelass” que outra coisa, por isso, confia em mim – respira e inspira: relaxa!

 

Não minimizo as mortes. Mas olho para a outra “morte”, a sexta. Esta é a tua. Se calhar a pior: o mais terrível é morrer respirando, andando, falando… um morto-vivo é de uma tortura sem dimensão.

 

Relaxa, mano Bang.

 

Não precisa andar em recados contra os teus amigos, acusando-os de perseguição. Sinceramente não precisas… fala com a tua advogada, por sinal também cantora. Ela sabe como organizar as “unhas”, aliás, as coisas. Não te metas nisto. Sei sim que estás a ser cutucado. E esta foi uma vara bem cumprida: cinco pessoas? Mas ela (a advogada) tem os truques de como resolver isto.

 

E digo-te mais: os seguranças traíram-te, irmão. Aqueles sujeitos só se empenham na hora da entrada, onde há boladas de bilhetes. Soube que o número extrapolou. Sabes, aqueles é que são os culpados. Como tu irias controlar isso: contar um a um? Na hora da saída não há bolada. Ninguém paga para sair, muito pelo contrário. Por isso os seguranças devem ter deixado as pessoas pisarem-se como bem quisessem. Estavam já a degustar do dinheiro que te roubaram ao aumentar gente fora das tuas contas. Isso eu não vi, é mesmo uma grave especulação. Mas tu sabes que houve um momento da minha vida que eu só andava em espectáculos e conheço bem esses corredores.

 

Nesse instante, julgo eu, estavas no camarim a celebrar com uma moet chandon de primeira linha, junto com os teus putos. Para ti o show já tinha terminado. Estavas a relaxar. Como saberias que já era hora do sangue actuar?

 

Cá para os meus botões não  tens culpa nenhuma, mas se fores responsabilizado, o mais provável, arque com as consequências. Mas depois, por favor não me desaponte, pegue na mão da mana Lizha e suma do mapa. Leva junto a tua filha, o trauma deve ter sido pior para ela: saber que os seus irmãos morreram na festa dela não é de se esquecer com um sorvete. Vá onde quiseres, sobrará com certeza dinheiro para isso. Mas atenção, tem de ser bem longe. Fica lá o tempo que precisares, até renasceres. Infelizmente os outros não irão voltar contigo, mas pelo menos terão servido de lição para que a criança não seja um mero instrumento de satisfação financeira.

 

Quando voltares… ah, voltas em dívida: os que compraram o bilhete do segundo dia, permita-lhes ouvirem um contador de estórias, um xithokozelo, uma música de Fernando Luís ou dos Panda e os Caricas (já que a febre de importação é tanta). Qualquer coisa, mano, só diminua aquelas manas com ceroulas e minissaias.

 

Mas, por favor, trata disso depois. Por enquanto relaxa. Nem este texto não te escuses a comentar, até porque é parte das tentativas de te derrubar.

 

Relaxa, mano Bang.

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