Que o aeroporto internacional de Nacala é um elefante branco não é novidade. E ciente disso, a empresa Aeroportos de Moçambique (ADM) pretende reverter o cenário, expulsando o animal gigante naquela infra-estrutura imponente e moderna ainda este ano.
Em entrevista exclusiva à "Carta", o Administrador Financeiro e Porta-voz da empresa, Saíde Júnior, explicou que reverter o actual cenário da infra-estrutura passa por pôr em marcha o Decreto aprovado pelo Governo, em 2018, para rentabilizar a infra-estrutura que, de entre várias medidas, exige o desvio de voos internacionais de Nampula para o aeroporto internacional de Nacala.
“Neste momento, estamos a trabalhar afincadamente para que o aeroporto de Nampula deixe de ser internacional senão regional, conforme o Decreto, e todos os voos internacionais que escalavam Nampula, comecem a ser tramitados em Nacala”, disse Júnior.
Segundo o Porta-voz da ADM, o desiderato de tornar o aeroporto internacional de Nacala rentável deverá ser atingido nos próximos oito meses.
“Até ao final deste ano, achamos que os voos vão ser endereçados a Nacala. E a partir daí começaremos a fazer um trabalho de marketing ao nível das reuniões da Associação Internacional de Aviação de África (ACI-Africa, sigla em Inglês) e com os vários outros fazedores do transporte aéreo. Os encontros visaram divulgar os incentivos que vamos oferecer para quem voar para Nacala”, avançou o nosso entrevistado.
O elefante branco, em Nacala, está estagnado desde a sua entrega, em 2014, de tal modo que já tem barba branca. Questionado sobre as razões da fraca utilização da infra-estrutura, o Administrador Financeiro da ADM apontou a crise económica, que assolou o país desde 2015. Sabe-se que essa crise foi causada principalmente pelo efeito das dívidas ocultas, contratadas entre 2013 e 2014 e que só foram descobertas em 2016.
“A situação económica do país mudou. O aeroporto foi entregue em 2014, mas em 2015 a economia de Moçambique entrou em recessão. Neste contexto, como íamos capitalizar o aeroporto?”
O aeroporto de Nacala foi projectado para receber, em média, 500 mil passageiros e manusear cinco mil toneladas de carga, mas a infra-estrutura está a ter uma utilização de 4% apenas. “Actualmente chegam ao aeroporto dois aviões domésticos por semana”. E, por consequência da fraca utilização, “uma sala de embarque foi transformada em espaço de conferências”, reportou a DW.
A baixa utilização daquele aeroporto tem sido um grande fardo para a ADM e ao Governo que pediram emprestado 125 milhões de USD ao Brasil para a construção do aeroporto que não está a ser devidamente rentável para pagar a dívida. (Evaristo Chilingue)