O economista e Director-Executivo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Eduardo Sengo, avança que a apreciação do Metical face ao Dólar norte-americano (USD) e demais moedas está a surtir efeitos positivos em negócios de alguns empresários. Todavia, para que efectivamente os empresários e famílias se beneficiem do cenário, Sengo apela ao Banco de Moçambique a adoptar medidas que estabilizem a taxa de câmbio ao nível do país.
Nos últimos dias, o valor da moeda norte-americana tem estado a cair, invertendo o cenário observado nos últimos 12 meses, em que 1 USD saiu de 65 Meticais para 75 Meticais, facto motivado pela crise pandémica. Entretanto, durante o mês de Março último, a moeda nacional recuperou os 10 Meticais que tinha perdido em relação ao Dólar. Isto é, actualmente, 1 USD custa mesmo 65 Meticais.
O Banco de Moçambique diz que a apreciação do Metical, nos últimos dias, deve-se à procura totalmente satisfeita de divisas, como resultado de uma maior fluidez que se observa no mercado cambial, bem como medidas de política monetária por si tomadas, em Janeiro passado, que incluíram o ajustamento das taxas de juro de referência.
Em entrevista exclusiva à “Carta”, o economista da CTA diz, porém, que a valorização da moeda nacional é reflexo de medidas expansionistas do Dólar, tomadas pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA), o que permitiu maior disponibilidade da divisa no país. Aponta também o impacto da “guerra comercial” entre a China e os EUA.
“Mas, internamente, está também a redução das nossas importações ao longo do tempo, por efeitos da crise pandémica”, acrescentou Sengo.
Em relação ao impacto da apreciação do Metical (face a outras moedas) na economia, o nosso entrevistado disse estar a verificar-se, principalmente nos empresários que se dedicam à importação de diferentes produtos e serviços para o país.
“Está-se a reflectir no negócio das empresas, mas obviamente que ainda é em curto espaço de tempo. As poucas importações que continuam a acontecer tornam-se menos caras porque a valorização do Metical está a ocorrer, mas o espaço de tempo ainda é curto. Era bom que a tendência se mantivesse durante todo o semestre”, afirmou o economista.
Para que as empresas e, consequentemente, as famílias se possam beneficiar longamente da valorização do Metical, Sengo diz que é preciso que o Banco de Moçambique tome medidas de estabilidade cambial.
“Quer dizer que não podemos amanhã acordar com 1 USD a custar 60 Meticais e, no dia seguinte, 70 Meticais. Por outras palavras, é preferível estar nos 60 ou 70 Meticais, mas durante muito tempo, que estar a oscilar”, explicou.
Entretanto, para que haja estabilidade cambial, o Director-Executivo da CTA apela ao Banco de Moçambique a “instituir regras que não criem instabilidade no mercado; prover divisas para importações essenciais e também ser prestador de última instância quando as empresas (ou o país) precisarem de resolver determinados problemas, pois, quando fazemos comércio externo, as nossas reservas vão para o Banco de Moçambique”.
Questionado sobre quando é que o cenário de valorização do Metical vai reflectir-se no bolso do cidadão, Sengo disse que só depois de o stock dos produtos importados com o USD em alta esgotar. “Ora, todas as importações que ocorrem na base do USD não levam menos de dois meses para chegar a Maputo, mas as importações feitas em Rand levam entre uma a duas semanas. Significa que se o Metical estiver a ganhar terreno podemos ver efeito em duas semanas, mas relativamente ao USD, cujas importações vêm de outros continentes, o reflexo é moroso”, explicou. (Evaristo Chilingue)