O seu sucessor ainda não foi indicado mas é provável que venha a ser alguém da casa, alguém que se tenha mostrado identificado com as reformas que Magala empreendeu e aquelas agora claramente inscritas no documento da estratégia (há quem especule que Pedro Couto, o actual PCA da HCB, estaria a ser melhor aproveitado na EDM do que na HCB; a primeira é um comboio precisando de mais vapor para sulcar a colina; a segunda é um TGV em piloto automático).
Sobre a relação HCB/Eskom, vale a trazer, ipsis verbis, o que a EDM pensa:
- i) O atual pico de fornecimento de energia de Moçambique é de 911 MW, dos quais 500 MW obtidos da HCB são constituídos por 300 MW de energia firme e 200 MW de energia não-firme; para a energia adicional acima e fora desta quantidade, a EDM paga cerca de 15 cêntimos de USD, cerca de três vezes mais do que a Eskom, na RAS, paga à HCB pelo fornecimento regular de 1.500 MW;
ii) No desempenho de um papel regional mais amplo, Moçambique deve questionar-se se pode alcançar o acesso universal (fornecimento de eletricidade em todas as localidades), abastecer a Mozal e exportar energia para a região.
Estas duas colocações, assim mesmo factualmente sem juízos de valor, são elementos do contexto onde se insere a operação da EDM. Elas são de certo modo retomadas na análise SWOT da estratégia, como parte das ameaças que podem comprometer o objetivo estratégico da empresa.
Eis a colocação:
i) Cahora Bassa: a HCB é participada em 92.5% pela EDM mas vende até 70% da sua energia à empresa pública de eletricidade da RAS, a Eskom, que está a pagar aproximadamente 2,5 cêntimos de USD/KWh, enquanto Moçambique paga 9,5% através de outras fontes. O maior volume de energia que retoma a Moçambique abastece a Mozal. A não transferência do fornecimento de energia a partir de Cahora Bassa para Moçambique, em 2029, poderá ter sérias implicações porque comprar à HCB por 1.5 cêntimos de USD/KWh ou pelo mesmo preço que a ESKOM paga seria melhor que qualquer outra alternativa.
Estas colocações mostram uma EDM exigindo um maior bolo da energia gerada pela HCB mas a um preço menor ou equiparável ao que a Eskom paga ao longo da linha de transmissão do Songo à Secunda. Mas afinal o que nos amarra demasiado à Eskom que torna secreto o contrato entre a HCB e a “utility” sul-africana? O contrato é mesmo tão secreto que, há duas semanas aquando da apresentação dos resultados anuais da HCB para 2017, Pedro Couto disse que não podia revelar qual era o valor atualmente pago pela Eskom por cada KWh que compra da hidroelétrica. De modo que, para a HCB responder a uma questão colocada sobre quanto cobra à Eskom, ele disse apenas que “houve um incremento de 46%”.
Agora, se o Governo quiser dar todo o suporte político à estratégia da EDM é obvio que a correlação de forças entre a HBC e a Eskom terá de ser alterada. Só isso permitirá a EDM ter fôlego para insuflar sua ambição de expansão no mercado regional. Alguém está interessado em fazer isso acontecer?