Passa um ano que uma das mentes hodiernas das artes, letras e caneta calou fisicamente para sempre, deixando para trás um eterno vazio no seio dos moçambicanos. Juma Aiuba foi jornalista, activista e cronista cuja escrita e voz ainda penetram pelas nossas consciências, clamando por um texto seu face aos diversos fenómenos sociais que ultimamente assolam a Pérola do Índico. Com seu estilo humorístico e iluminante, deixou-nos no dia 24 de Fevereiro de 2021, instalando para sempre um enorme vazio nesta sociedade carente de mentes iluminadas e íntegras.
Há dias, acompanhava a audiência do ex-presidente da República, Armando Guebuza, e atentamente ia anotando as suas declarações e a dado momento parei e comecei a folhear o livro Co’ licença, tendo chegado à conclusão que estamos diante de um profeta que muitos não percebiam. Na rápida releitura do livro, dois textos chamaram-me atenção: "o calote da dívida": afinal, este filme tem ou não o "Chefe dos Bandidos"? e o texto o "boato patriótico".
Naquele momento, pensei na possibilidade de os mortos terem um espaço para interagirem com os vivos que sentem saudades deles. Imaginei que o mundo à tua volta terá conspirado contra ti e os moçambicanos que seguiam a tua agradável reflexão e escrita, por não teres tido a oportunidade de viver até que completasses a tabela periódica do Nhangumele. Por não teres acompanhado o cota Guebas a confirmar suas reflexões. Por não poderes escrever sobre este filme que parece de facto, até aqui não ter um chefe dos bandidos assumido – até alguns parece terem sido removidos os cérebros daquilo que defenderam entre 2013 até a detenção de Chopstick!
Naquele momento percebi que o destino foi injusto contigo e com os teus admiradores, porque precisavas terminar a sua obra, entre elas um livro sobre o julgamento das dívidas ocultas. Só tu, Juma, nos poderias ajudar a entender aquela tragicomédia que se vive naquela "tenda dos sem vergonha", embora parte dos teus textos respondam sobre várias questões do julgamento. Tuas crónicas ainda nos explicam sobre como Moçambique está a ser gerido em textos como "um país que não processa” e "Sua Excelência Indivíduo-Quê". Lendo os trechos destes textos, percebe-se que Juma era um Aristóteles africano e com conhecimento aprofundado sobre o seu povo.
Acredito que muitos que te desdenhavam naquela altura devem estar a sentir saudades de ti e vontade de lerem algo escrito por ti sobre toda "cagada" que somos obrigados a consumir diariamente. Fico imaginando entre os botões como seria a tua análise sobre o assunto dos conteúdos da sexualidade e da homossexualidade no livro da 7ª classe de Ciências Naturais.
Sobre o pedido do boss em Bruxelas para que os antigos colonizadores financiem a educação dos africanos. Acerca do barulho da Expo-Dubai. Sobre o suposto carro roubado nas terras do rand que o SERNIC diz ter encontrado no quintal do "boss da CTA". Sobre o fight de Xinavane. O impedimento do mano Mané pedalar na cidade que o viu nascer e que gere – só tu Juma poderias explicar isso e ajudar-nos a rir desta desgraça que nos persegue.
Infelizmente, o mundo é um lugar passageiro, onde temos de obedecer a lógica do destino e dos mandatos divinos e naturais, mas como escreveu Mia Couto a seu respeito – Juma Aiuba cumpriu com coragem uma missão espinhosa: criticar a hipocrisia viciada de muitos dos nossos costumes. Precisamos de ter mais Jumas!
Descanse em paz, Maitololo!