Em Memória de Edson da Luz (Azagaia) (1984–2023).
Sei que teu sonho sempre foi
Povo no poder um dia ver
Sei que tua luta sempre foi
Teus irmãos sustento e comida suficiente ter
Povo no poder, hoje sem poder!
Sei que pelos teus irmãos lutaste
E contra As Mentiras combateste
Para que sua Babalaze não fosse de tentação
Mas de extrema revolta contra a fraternal exploração
Da tua amada terra que hoje pranteia endividada e em chamas
Povo no poder, hoje sem poder!
Sei que pelas tuas amadas irmãs
Versos e cantos diversos grafaste
Para que seu real e maior tesouro
Não fosse apenas capulana em seu corpo envolto
Ou em uniões promíscuas com estrangeiros
Mas a pujança das mamanas dos mercados e machambas
Que como Josina, embora sem Machel,
Vergam as mãos e lutam para a miséria vencer!
Povo no poder, hoje sem poder!
Sei que muitas Mentiras da Verdade em vida ouviste
Sobre Mondlane, Urias, Samora e até Dhlakama
Cujos detalhes ainda hoje somente jazem
Encriptados em cavernas dos deuses da governação!
Sei que continuarias a escrever
Sobre as desgraças de Matalane e Ndlavela
Esboçadas em espaçosos escritórios
Com carimbos de conhecidos grandes chefes
E em motéis implementadas à luz de vela
Cujas sequelas ainda hoje entre nós ressoam
Mesmo assim, similar aos tantos casos de rapto,
De mulatos, monhés e nossos irmãos em Cabo Delgado,
Enterraram-se as provas da real investigação!
Sei que continuarias a escrever
Sobre o patriotismo de Cardoso e Siba Siba
Cujos pormenores ainda se encontram algemados
Em conhecidas Procuradorias e Tribunais
Similares à tenda das revelações das dívidas semi-políticas
Escoltados por famigerados Esquadrões da Morte!
Sei que continuarias a escrever
Sobre os nossos vastos e raríssimos recursos
Que apenas ao povo favorece em vazios discursos!
Sei que continuarias a escrever
Sobre o nosso abundante Petróleo e Gás
Cujos benefícios apenas nos chegam
Em agabinetados relatórios e páginas de jornais!
Sei também que continuarias a escrever
Sobre os dados das nossas adoentadas eleições
Cujos resultados são em conluio e politicamente aprovados
Em rodas monetárias secretas, carimbados debaixo de lençóis!
Sei ainda que um dia havias de escrever
Sobre as nossas famosas três refeições
Que de Roma em nossas telas invadiram
Suplantando casos de crónica e aguda desnutrição
Que também se vê em nossa saúde e educação
Espalhados pelos cantos desta Pátria desleixada
Que caminha ao ritmo de teoria txova xitaduma!
Ainda sim, sei que também sabes
Que o verdadeiro aroma destas três doações, aliás refeições
Somente ao de longe pobremente sentimos
Em pátios de indivíduos muito bem partidarizados!
Sei que continuarias a escrever
Sobre a nossa tão desgastada educação
Em Labirintos intencionalmente desenhada
Para deformar a tua e Minha Geração
Ensinando-a o ABC das Mentiras da Verdade
Que manterá este povo muito longe do poder!
Mesmo assim, sei que ainda sonhas um dia ver
Esta nossa juventude não mais adormecida
E como verdadeiros Soldados da Paz, desentorpecida
Rumo à marcha da revolução democrática!
Sei também que um dia quererás ver
E em páginas de jornais grafadas um dia ler
Quanto nossos heróis de libertação nacional
Que o povo finalmente ganhou coragem
E diante de todos matou o individualismo
Para juntos e como Nação, dar à luz ao associativismo
Que conduzirá este tão sofrido povo ao poder!
Povo no poder, hoje sem poder!
Sei também que sonhas com um dia
Em que a consciência patriótica e nacional
Triunfará sobre os deslizes do estômago individual
E a tinta que a cada quinquénio nossos polegares suja
Finalmente conceberá o tão aguardado milagre
De o povo colocá-lo no poder!
Sei que ainda sonhas com um dia
Em que esta demo que chamamos cracia
Finalmente estará a favor do teu povo
E através de Testemunhas Alternativos
Derrubará os Cães de Raça da Maçonaria
Que Vendem o País com Memorandos de Entendimento
Que nos fazem calar e sequestram a revolução
Para desenhar uma nova estratégia da Nação
Que levará este povo ao poder!
Povo no poder, hoje sem poder!