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BCI
segunda-feira, 15 abril 2019 06:53

O pesadelo do vampiro

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Bateram à porta com violência. Foram três pancadas de rajada que pareciam o matraquear de uma AK-47 disparada para aviso. O homem assustou-se. Levantou ligeiramente a cabeça do travesseiro e perguntou-se a si mesmo, mas o que é isto!? Bateram outra vez, na mesma cadência. Com a mesma intensidade bruta. E agora percebeu que na verdade estava alguém lá fora. Olhou para o relógio, eram duas horas da madrugada e lembrou-se, uma pessoa que te procura à esta  hora é para te matar.

 

Ergueu-se da sumptuosa cama e enfiou os pés nos chinelos de veludo para pisar o chão coberto de veludo também. Veste pisajamas de fino tecido trazidos de Dubai por uma pessoa elegida entre os amigos. Não sabe se abre a porta do quarto para avançar até à sala, ou espera ali mesmo. Pelo que vier. Está como medo. Treme até ao interior do coração que bate a rítmos elevados. Está lívido como um cadáver, com a diferança de que o coração do morto já não bate. E ele está vivo.

 

À memória descem-lhe as lembranças de que em toda a sua vida nunca ninguém ousou bater-lhe à porta daquela forma, nem os guardas mais confiados. Passam vinte minutos da última pancada e ainda não se ouviu mais nada. Há um silêncio perturbador. O mais estranho é que para além dos sentinelas que guarnecem a casa, ele ainda  tem quatro cães boerbull, usados na África do Sul para defenderem as farmas dos brancos, mas que ele mandou comprar para protegerem à ele. E como se tudo isso não bastasse, tem o muro electrificado.

 

O telefone vibrou na mesinha de cabeceira e o homem agora feito personagem pelo próprio diabo, reconheceu o número que sobressaía no ecrã. Era o chefe dos capangas. Atendeu imeadiatamente e perguntou cheio de medo, o quê que se passa, chefe? Do outro lado a voz era tremedamente calma, Excia, abre a porta!

 

Ele é uma pessoa inteligente. Percebe que as coisas já não estão sob seu livre arbítrio como estiveram até bem pouco tempo quando gritava do cume e todos lhe obedeciam. Sabe que está sozinho  e que não lhe resta mais nada senão descer a montanha rumo ao sopé, lugar que sempre desprezou. Ultimamente quando pega no copo para beber qualquer coisa a mão treme. Não tem apetite. Quando lhe perguntam o vai comer, ele responde que não quer nada. Insistem e acaba dizendo com os lábios a  tremer, qualquer coisa serve.  Agora bebe para espantar a terrível ansiedade que o medo cria, contrariando os tempos em que o soba era ele, quando bebia para gozar. A vida.

 

- Excia, abre a porta!

 

Abriu, rendido, e no lugar de ter à sua frente a pessoa que lhe falava, viu vigorosos cabos de aço movendo o elevador que descia. Vertiginoso. Gritou aterrorizado e a mulher acordou-lhe perguntando, o quê que se passa?

 

- Estava a sonhar

 

- Sonhar! Isso é um pesadelo, amor!

Sir Motors

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