Um amigo recém-chegado das províncias contou-me da turbulenta experiência de tomar um café e a de passar em revista alguns periódicos num café da Av. Julius Nyerere, a parisiense ChampsÉlysées da Cidade das Acácias. O motivo: a poluição sonora soberana e conexa.
Mal ele chegara ao café, e ainda na matinal solenidade dos cumprimentos, as sirenes da Ponta Vermelha interromperam a fala da cortesia. “Ainda não é nada Boss”. Era a voz do servente que o atendera e que decidira intervir diante dos sinais de estupefação do seu mais recente cliente.
Depois da ordem do pedido: uma outra sirene, um outro órgão de soberania. Com a chegada do café: idem. No decurso do manuseamento do adoçante: ibidem. E assim sucessivamente até que ele, penosamente, terminara o café.
Pelas suas contas todos os órgãos de soberania já haviam desfilado na passerelle e de que chegara, finalmente, o momento para a sua habitual leitura matinal. "Boss, agora é a vez da Segunda Liga Sonora”. E da passerelle, o desfile sonoro de outros timoneiros da governação nacional e municipal.
Do pouco que o amigo conseguira ler dos periódicos, uma das notícias reportava sobre o impacto sinistro, entre outros males, da corrupção, da falta de transparência e do défice de comunicação pública na governação do país e na vida do cidadão.
"A conta". No decurso do seu pagamento, o amigo visitante, que enquanto mostrava ao solícito servente a notícia acima, segreda-o: "Por conta disto era suposto que eles passassem de fininho".
Nando Menete publica às segundas-feiras