Tudo o que vou dizer aqui, pode parecer repetitivo, mas a vida é isso mesmo, um eterno recomeço. Estaremos sempre nesse ciclo sem fim, procurando a perfeição, ou seja, parafraseando o poeta Kalungano, a perfeição é como o sol, quanto mais nos aproximamos dele, mais ele se afasta. Mas é aí onde mora a beleza da existência do homem, que não cessa de procurar a luz.
Pois é! Eu não sei exactamente se a arte é a luz em si, ou é um simples interruptor. O que sei, porém, e não terei dúvidas sobre isso, é que sem a arte jamais seremos alguma coisa. O próprio ser humano é uma obra de arte. O universo, dentro do qual correm os rios e os mares e reverberam as cores do arco-iris e ouve-se a música dos pássaros, tudo isso é uma obra de arte, então significa que esta exposição que se estende diante de nós, vem nos lembrar o valor da arte e dos artristas que a corporizam.
“Geração Wagaya” não pode ser apenas um slogan, é mais do que isso, é um grito. É um rito. “Geração Wa Gaya” é poesia. E o poeta não se cansa de voar, nem que as pessoas não se importem com a leveza insuperável das suas asas. O artista plástico é igualmente assim, ele não espera. Plana constantemente. Você é que tem de esperar pelo comboio, nem que a espera seja longa. E vai ser um regalo contemplar estas obras todas que nos são aqui presentes, passando por elas, mais a alma do que olhos.
Sim, é necessario voltar a dizer que aqui neste estendal temos pintura, escultura de madeira, cerâmica e desenho, tudo isso amanhado por mãos delicadas que tratam os materiais como se acariciassem a parte mais macia da mulher. Ou ainda, mesmo quando o artista usa o formão ou o martelo para fazer com que a madeira respire, fá-lo com amor para que haja orgasmo.
E os nomes dos artistas que nos convocam a este acto de contemplação, de sentimento, de absorção espiritual, devem ser mencionados em voz alta para que sejam conhecidos pelos flamingos que esgravatam as amêjoas aqui mesmo ao lado, na nossa baía. É extraordinariamente cativante ver esses pássaros pernilongos procurando o alimento com as patas. Parecem dançar. Uma dança desconhecida.
Então vamos nomea-los, para que os espíritos se regozigem deles: António Marcelino Costa, Azevedo Munhaua, Adil, Anselmo Razão, Matomo, Nhambo, Arão Buque, Mujime, Sebastião Matsinhe, Amilton Massicame, Nélio Guambe, Lizy Guambe.
São 47 obras expostas numa mostra que orgulha a cidade de Inhambane. Aliás esta é uma das várias etapas de um percurso que começou há mais de dez anos. Quer dizer, os artistas desta terra juntam-se aos finais de ano e exibem os seus trabalhos, também como forma de presentear os turistas e não só, agraciarem os manhambanas vivendo numa cidade que infelizmente está em estado de degeneração histórica.
Recorde-se que nos primeiros cinco anos deste projecto de sonho, havia muita intensidade, mas é preciso manter esse entusiasmo. Exposições desta natureza serão o outro lado dos nossos pulmões espirituais. Queremos continuar a respirar.
Mas para que este movimento não desvaneça, os artistas, mais do que nós outros que só estamos aqui para apreciar e sentir a leveza e profundidade de uma obra de arte, precisam de um incentivo impresicindível que é a mola de impulsão e essa mola de impulsão chama-se dinheiro, para que eles continuem a criar. É aqui onde são chamados os mecenas e os próprios dirigentes do Estado, que podiam comprar um quadro e deixá-lo na recepção para que a arte triunfe, e os artistas vivam, mais do que sobreviver.
Estão de parabéns todos os artistas que dão corpo a esta mostra e ao projecto Geração Wagaya.
*Apresentação da exposição “Geração wagaya” a decorrer na cidade de Inhambane, de 12 de Dezembro a 12 de Janeiro, na Casa da Cuktura