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quarta-feira, 01 agosto 2018 14:42

Os contornos da saída de Mateus Magala da EDM para o BAD

Ha pouco mais de duas semanas, no passado dia 16 de Julho, o Presidente da Republica Filipe Nyusi recebia em Cabo Verde o boss do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) Akinwumi Adesina. Era a derradeira cartada do BAD para levar de volta um quadro que havia emprestado ao seu pais de origem e que em menos de 3 anos alterou profundamente o paradigma de governação corporativa de uma empresa participada pelo Estado, a EDM, introduzindo nova cultura organizacional e uma gestão virada para resultados.


Mais do que promessas, Magala fechou algumas torneiras da corrupção e eliminou perdas nos fluxos financeiros, levando a EDM a reduzir substancialmente sua divida com a HCB. Em apenas dois anos, como ja foi divulgado, as receitas da EDM passaram de 150 para 500 milhões de USD, com previsões a apontar para 1000 milhões de USD em 2020.

Quando ontem começou a circular um comunicado do Grupo BAD anunciando que Magala iria assumir, a partir de 1 de Setembro, o cargo de Vice-Presidente para Serviços Institucionais e Recursos Humanos, meio mundo ficou atônito. Mas por que razão Magala estava interrompendo sua caminhada de sucesso na transformação estrutural da EDM para ir abraçar o terceiro posto mais importante no BAD depois do Presidente e do Vice-Presidente da instituição? Parecia "fake news". Não era! Em Cabo Verde, o Presidente do BAD disse a Filipe Nyusi que Magala era incontornável para as transformações que o banco estava a levar a cabo no seu desenvolvimento institucional.


Os trabalhos de Magala na EDM haviam, afinal, ganho também visibilidade fora de portas. Por isso, o BAD lutava para ter de volta seu quadro, que pedira um "special leave of absence" quando Nyusi foi-lhe buscar a Harare onde ele era o representante do banco para o Zimbabwe. Nos últimos seis meses, Adesina não parou de insistir com chamadas constantes para Maputo para convencer Filipe Nyusi a libertar o Engenheiro formado na Australia, e casado com uma mulher do Japão (onde se encontra de ferias neste momento). O PR esteve relutante mas em Cabo Verde se deu conta da obsessão do BAD e teve de ceder aos argumentos que mostravam "uma admiração do banco africano por Magala e uma simpatia por Moçambique".

Na carta que acabaria escrevendo para Magala a 18 de Julho com copias para o PM Carlos Agostinho do Rosario e para o Ministro Max Tonela (Recursos Minerais e Energia) Nyusi acusa o peso do que a partida do gestor representava para a EDM mas destacava a importância de um moçambicano chegar a um alto cargo de gestão de uma instituição financeira multilateral. Pela primeira vez Moçambique vai ter no BAD alguém capaz de defender seus interesses e os da região da SADC, escreveu Nyusi. Magala nunca sairia se nao tivesse a anuencia explicita do Presidente, disse uma fonte familiarizada com os contactos.


A iniciativa para esta saída de Magala não foi do visado, que tinha deixado no BAD um salário superior ao que lhe ofereceram na EDM. Mas 'e obvio, porem, que como Vice Presidente para Serviços Institucionais e Recursos Humanos, uma espécie de administrador interno, Magala vai dar um salto salarial significativo. 'E provável também que ele regresse depois de 5 anos. No BAD o único posto com mandato eleito de 5 anos e uma renovação 'e o do Presidente. Todos os outros quadros tem contratos de três anos, que se renovam depois de uma avaliação de desempenho. Gestores do nível de Magala permanecem em media entre 3 a 6 anos e partem para outros voos.


Em privado, Magala tem deixado cair uma lagrima no canto do olho. Sua partida interrupção uma forte relação de empatia criada com uma fornada de quadros jovens que abraçaram recentemente a empresa e estavam bebendo avidamente do seu estilo de gestão e uma cultura empresarial onde a competência e o desempenho fazem escola.

Ele deixar a EDM agora tem, pois, dois significados. Por um lado, uma percepção de orfandade desses colaboradores da EDM que estavam apostados na transformação da empresa, para alem da ja descrita perda para Moçambique num contexto em que Magala estava a nivelar por alto o benchmarking na gestão eficiente no sector empresarial do Estado num mar poluído de laxismo, compadrio e nepotismo e praticas de procurement mergulhadas na corrupção. Por outro lado, ha quem esteja a abrir seu champanhe. Magala desmantelou esquemas de sobrefacturacao lesivas para a empresa e estava a encetar uma reforma profunda no seu procurement. Os afectados e os resistentes a essas mudança estão festejando, incluindo alguns que elogiam com cinismo sua partida, considerando-a em discurso de conveniência como significativa para sua carreira e para Moçambique, quando na verdade estão respirando de alivio por se verem livre de um campeão da integridade.


Nas próximas semanas, quando o PR aprovar o nome do novo PCA da EDM ele devera ter a certeza de que o perfil do eleito garante a continuidade das reformas, não apenas ao nível dos procedimentos de gestão interna mas sobretudo no que diz respeito a nova visão da empresa: colocar electricidade em todos os cantos de Moçambique em 2030. Para se chegar la, Magala deixa na gaveta três documentos a espera de aprovação: i) uma nova Estratégia Corporativa; ii) uma Estratégia de Electrificação e iii) o Plano Director, que mostra como alcançar essa ambição da electrificação.

O PCA cessante da EDM devera ser chamado a dar uma opinião relativamente ao nome que Nyusi devera indicar para dar continuidade aos seus trabalhos. E são trabalhos ambiciosos, estruturantes para a electrificação do pais. Para ja, ele não vai partir para Abidjan sem testemunhar o nascimento de uma das suas joias de coroa, um dos símbolos mais visíveis do seu desempenho: a inauguração a 22 de Agosto da nova Central de ciclo combinado (com gás de Temane) de 110 megawatts na antiga Sonefe em Maputo, que vai melhorar substancialmente a qualidade da electricidade na capital e arredores. Um investimento de 175 milhões de USD, financiado totalmente pela japonesa JICA a uma taxa de juro de 0.01% pagáveis em 40 anos com 10 de graça.


No pipeline ha mais projectos vistosos em carteira e em implementação. A subestação de Namialo, de 40 megawatts, também com financiamento japonês (30 milhões de USD), ja quase pronta. Por outro lado, o futuro PCA devera garantir nos próximos dois meses o fecho financeiro do projecto da Central Terminal de 400 megawatts em Temane e a nova linha de alta tensão de 600 kms de Temane a Maputo, orçado globalmente em 1.3 biliões de USD.


Uma fonte próxima do processo disse que, apesar da relutância da Sasol em participar na construção da linha, o projecto tem pernas para ser financiado e o Governo não vai desistir, tornando a multinacional sul africana irrelevante para Moçambique. Um dos sonhos de Magala se prende com o backbone da transmissão de electricidade do Sul ao Norte. Isso passa pela construção de uma linha de alta tensão de 400 kV de Caia a Nacala, para prover o Norte com energia de qualidade.

A actual linha que liga Songo a Nacala gera apenas 220 kvs e, para alem das perdas técnicas ao longo da transmissão, ela não aguenta a demanda. " 'E como se fosse uma estrada de duas faixas com trafego de quatro faixas", descreveu um especialista. Mateus Magala não estava disponível para uma conversa sobre estes e outros assuntos. Em Kioto, ele goza ferias junto de sua família. Sua partida para o BAD vai deixar saudades. E eventualmente se perdera uma referencia de gestão eficiente, inspiradora no espectro das empresas participadas pelo Estado. Mas o Governo tendera a usar esta oportunidade para mobilizar mais financiamento para projectos de desenvolvimento. Com as torneiras dos tradicionais doadores seladas nasceu também uma esperança.

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