Aconteceu naquela noite
Noite espessa de negrume
Sem brilho, sem estrelas
Sem luar, sem vaga-lumes
Almas desnudas, escabrosas
Corpos quentes, voluptuosos
Mentes turvas, embaciadas
Olhos fixos, esbugalhados
Corações enlameados
Almas assassinadas
Respiração ofegante
Penumbra sepulcral
Fumo espesso, asfixiante
Silêncio estridente
Cavalgada estonteante
Sem escrúpulo
Corpo torpe, pesado, senil
Cheiro cadavérico
Garrafas, copos esvaziados
Cheiro pecaminoso, genocida
Respiração pesada, cativa
Alma presa, rodopiante, confusa
Entulhada, violentada por opiáceos
Fumo espesso tragado sem pressa
Expelido sem expressão
Ratos, pulgas, percevejos
Companheiros de opressão
Pobreza destilada no funil
Mal-coado, sorvido vagarosamente
Rato perambula, esquarteja o cabedal encardido, gasto, velho, fedido
Baratas degustam restos inexistentes
Quão fundo é o buraco
Homem esgotado, castigado
Insónia, fome companheiras honradas
Dívidas imensas, infinitas
Escondidas nos charros, loucura
Vida desperdiçada, encurtada
Algemada, corrompida
Desgraça anunciada, queda retumbante!
Sem Jesus!
Acabou-se!