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Maputo -

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terça-feira, 14 março 2023 10:21

Adeus Azagaia, Moçambique chora-te!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

“Nenhum Moçambicano, depois de Mondlane e Samora, viu seu ideário de combate político, de verticalidade e cidadania, ser reconhecido no estrangeiro, tornando-se fonte de inspiração de novas lutas contra a opressão e a marginalização dos povos. Só Azagaia. Ele tornou-se no terceiro grande símbolo da moçambicanidade. Quando a história deste País for reescrita, esta verdade será registada”

 

In página de Marcelo Mosse

 

“No (Debate da Nação) da STV, um jovem questionou sobre a forma como os músicos moçambicanos são tratados, referindo que alguns almoçam com o Presidente da República, fruto das suas intervenções musicais e outros são convocados para a PGR – Procuradoria-Geral da República. Salvo melhor entendimento, o convocado para a PGR eras tu Azagaia, fruto das tuas músicas de intervenção social, fruto da tua verticalidade e de nunca te vergares perante o poder político. Hoje, parece-me que esse poder político pretende, a título póstumo, reconhecer o valor das tuas intervenções. Nunca é tarde, o teu corpo será velado no Município de Maputo, na capital de Moçambique!”

 

AB

 

Quando em vida, não somos capazes de reconhecer as pessoas que muito fazem para que tenhamos uma sociedade melhor, não creio que qualquer homenagem valha a pena. Quando o sistema político te considera pessoa “inconveniente” e, porque faleceste, procura a todo o custo elevar o teu nome a um patamar de quem muito fez pelo País, simplesmente, porque se apercebe que tu eras importante para a maioria, essa acção pode roçar a ridículo!

 

O músico Azagaia, muitas vezes, foi mal interpretado, devido às suas músicas de intervenção na sociedade. Azagaia cantava o País real e, muitas vezes, incómodo para os políticos, sobretudo, políticos no sistema de governação. Mas para o músico Azagaia, todos os políticos eram “farinha do mesmo saco” procurando, sempre, tirar proveito da sua posição. Na verdade, quem não sabe que a oposição na Assembleia da República chumba quase tudo, mas quando se trata de debater sobre suas regalias, a aprovação é sempre por unanimidade. É a isso que se referia ou parte disso. De facto, os políticos são iguais, diferem somente na filiação partidária!

 

O músico Azagaia não cantava para receber elogios dos políticos ou do Governo. Nas suas músicas, Azagaia dava a voz aos pobres, aqueles que, sofrendo bastante no seu dia-a-dia, não sabiam como fazer chegar o choro desse sofrimento a quem de direito. Azagaia foi e será sempre porta-voz desse cidadão, cidadão pobre, analfabeto, subjugado pelo sistema político e sem beira e nem eira. Por isso, o povo chora a partida prematura do músico Azagaia, que nos deixa aos 38 anos de idade, uma fase em que ainda tinha muito para dar ao País.

 

Azagaia! Tu não morrerás jamais. Tu fazes parte do pequeno grupo de gente que pura e simplesmente não morre porque a semente que deixaste na terra é de tal sorte boa e alto grau de germinação que, não tardará, dará frutos e, no caso do Azagaia, os frutos esperados é o sentido de que a LUTA DEVE CONTINUAR até que haja justiça em Moçambique. A Luta deve continuar até que os recursos de que Moçambique é prenhe sirvam para todos os moçambicanos e não para meia dúzia de pessoas que se acham donos de Moçambique!

 

Moçambique é de todos nós, as suas riquezas, quer do solo ou do subsolo, pertencem a nós todos e por isso deve haver justa distribuição da mesma, através da criação de condições básicas para o desenvolvimento do País. Vista na perspectiva individual, a semente que deixaste irá germinar e dela colheremos bons frutos. Os jovens não irão aceitar a pobreza como destino “divino”, os jovens não irão aceitar a subjugação porque já sabem os seus direitos. Mais do que exigir emprego, irão exigir que a exploração de recursos naturais de Moçambique seja justa, transparente e distribuída de forma equitativa. A sua semente é prolífera Azagaia e de alto poder germinativo!

 

Hoje, terça-feira, 14 de Março de 2023, o povo irá despedir-se de ti, no Paços do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, local onde, eventualmente, nunca foste bem recebido e bem tratado como cidadão. Entretanto, a cedência desse lugar para a última homenagem mostra que os seus detractores se vergam perante si, aqueles que um dia te prenderam, hoje, sentem-se, eles próprios, pequenos perante a sua imagem e suas palavras. Aceite um Adeus Azagaia, Moçambique chora-te, mas o melhor choro será imortalizando as suas ideias, transformando-as em actos objectivos e concretos, a bem da sociedade e por uma sociedade onde o homem não explora o outro homem. Como dizia Samora Machel, “abaixo exploração do homem pelo homem” independentemente da sua origem, raça, classe social, religião etc. Adeus Azagaia.

 

Adelino Buque

 

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