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sexta-feira, 16 abril 2021 06:39

Dólar já custa 54 Meticais e sua queda drástica já suscita vários questionamentos

Um Dólar norte-americano (USD) já custa 55 Meticais depois de se ter situado em 75 Meticais nos últimos 12 meses por efeitos da crise mundial provocada pela pandemia da Covid-19. Essa desvalorização exponencial do USD a favor da moeda nacional, o Metical, está já a suscitar questionamentos em todas as vertentes.

 

Para além do Dólar, o valor do Euro também está a cair em detrimento do Metical. Se no ano passado chegou a custar 91, em finais de Fevereiro passado, até última quinta-feira (15) custava 65 Meticais, de acordo com o câmbio do Banco de Moçambique.

 

O Metical está também a ganhar terreno em relação ao Rand, embora a passos lentos. Até última quinta-feira, 1 Rand custava 3.8 Meticais, embora tenha chegado a custar 5 Meticais no início deste ano.

 

A valorização do Metical perante essas moedas (algo que começou em início de Março último), mas, com destaque para o Dólar, está já a suscitar vários questionamentos.

 

As interrogações centram-se no facto de o Metical estar a valorizar-se, enquanto a economia do país está em recessão devido, ultimamente, à crise pandémica mundial, ataques armados no centro do país, guerra na província de Cabo Delgado e efeitos climatéricos que, quando combinados, arrasam os investimentos e a produção das empresas, principalmente as Micro, Pequenas e Médias que são a maioria.

 

Perante essa realidade, questiona-se: a que se deve a apreciação do Metical? E, será benéfica a valorização do Metical, até aos níveis em que se encontra actualmente para a economia?

 

Razões da valorização do Metical

 

Começando pelas razões da valorização, o relatório divulgado em Março último pelo Banco de Moçambique sobre Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação aponta como factor da apreciação da nossa moeda a procura totalmente satisfeita de divisas, como resultado de uma maior fluidez que se observa no mercado cambial, bem como medidas de política monetária por si tomadas, em Janeiro passado, que incluíram o ajustamento das taxas de juro de referência.

 

Entretanto, o economista e Director-Executivo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Eduardo Sengo, indica como razões da apreciação do Metical face ao Dólar medidas recentemente tomadas pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA), nomeadamente a aprovação de um pacote de 1.9 trilhões de USD para relançar aquela economia.

 

Sengo não descarta a possibilidade de a existência abundante do Dólar no mercado financeiro nacional estar a dever-se à redução drástica das importações por efeitos da crise pandémica.

 

Uma quarta razão para a valorização do Metical face ao Dólar e não só é apresentada pelo economista e académico João Mosca. Num artigo sobre a matéria, Mosca diz que a apreciação do Metical pode dever-se ao facto de o Banco de Moçambique estar a injectar, no mercado financeiro nacional, divisas (moeda estrangeira) que tinham sido reservadas para importações de bens e serviços para diferentes sectores da economia.

 

Até que níveis o Metical vai valorizar-se?

 

A taxa de câmbio tem estado a apreciar nos últimos 45 dias e, nesse período, o Metical recuperou 21 valores face ao Dólar. E, a tendência de contínua apreciação do Metical parece continuar. Face a isto, há quem questione, até quando o cenário vai estabilizar e em que níveis. Ninguém tem verdades absolutas.

 

Entretanto, em seminário virtual, ocorrido esta quarta-feira (14) sobre a matéria, Sengo avançou que a estagnação da apreciação poderá acontecer em Maio próximo, mês em que os EUA vão atingir a imunidade de grupo e começarem a reduzir os estímulos à economia. Embora o economista tenha avançado esses dados, nem ele, nem outros intervenientes no evento organizado pela Associação Moçambicana de Economistas (AMECON) foram capazes de prever até que níveis a apreciação se vai situar.

 

Impacto a todos os níveis está aí

 

Mesmo perante incertezas sobre quando e em que níveis o Metical vai parar de apreciar, o facto é que o impacto da desvalorização do Dólar e demais moedas já se está a fazer sentir na economia nacional. O impacto é, por um lado, positivo e, por outro, negativo.

 

Em entrevista ao jornal, o empresário e membro do Conselho de Administração da McNet, empresa que gere a Janela Única Electrónica, Kekobad Patel, disse que a valorização do Metical está a agradar aos empresários que se dedicam a importar, pois são menos dólares gastos, mas está a sufocar os exportadores e produtores que devem gastar mais dólares para levar seus produtos ao exterior.

 

Convidado para o debate da AMECON, o economista e antigo Director Financeiro da Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), Manuel Gameiro anotou que a apreciação do Metical é maléfica  para as empresas cujos activos estão em moeda externa (o facto desvaloriza os activos), mas beneficia os negócios com dívida em moeda estrangeira, pois quanto menor é o valor (por causa da depreciação), menor é também a dívida a pagar.  

 

Ainda no quadro dos efeitos da apreciação do Metical, contactamos Pacheco Faria, empresário no ramo turístico. Sem delongas, disse que a apreciação cambial está a afectar severamente agentes económicos daquele sector, porque o seu negócio assemelha-se aos exportadores também lesados.

 

“Para nós, é um prejuízo porque quando o turista chega do exterior, gasta divisas cuja correspondência em Metical é menor”, afirmou Faria. Por outras palavras, com isto faria quis dizer que, quanto maior for o valor do Dólar, melhor é no negócio do turismo em Moçambique.

 

Quando o fenómeno vai influenciar na descida de preços?

 

Em debate, a AMECON aflorou essa questão, mas todos os economistas não deram informações precisas. Eduardo Sengo, que também representava a CTA, sublinhou que a descida de preços poderá verificar-se, assim que as encomendas feitas com o Dólar em alta se esgotarem. Vincou que importações feitas em Dólar levam até três meses para chegar ao país, enquanto as requisitadas em Rand duram não mais de duas semanas graças à vizinhança com a África do Sul, de que o nosso país é largamente dependente.

 

Resumido o pensamento de Sengo: quanto mais tempo se leva para importar, maior será para o preço cair e idem para os produtos importados com base no Rand, cujo processo é relativamente curto.

 

Que acções se exigem ao Banco Central?

 

Economistas e empresários são unânimes em afirmar que o Banco de Moçambique deve tomar medidas que possam estabilizar a taxa de câmbio, porque o actual ritmo cria incerteza para a economia.

 

Para Kekobad Patel, reverter a actual apreciação do Metical é a melhor medida porque quanto mais elevado for exportar, automaticamente o Governo será exigido a subsidiar (o que é pouco provável) o processo como forma de minimizar os prejuízos dos agentes exportadores ou produtores. (Evaristo Chilingue)

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