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terça-feira, 19 março 2024 10:26

Moçambique: Preferência pela ditadura?

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“Se fores ao novo Município da Matola-Rio questionar aos Munícipes de lá, logicamente, dirão: “estávamos bem sem a municipalização”, tal é o desencanto com aquela instituição democrática. Mas se fores à cidade de Chimoio fazer a mesma pergunta, a resposta será certamente oposta. O mesmo pode acontecer com os munícipes da Beira, que dirão, certamente, “valeu a municipalização”. A minha questão é ao nível da Organização dos Municípios, pois não se faz estudo de bons casos e de maus casos! Espero que a desilusão não me bata à porta!”

AB
 
Fiquei muito curioso quando abri a “Carta do Dia”, edição nº 1324, de 18 de Março de 2024, na primeira página, secção de política, com o título “Índice de desenvolvimento humano caiu nos últimos 10 anos”. Na mesma secção (política) vem outra matéria que diz: “aumenta preferência pela ditadura em Moçambique”, segundo o Relatório do PNUD de 2022, publicado na última sexta-feira, 15 de Março de 2024.

Devo destacar que tanto o IDH – Índice de desenvolvimento Humano como a preferência dos moçambicanos pela ditadura são da lavra do PNUD – Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento, uma instituição credível, até provas em contrário, até porque tem estado envolvido no apoio humanitário em Moçambique, pelo que estou em crer que não existe nada de mal nas suas constatações. Vamos por partes:

Índice de Desenvolvimento Humano caiu nos últimos 10 anos: se estivermos atentos ao desenvolvimento humano em Moçambique, esta cifra não surpreende, pode até surpreender pela positiva, pelo facto de ter subido três graus, mas logo vem a explicação desse facto, não tanto por mérito de Moçambique, mas por demérito da Serra Leoa, Iémen e Burkina Faso. O mau desempenho destes três países permitiu que Moçambique estivesse onde está hoje.

Não sendo propriamente novidade que o nosso Índice de Desenvolvimento Humano tende a cair, posso estar equivocado, mas parece-me haver pouco desempenho, no sentido de sairmos desse estágio. É que, segundo esse Relatório, Moçambique é o 11º pior país para se viver dos 193 países avaliados pelo PNUD. Isto não abona para os moçambicanos e pode ser o péssimo cartão-de-visita para o país. A questão é: afinal o que se passa na nossa Pátria Amada!

A segunda parte e mais curiosa é a preferência dos moçambicanos pela ditadura e aqui impõe-se uma reflexão séria sobre todas as nossas instituições democráticas. Quando os cidadãos inquiridos dizem preferir a “ditadura” algo de grave estará acontecendo entre nós. A questão é: o que será! A primeira coisa que me salta à vista é a forma como tem decorrido o processo eleitoral, com destaque para as eleições Autárquicas de 2023. Pese embora o Relatório se refira a 2022, isto pode significar que o próximo será pior em termos de rejeição da democracia em Moçambique.

Vejamos e analisemos os dados disponibilizados pelo PNUD. Os dados indicam que, dos inquiridos, 33,2% são pro-ditadura e 48,7% são pro-democracia. Em dados recentes, no entanto, a mesma instituição diz que, em 2018, a percentagem dos pro-democracia estava em 57;2% e que em 2021 o número baixou para 48,7%, ou seja, o interesse pelas instituições democráticas decresce a cada dia e a cada ano que passa. Essas instituições tornam-se irrelevantes para os moçambicanos.

Curiosamente, na quinta-feira, antes da publicação do PNUD, publiquei uma reflexão cujo título é “Assembleia da República: não dignifica!” Na reflexão, destilei as razões que me fazem dizer que a Assembleia da República não nos dignifica e, nas redes sociais, muitos internautas dizem que “a Assembleia da República nunca os representou” e o PNUD traz-nos este presente antecipado das eleições de 09 de Outubro de 2024. O que poderá significar isto!

Isto, na minha opinião, revela que as instituições democráticas moçambicanas, no seu todo, são irrelevantes e aqui pode significar que os partidos políticos moçambicanos não são dignos de nos representar nos diferentes órgãos de democracia. Por outras palavras, não vale a pena eleger o Presidente da República, pois os problemas continuam ou pioram. Não vale a pena eleger os Deputados da Assembleia da República, pois, eles não nos dignificam e tão pouco nos representam. Não vale a pena eleger as Assembleias Municipais, pois não resolvem nada daquilo que se espera deles, antes pelo contrário, preocupam-se em resolver os seus próprios problemas, recorrendo à extorsão ao povo. Veja-se o caso do novo Município da Matola-Rio, que entra com taxas exorbitantes para a regularização dos terrenos, das construções com as ameaças pelo meio!

Quem diz o Município da Matola-Rio diz todos os Municípios. São excepções casos em que, realmente, os Municípios resolvem os problemas dos seus munícipes. Destaque vai para dois Municípios, na minha opinião, que é Chimoio e Beira, o resto, desculpem-me, não me parece que estejam, efectivamente, interessados em resolver coisa alguma, por isso mesmo também a ideia de que o voto não vale para nada. Sendo assim, que fique perpetuado quem está no poder. Votar para quê!

 Adelino Buque

Sir Motors

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