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terça-feira, 19 dezembro 2023 13:41

Falsa promessa

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Fui arrebatado por uma leveza, depois de consumado o coito, olhei, candidamente, para a minha parceira, e ela ofereceu-me um sorriso matreiro. Acariciámo-nos, permanecíamos ali estendidos dentro da nossa nudez, deitados de costas para a vida, no colchão macio, que suportava o peso do nosso prazer .

 

Depois de um prolongado silêncio, quebrado de vez em quando, pelo meu arfar, ela balbuciou, de mansinho:

 

- Quero mais!

 

- Mais o quê? – questionei, incrédulo.

 

- Quero que me comas outra vez - ripostou ela impassível

 

- Oh, querida, terminamos agora - defendi-me.

 

Beijei-a, longamente, para compensar a sua insatisfação. Deixei-lhe de costas e procurei adormecer. Ela ainda sussurrou mil palavras de amor, antes de eu embarcar no meu sono.

 

Despertei, quando o meu braço descobriu a ausência dela na cama. Não me lembro se sonhei. Espreguicei-me, antes de abrir completamente os olhos. Busquei-a por cada canto do quarto, e nada. Levantei-me preguiçosamente, vesti as cuecas e saí do quarto.

 

Encontrei-a a preparar o pequeno-almoço, abracei-a, as suas costas contra o meu peito depois beijei-a, ela continuava completamente nua. Meimuna soltou-se levemente e caminhou em direcção ao quarto de banho, deixou o seu odor impregnado na cozinha . Nem o cheiro dos manjares em preparo ofuscavam a sua fragrância excitante.

 

Segui-a. Redescobri-a, através do envidraçado translúcido da banheira. Engoli a sua nudez e entesei-me. Penetrei na banheira, afaguei-lhe as costas contra o meu peito, senti o seu arfar, minhas mãos seguraram-lhe os seios.

 

Trocámos carícias. As minhas mãos viajaram pelos contornos do seu corpo, até acender o fogo das nossas entranhas. Depois, ela inclinou-se ligeiramente para a frente, levantei-lhe a perna esquerda e apoiei-a na borda da banheira, seu rabo abundou minha região pélvica, penetrei-a suavemente, ela libertou um gemido que me encheu de prazer. Vigiei, durante certo tempo o seu êxtase pelo número de gemidos que ela emanava. Depois perdi a conta, quando a volúpia tomou conta de mim, já gemíamos em uníssono.

 

Depois de extasiados, sentámo-nos à mesa, para desfrutar dos manjares, saboreei um pedaço de mandioca cozida com manteiga, e beberiquei o meu chá Gurué ainda quente.

 

O toque do meu telemóvel soou no quarto e quando me predispunha a alcançá-lo deixou de soar. Então, o som de entrada de uma mensagem de texto fez-se ouvir. Apressei-me a terminar o pequeno-almoço, e fui buscar o celular. “Tou chegar” lia-se na mensagem enviada pelo taxista que eu amiúde recorria para visitar Meimuna. Já passava das 10h da manhã e meu voo estava marcado para às 11h30.

 

Vesti-me precipitado, ela ajudou-me a arrumar a bagagem, ficámos ambos aguardando a chegada do taxista. Despedia-me dela, com um beijo prolongado e entrei para o táxi.

 

O taxista imprimiu velocidade ao seu veículo, contornou todas as curvas do bairro, com perícia, na corrida que fazia para chegar a tempo ao aeroporto.

 

Precipitei-me numa correria, para alcançar o balcão do check-in, que estava prestes a encerrar. Logo depois embarquei.

 

A aeronave despegou-se do solo e entranhou-se nos céus. Senti momentaneamente saudades de Meimuna.

 

A minha longa estadia na cidade de Nampula, com o propósito primário de fazer prospecção de mercado para posterior investimento teve resultados positivos. E para incentivar minha permanência na cidade, conheci Meimuna.

 

A viagem de pouco mais de duas horas estava quase no fim. A aeronave iniciou a descida em direcção ao aeroporto internacional de Maputo.

 

Desembarquei, recolhi a minha bagagem e caminhei em direcção ao átrio do aeroporto.

 

- Seja bem-vindo, meu amor!  Clamou Júlia, minha esposa.

 

- Olá, pai!  Cumprimentou a minha filhota de cinco anos.

 

Precipitámo-nos em direcção à casa, numa marcha lenta, condicionada pelo tráfico típico de Maputo. Minha filha disparava mil perguntas sobre a minha estadia em Nampula. No semblante de Júlia podia-se notar a felicidade que sentia por eu estar de volta. Foi um mês de ausência ditada pela imposição laboral.

 

Entrosei-me com a família numa animada brincadeira, por vezes com gracinhas oferecidas por Cármen, minha filha, outras vezes com carícias a minha esposa.

 

O meu calor emprestou à casa o ambiente masculino, deixando o lar coberto de uma redoma de paz.

 

Jantámos cedo, levei Cármen para o seu quarto, abri o seu livrinho de estórias, li com entusiamo, não demorou a adormecer.

 

Recolhi para o aposento conjugal e encontrei minha esposa trajando lingerie vermelho novo que lhe assentava no corpo, de forma majestosa, arrebatando completamente o meu ser. A luz das velas projectava o seu corpo numa das paredes do quarto animando mais o ambiente íntimo.

 

Segurou-me e conduziu-me à cama, acariciou-me, retribuí beijando-a. Olhou-me, com meiguice, despiu-se e deitou-se de costas na cama. Meus olhos vagaram pelo seu corpo. Também despi a peça de roupa interior que trajava e nu abracei-a. Continuámos a acariciar-nos. Percebi que minha parceira usufruía de volúpia quando segurou meu membro viril.

 

Quando entendi que meu falo não reagia aos estímulos proporcionados pela minha esposa, levantei-me e servi uma taça de champanhe. Depois de consumir três taças num trago, voltámos a trocar carícias. O falo recusava-se categoricamente a falar o que quer que fosse. Ela tentou todas as formas que conhecia para me proporcionar uma erecção, mas nada, nada mesmo!

 

Quando percebi que não tinha como ganhar uma erecção, aleguei que a viagem e o excesso de trabalho me conferiam aquele estado. Da nossa relação marital de pouco mais de dez anos era a primeira vez que algo do género acontecia.

 

Embebedei-me, para resgatar a auto-confiança que pudesse conferir-me o domínio e logo encontrar o estímulo para concretizar o coito. Nada acontecia. Senti-me desfalecer e horas depois, quando despertei, o sol já brilhava. Senti uma ligeira dor de cabeça. Olhei para o relógio, já se passavam das 10h. Minha esposa já tinha saído para o emprego e levado a minha filha à creche.

 

Precipitei-me nos preparativos, para ir ao meu posto de trabalho. Tinha uma reunião com os meus superiores. Momentaneamente a minha mente projectou a imagem de Meimuna, com todos os atributos femininos típicos daquela criatura extasiante.

 

Voltei à realidade, e lembrei-me do meu acto desastroso na noite passada, clareei a mente, e parti para o trabalho.

 

Levei a reunião a bom porto com a apresentação do relatório.

 

Já meio aliviado de trabalho, avancei em cogitações, para descortinar a disfunção eréctil da noite anterior. Hospedei-me num café da cidade. A manhã ia sendo consumida pela azáfama da urbe, com múltiplos sons de carros em suas correrias desenfreadas, à mistura com as sirenes de escoltas tentando romper o congestionamento de trânsito.

 

Mais uma vez, o rosto de Meimuna assaltou a minha mente. Desta vez ela apresentava-se trajando uma capulana multicolor e tinha o semblante mascarado com msiro¹. Desnudei-a quase telepaticamente, entesei-me, esbocei um sorriso de satisfação, afinal não era nada de grave.

 

Podia procurar compensar a Júlia mais logo.

 

O som polimórfico do meu telemóvel fez-se ouvir e na pequena tela surgiu o nome Dr. Amaral Muende, o cognome que havia atribuído a Meimuna.

 

- Anselmo você tesde que jegou não tiz nata, esdou com muiida sautate – rematou ela, eufórica, catapultando o seu sotaque emakwa².

 

- Olá, querida, muito trabalho aqui – repliquei, animado, por ouvi-la

 

- Quanto vens endão faser apresentação e petito? – lembrou-me da promessa que a fizera.

 

- Deixa-me terminar o trabalho por cá e logo venho – ripostei, para acalmá-la.

 

-Está pem, amor, peijo.

 

Senti no tom da sua voz a felicidade que a minha promessa fizera, mas que eu não tinha nenhuma intenção de cumprir.

 

Agora, cogitava na minha intenção de proporcionar a Júlia uma noite recompensadora, depois do desastre da anterior. Minha esposa foi tomada de dupla surpresa. Fui encontra-la, no seu trabalho, ofereci-lhe um buquê de rosas e tulipas. Comentários abonatórios foram disparados pelos colegas. Vi um largo sorriso moldar o seu rosto. Isto era só o introito da missão compensadora que eu tinha para ela.

 

Rumámos por uma via desabitual, enquanto o aparelho sonoro do carro reproduzia uma música romântica.

 

- Para onde vamos, amor? - questionou Júlia animada.

 

- Espera, para ver.

 

Vislumbrámos a fachada principal do hotel “paraíso” de quatro estrelas, quase em simultâneo.

 

Entreolhávamo-nos e ambos sorrimos. Era o hotel em que tínhamos passado a nossa noite de núpcias.

 

Alcançámos a recepção. Solicitei a chave do quarto cinco, o mesmo da nossa noite de lua-de-mel. Caminhámos de mãos dadas. O mobiliário rústico do quarto emprestava um ambiente íntimo. Tomei a iniciativa, despindo-me, minha parceira imitou-me, avancei com os preliminares, procurando criar o clímax necessário.

 

A minha manifesta vontade de materializar o coito redundou em mais um fracasso, o meu membro viril recusou-se mais uma vez a desafiar a força da gravidade e posicionar-se na horizontal.

 

- Isso acontece, meu amor! - afirmou Júlia procurando acalentar o meu espírito atormentado.

 

Desisti da minha empreitada sexual, refugiei-me no bar do hotel, e só depois de suficientemente embriagado é que me juntei à minha esposa.

 

Os dias que se sucederam foram de tentativas de tratamentos convencionais e tradicionais, que redundaram em fracasso absoluto, remetendo-me a uma total depressão.

 

A minha psico-libertação sucedeu, depois de muita insistência de Estêvão, um amigo próximo, para que conversássemos, pois há muito que não púnhamos o papo em dia.

 

Expus-lhe a minha incapacidade de levar a bom porto a cópula com a minha parceira.

 

- Desde que voltei da minha última viagem de Nampula, que não consigo nada. Relatei,

desabafando.

 

- Diz-me o que aconteceu lá. – Questionou curioso, Estêvão.

 

-Nada de especial, conheci uma macua, e tive uma relação amorosa.

 

- Oh, ohh! – meu amigo, aí poderá estar a causa do mal – Ela poderá ter-te engarrafado.

 

- Não acredito nisso – rematei, pouco convicto – Claro que lhe prometi que me casaria com ela, mas não passava duma falsa promessa.

 

- Meu amigo, um conselho, volta para lá, e resolve o assunto com essa mulher.

 

Aventei a possibilidade de rumar de volta a Nampula, não custava tentar, custaria sim a passagem aérea e a estadia, para tirar a limpo o pressuposto avançado pelo meu amigo.

 

Quando a aeronave entrou no espaço aéreo da província de Nampula, senti um movimento estranho na zona pélvica.

 

“Iniciamos a descida em direcção ao aeroporto de Nampula, a temperatura exterior é de 27 graus Celcius”. O comandante desacelerou a aeronave, baixou a altitude, o sinal de apertar os cintos acendeu, a assistente de bordo emitiu o pedido de apertar os cintos. Continuava tenso e o meu membro viril permanecia erecto. O avião aterrara por volta das17h. A temperatura exterior revigorou-me. Sentia-me um homem completamente novo.

 

- Foltaste padrão! - conferiu o taxista quando me reviu.

 

Entrei para o táxi, que se dirigia em direcção ao hotel onde eu ficara da última vez. Corrigiu-o dizendo-lhe o nome de um hotel de três estrelas onde ficaria desta vez.

 

- Vem buscar-me às 18h- anunciei.

 

Não avisara a Meimuna da minha vinda, queria surpreendê-la. Descansei no hotel, aguardando a hora de visitá-la. Busquei meditabundo uma explicação, para a anomalia que se operava com o meu falo.

 

Encontrei Meimuna submersa nos seus afazeres domésticos.

 

- Ishhh, amor xecaste nem afisaste! - exclamou ela surpresa.

 

Catapultei-me para ela, como que arrebatado por uma força suprema, carreguei-a e a pousei no banco do lava-loiças. Meu órgão genital serpenteou entre as suas coxas até alcançar a vulva, senti suas matunas³ enroscarem meu pénis, um baque forte sacudiu meu peito, ela soltou um gemido.

 

- Ahhh!- libertou-se ela.

 

- Ohhh – repliquei, eufórico.

 

Depois de extasiados, ela perguntou-me:

 

- Vais me cazar?

 

-Sim caso-me, sim – redargui completamente relaxado.

 

¹ m’siro- No Norte de Moçambique e principalmente na Ilha de Moçambique, as mulheres usam diariamente uma pasta branca no rosto, uma máscara de beleza natural.

² emackwá– língua falada na província de Nampula

 

³ matunas – alongamento do clítoris efectuado pelas mulheres do centro e norte de Moçambique.

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