Chegamos à Inhambane por volta das 14, mas esta é uma viagem que vai romper com os nossos nervos. A primeira coisa que fiz ao embarcar – na “Junta” - foi avaliar a expressão facial do condutor e os seus gestos, não tendo mesmo assim chegado a nenhuma conclusão, era preciso aguardar pelos primeiros quilómetros. Calhou-me o banco da frente onde muita gente tem medo de sentar. Acham que em caso de acidente não irão escapar, eu não penso assim. Ninguém conhece de que lado virá a morte.
Até Marracuene parecia que estava tudo bem, mas ao descer em direcção a Bobole perdi completamente a confiança que ia ganhando em relação ao homem – de meia idade – que nos levava num percurso de 500 km ou pouco mais, com muitos perigos estendidos na via. É um declive que convoca todos os cuidados e, para o susto dos que estavam atentos como eu à condução do “driver”, este faz uma ultrapassagem violando grosseiramente as regras e os sinais.
Repreendi-lhe com o olhar e a resposta dele foi de indiferença, desprezou-me, o que cobntribuiu para me enraivecer, porém tive que me conter. Mas dentro de mim todos os barcos da reivindicação já tinham desatado as amarras. Bebi sem parar até ao fim a garrafa de meio litro de água que trazia na sacola colocada por sobre as minhas coxas, à espera do pior.
A partir da Manhiça a morte ruge na estrada em cada quilómetro até Incoloane, e o mais preocupante é que agora o homem do volante não pára de tagarelar, virando-se constantemente para o cobrador que está de pé na porta do veículo, comendo continuamente como um porco e incitando seu companheiro que se ri por tudo e por nada. É uma tripulação que se vai tornando caótica pelo barulho que criam e por se esquecerem que estão a conduzir um carro semi-colectivo com pessoas que não só querem chegar inteiros aos seus destinos, como têm o direito ao sossego e bem estar dentro da viatura.
Na zona da “3 de Fevereio” há três carros à nossa frente e por aquilo que temos vindo a assistir, tenho o pressentimento de que este homem que fala como se fosse a última oportunidade que tem de o fazer, vai fazer das suas e fez mesmo, acelerou e “bateu” aos três numa manobra “in extremis”. De elevado risco.
Então no posto de controlo do cruzamento de Xinavane eu avisei a Polícia sobre o comportamento de quem tinha na sua responsabilidade as nossas vidas, era preciso que eu fizesse qualquer coisa, e assim um dos agentes da autoridade deu-me o seu número na presença da tripulação e dos passageiros e disse: se ele continuar a fazer esse tipo de manobras ligue por favor. Contudo há quem se mostrou contrário à minha atitude e vociferou, “deixa o motorista conduzir à vontade, ele sabe o que está a fazer. Se você não se sente bem neste carro, desce, nós queremos chegar cedo à casa”.
Fiquei com pena de quem falava e dos poucos outros que o apoiavam. Esquecendo-se que a morte é apologista da velocidade e das manobras irresponsáveis. Mas graças a Deus, a partir daquele ponto a viagem tornou-se muito agradável e segura. Desci na Fonte Azul, minha paragem, despedi-me do motorista e seu cobrador, que não corresponderam à minha despedida.