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quarta-feira, 13 outubro 2021 07:06

Como as dívidas ocultas fragilizaram ainda mais o Metical

O Metical é uma das moedas africanas mais frágeis em relação ao Dólar dos Estados Unidos da América (USD). Mas os efeitos da descoberta das dívidas ocultas tornaram a moeda muito mais frágil, reflectindo o congelamento das ajudas directas ao Orçamento do Estado dos vários parceiros de cooperação de Moçambique conjugados aos factores externos ao país.

 

Em “Anuário Estatístico 2020”, o Instituto Nacional de Estatística (INE) mostra as taxas médias de câmbio anuais no período de 2000 a 2020. Nos últimos 20 anos, o INE ilustra que, se em 2000 a nossa moeda era frágil em relação ao USD, em 2016, face ao impacto da descoberta das dívidas ocultas, o Metical derrapou ainda mais.

 

A Autoridade Estatística ilustra que, em 2000, a taxa média de câmbio foi de 17 Meticais por cada um USD. Nos cinco anos seguintes, a depreciação continuou, tendo, porém, verificado uma ruptura da tendência em 2004. Assim, registaram-se taxas médias anuais de 22.9, 23.3, 23.4, 19.0 e 23.7 Meticais por cada USD, de 2001 a 2005, respectivamente.

 

Em 2006, a taxa média anual caiu para 22,0 Meticais por USD, mas nos anos seguintes a depreciação da moeda nacional voltou a ganhar corpo, tendo, em 2010, atingido 32,8 Meticais por USD. Em 2007, a taxa média situou-se em 23,7, 25,2 no ano seguinte e 27,5 Meticais por USD em 2009.

 

Em 2011, a taxa média de câmbio anual verificou uma variação negativa ao cair para 27,1 Meticais por USD. Entretanto, nos anos seguintes, as taxas anuais inverteram o cenário com tendências de subida, tendo de 2012 a 2013 se situado em 29 Meticais por USD (em média). De 2014 ao ano seguinte, as subidas atingiram 30,7 e 38,3 Meticais por USD, respectivamente.

 

Após a descoberta das dívidas ocultas de mais de 2.2 biliões de USD, em 2016, e consequente zanga e congelamento do Apoio Directo ao Orçamento, no primeiro semestre do mesmo ano, a desvalorização do Metical disparou para quase o dobro de 2015, tendo a taxa de câmbio média daquele ano se fixado em 62,6 Meticais por cada USD. No ano seguinte, idem. O par Metical e USD situou-se em 63,6.

 

Em 2018, verifica-se uma ligeira valorização do Metical em relação ao USD. Neste ano, o par das moedas fixou-se em 60,3. Mas, nos anos seguintes, a desvalorização continuou e exponencialmente, tendo em 2019 a taxa de câmbio média se situado em 62,6 Meticais por USD. Por fim, em 2020, foi registada a maior subida já vista. Em todo o ano, a taxa média de câmbio atingiu os 69,5 Meticais por cada USD.

 

Sem ajuda externa directa, uma das vias adoptadas pelo Governo para minimizar o défice das contas públicas foi recorrer a empréstimos por Bilhetes de Tesouro que, infelizmente, foram sugando o dinheiro que seria destinado à economia. Por consequência, no intervalo de 2016 a 2020, o crédito à economia (e às famílias) foi marcado por reduções e crescimentos, mas estes insignificantes. Dados do INE mostram que, em 2016, o crédito à economia foi de 261 mil milhões de Meticais. No ano seguinte, o crédito ao sector produtivo caiu para 225 mil milhões de Meticais. Em 2020, em comparação com 2016, o crescimento do crédito à economia só foi de 4 mil milhões de Meticais, isto é, as instituições financeiras emprestaram ao sector produtivo 265 mil milhões de Meticais.

 

Para além desse efeito, o impacto das dívidas ocultas reflectiu-se na subida geral de preços motivada, em parte, pela desvalorização da moeda nacional. Os efeitos das dívidas ocultas são vários e, quando conjugados (com factores externos), levaram a economia do país à recessão. (Evaristo Chilingue)

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