Hoje, esta madrugada, recebi uma mensagem do Manuel de Araújo, cabeça de lista da RENAMO para Governador da província da Zambézia, dizendo que incendiaram a casa da sua mãe, no bairro de Coalane, em Quelimane. Não acreditei. Mas também, Mano Mané não é de brincar com esse tipo de coisas. Então, querem matar a tia Inês, a minha eterna professora!
Eu costumo dizer que estamos a insistir em chamar de democracia a uma ditadura no seu estado mais avançado. Na verdade, uma ditadura eleita. Um sistema em que, em cada cinco anos, você sai de casa e vai à urna para "escolher" o seu próprio assassino. Para piorar, há quem insiste em dizer que estamos em paz.
Hoje, a tia Inês está a pagar o preço de ser mãe de um cidadão que acredita na mudança. De ser mãe de um jovem que as pessoas acreditam que ele é a solução. O preço de ter transmitido ao seu filho o seu carisma. A boa educação. A humildade. O bom carácter.
Querem matar a tia Inês por ser a mãe do mensageiro. Aquele mensageiro que carrega e se identifica com a mensagem do povo. O seu povo. Um povo que ele está disposto a dar o peito às balas. Aquele mensageiro que deixa qualquer tirano sem sono. A propósito do sono: está cada vez mais claro que Mano Mané tira sono de um certo grupo de "Indivíduos".
Mas é assim: mesmo que matem a nossa professora, este "muana-mutxuabo" - puto humilde e carismático - não deixará de ser o mensageiro de todos "ana-atxuabo". Nada vai mudar isso. E não pensem que isso é política. Não! Manuel de Araújo já era amado antes mesmo de ser político. As pessoas já o admiravam. Prova disso está aí. O puto é estrela onde quer que vá e com qualquer partido. Um fenómeno que devia ser estudado.
Sobre a mãe do Mano Mané, não tenho tinta suficiente para falar dela. Quem conhece a sua trajectória de vida e do seu falecido marido sabe do que falo. Estes senhores são heróis não só dos seus filhos, mas de muitos jovens. A professora Inês é minha heroína também. E quero desde já desejar-lhe longa vida de muita saúde e alegria. Viva para curtir o seus filhos, netos e bisnetos! Apenas tema a Deus. É somente Ele que guarda os nossos destinos.
Para vocês que pensam que tudo começa e termina na política, desejo-vos uma longa curta vida. Que tudo não corra como desejam! Que o diabo continue vos abençoando com muita burrice!
- Co'licença!
Confesso que não estou a perceber nada desta campanha eleitoral em curso. Não estou a perceber a estratégia que está sendo usada pelos partidos e candidatos. Só vejo pessoas andando de um lado para o outro com muito barulho à mistura sem nada de substancial.
Tenho que admitir que o meu nível de ignorância sobre campanha eleitoral está cada vez mais a subir. Não entendo como é que uma caravana ou um show de Mista-Bau e sua mulher e amigos, por exemplo, podem me convencer a votar no manifesto de um certo partido. Ainda não encontrei a relação entre o quadradinho da Liloca e o futuro do país.
Não estou a dizer que os modelos de propaganda eleitoral adoptados pelos partidos políticos e candidatos não sejam funcionais. Nada disso! Só estou a dizer que eu é que sou um gajo confuso. Por exemplo, não percebo como é que numa campanha porta-a-porta é possível convencer um eleitor em 5 minutos de conversa. O que é que de tão mágico se fala nesses minutinhos que fazem um gajo mudar de ideia?
Uma capulana e uma camisete estampadas com aquele sorriso administrativo do futuro presidente. Uma dose frango com batatas fritas e uma Coca-Cola. Uma bandeira e um cartaz do partido. Uma música e um nhecula-nhecula. Um campeonato de futebol com alcunha do candidato e um showmício. Um festival de promessas e sonhos mal sonhados. A cada promessa, um monte aplausos.
No "feici", uma foto e uma legenda trivial. Um post e um comentário militante. Num mural, um apelo de voto a favor de um certo candidato porque o antigo líder do partido desse candidato - já falecido - tem filhos bonitos, e uma foto do Billal - o Obama. Noutro, jovens embrulhados em mantos de cetim encarnado e uma etiqueta da infalibilidade da certeza do seu voto.
Não! Assim comigo não vai dar! Provavelmente eu esteja a precisar mesmo de uma campanha eleitoral só para mim. Talvez um comité central acampado no meu quintal durante 45 dias explicando cada vírgula do seu manifesto eleitoral. Uma catequese eleitoral. Sei lá, mas assim como está não vai pegar!
- Co'licença!
Mas vocês sul-africanos são assim porquê? Assim os moçambicanos que vocês viram para espancar são esses mesmo? Assim vocês acreditam mesmo que são esses que estão a acabar vossa comida?
Mas vocês são burros assim porquê páh? Assim vocês não estão a ver o moçambicano que está aí a acabar o vosso vorce? Assim não conseguem ver o gajo que está a viver às custas do vosso Estado? Não conseguem distinguir entre esses moçambicanos o gajo que está a comer e a cagar de borla?
Vocês são burros assim porquê? Como é que vocês estão a matar as pessoas que trabalham e pagam impostos e deixam o gajo que está a viver sem trabalhar? Esses que vocês estão a grelhar aí na via pública são uns desenrascados também. São pessoas que estão a dar no duro para sobreviver. São vítimas desse tal gajo que está aí a viver mahala.
Seus maconheitos distraídos! Foquem-se! Há um "Indivíduo" que está aí em Modderbee, em Benoni, quarto dezanove. Um gajo cheio da mola, mas que está aí a viver de borla. Um gajo que não quer embarcar para Nova Iorque porque não aguenta com o vosso vorce com xima e maheu. Chama-se Chang. Este - sim- é o vosso problema.
Sejam sérios! Ajudem-nos a tirar esse preguiçoso daí. Entrem em Modderbee e levem esse gatuno para a embaixada dos Estados Unidos. Aí vocês vão resolver o vosso problema. Até pode ser que os gringos vos dêem um algum de agradecimento.
Não andem por aí a queimar inocentes. A culpa é do Chang. É ele que está a acabar vossa comida. Procurem o homem e dêem-lhe uma liçãozinha. Mas não exagerem. Esse tem que embarcar, tem uma turma por denunciar.
- Co'licença!
De certeza que na oração do Papa não vão faltar palavras especiais aos jovens, aos pais, aos enfermos, aos insurgentes, aos presos, aos eleitores, aos políticos, aos ladrões, aos Dercios, aos Nhongos, às marandzas, etecetera. Só não sei se nesta santa súplica haverá algum trecho dirigido aos nossos gatunos, assim de forma específica.
Sabemos que o Santo Padre já ouviu falar do nosso tabuleiro de gatunos. E quem nunca! Já ouviu histórias da sua coragem, da sua heroicidade, da sua abnegação, da sua astúcia, do seu atrevimento, do seu patriotismo. Também deve saber como nos custou ter e organizar esse grupo até ter as qualidades que tem. Deve igualmente saber do amor que nutrimos por eles.
Mas também o Sumo Pontífice deve ter-se apercebido do plano maquiavélico do Ocidente e seus lacaios de quererem destruir esta relíquia. Deve ter-se apercebido que a ideia de dispersar este grupo é movida puramente pela inveja. Deve ter-se apercebido da intenção de intimidar esses nossos artistas.
Só para ter uma ideia, hoje por hoje os gatunos dizem que não se conhecem e nunca ouviram falar um do outro. A turma está a ficar cada vez mais baralhada. Já não há aquela confiança de outrora. Foi assim com Jesus. Há Judas. Veja que até data hoje não conseguem ter um chefe. A pessoa que pensávamos que seria preferiu seguir a carreira de "cotchi" de exaltação patriótica. Está tudo desorganizado. Tudo de qualquer maneira.
Então, Santo Padre, o nosso receio é que um dia já não tenhamos mais os nossos gatunos de estimação. Já ninguém quer ser gatuno. Temos medo que não tenhamos mais a quem nos inspirar amanhã. Temos medo que as futuras gerações percam o foco e a nossa cultura desapareça. Temos medo que no futuro não tenhamos mais "bons governantes". Temos medo que o "nhangumelismo" acabe.
Santo Padre, rogai pelos nossos gatunos! Santificai esta equipa para que a sua obra seja louvada para todo o sempre! Beatificai este tabuleiro para que o seu génio viva na eternidade! Glorificai o roubo!
Padre Santíssimo, esta é a nossa rogação. A súplica de um povo martirizado pelo pavor de um dia perder os seus gatunos de estimação e a sua honra. Um povo que ora sentado no ananás.
Pai Santíssimo, interceda pelos nossos Barrabás junto de Deus Todo Poderoso! E tenha uma boa visita! Amém!
- Co'licença!
Já falamos do défice de postura pública e da falta de aptidão física de Frangoulis. Já falamos do excesso de berlindes do Fernandes. Mas, não sei porquê, ainda não fofocamos sobre aquele Gê-40, jurista, músico e meu professor de Princípios de Direito da ECA que foi abandonado como um cão tinhoso à boca de uma audição na Assembleia da República. Afinal, o que aconteceu? Alguém sabe?! Eu não! Nem ele próprio sabe.
- Xiii!!! Epááá!!! Aquilo foi demais! Mas também esses da FRELIMO exageram!
- Não exageram nada!
Sabe, quando você escolhe ser papel higiénico de alguém, você tem que ter consciência que essa pessoa nunca te vai usar como papel de presente. Papel higiénico nunca será papel de presente. Apesar de ser papel também, como tantos outros tipos de papel que existem no mundo, o papel higiénico sabe que ninguém lhe vai comprar para lhe usar como caderno. Pelo seu curriculo, qualquer pessoa sabe que o papel do papel higiénico é limpar m*rda. E o próprio papel higiénico conhece o seu papel.
Ora, um jurista que nunca mostrou a sociedade as suas competências técnicas como um jurista sério, mas passa a vida a exibir os seus dotes em matéria de lamber botas, e ainda assim sonha em ser chamado a ocupar o lugar de juíz conselheiro do Cê-Cê, é muito complicado. Como é que um gajo formado em direito, que nunca mostrou a ninguém o que sabe fazer nessa área, quer ser confiado a uma posição de altíssima responsabilidade no Cê-Cê? Um gajo que desde que saiu da faculdade só sabe lamber cega e religiosamente o partido FRELIMO, a ponto de ganhar um lugar de destaque no famigerado Gê-40, pensa mesmo que este partido pode lhe confiar uma posição de alta responsabilidade? Haaaaa... vamos ser sérios, pessoal!
Quando a gente diz que escovar em demasia é prejudicial à saúde pensam que é inveja. O puxa-saquismo é uma escolha. E a partir do momento que você escolhe ser um puxa-saco você não pode sonhar muito em ser um profissional respeitável. Um lambe-bota profissional não pode esperar que seja levado a sério, principalmente pelos próprios donos das bundas que ele lambe. Brada, no dia que eles necessitarem de um gajo credível não vão optar por ti. Juro! Tô-ta-dizer!
Um puxa-saco que quer ser juíz conselheiro é um profissional atrapalhado. Significa que não conhece os seus termos de referência. Um bom puxa-saco não sonha com esse tipo de subidas. Juíz do Cê-Cê é algo muito sério, não é para um gajo que trocou doutrina por escovas e pomadas.
Aos lambe-botas vai uma dica: lamber bota é bom, mas é demasiadamente ingrato. Escovar é bom enquanto houver botas para escovar. A FRELIMO nunca iria escolher um papagaio para aquele lugar. É mentira! No fundo no fundo a FRELIMO sabe que para aquele lugar não basta ostentar postura pública e aptidão física... tem que ter tomates, acima de tudo.
Cada qual com a sua postura pública. E a postura do puxa-saco é não se dar ao luxo de sonhar alto. Cada macaco no seu galho. Saiba que ainda precisam dos seus bons serviços de língua no partido. Ainda são preliminares.
- Co'licença!
Nyongo & companhia é um problema de Ossufo Momade. Junta Militar da RENAMO é um problema da RENAMO. Não são assuntos da nação. São assuntos caseiros da RENAMO. São assuntos de indisciplina. São assuntos de falta de respeito entre generais do mesmo exercíto. São assuntos de hierarquia.
Nyongo é um assunto intestinal característico da RENAMO. Não é um assunto para Nyusi viajar às matas da Gorongosa, procurar um tronco seco para sentar e tirar foto e negociar um novo Dê-Dê-Ere e um acordo de paz paralelo. Nyusi tem muita coisa para fazer, uma delas é preparar a sua campanha.
Nyongo é um teste à diplomacia de Ossufo Momade. É um teste à capacidade de diálogo da RENAMO. É agora que Ossufo Momade deve mostrar o que aprendeu com Afonso Dhlakama. É agora que vamos saber quantos sapos Ossufo Momade consegue engolir.
Trabalho de Nyusi não é mediar traições nos casamentos, falta de pagamento de dízimos na igreja ou excesso de auto-golos no Moçambola. Nyusi não está disponível para qualquer vertebrado paulado. Este país não é só RENAMO e suas pancadas. Existem outros assuntos também pertinentes. Temos os insurgentes que precisam de mais atenção e análise. Temos a reconstrução pós-Idai que clama por mais sinergias. Temos uma parte do país a viver em 2040 que urge devolver. Temos leões virando veganos que precisam de um estudo sério. Temos o Chang que precisa de embarcar. Temos as eleições já à porta que necessitam de preparo. É tanta coisa urgente que deviamos deixar o Nyongo com o seu Momade.
Um coisa é certa: o slogan "com a FRELIMO e Nyusi Moçambique avança" nunca fez tanto sentido quanto está fazendo agora. O nível de desorganização da RENAMO é impressionante. A falta de agenda, então nem se fala. Quando a RENAMO não tem inimigos externos trata de arranjar internamente. Quando não tem pessoa para morder por perto, a RENAMO morde-se sozinha como um cão raivoso.
Por incrível que pareça, a RENAMO não consegue aproveitar os piores momentos do seu adversário. Nem consegue aproveitar os excelentes quadros de que dispõe. Quanto mais bons quadros ganha, mais maluco fica. É pior que os Mambas. Pelo menos Mambas perdem no minuto 92. Esses perdem antes mesmo do jogo iniciar. Quando o adversário está a aquecer, eles já marcaram uma dúzia de auto-golos bonitos de calcanhar, de cabeça, de biscicleta, de ancas. Nunca vi gajos que não mudam.
A RENAMO acredita que as dívidas ocultas vão votar a seu favor. A RENAMO pensa que decepcionar-se com a FRELIMO significa automaticamente voto para si. Puro engano! Procurem voto! Parem de atrapalhar e de se atrapalhar! Parem de fumar suruma molhada!
Entretenham-se com os Nyongos da vida, mas, faxavor, deixem o Nyusi preparar a sua vitória retumbante, asfixiante, qualquerizante, abusante e envergonhante!
- Co'licença!
Matematicamente falando, todos nós contribuímos para o bem-estar emocional dos nossos gatunos. Graças às dívidas ocultas, os nossos gatunos de estimação conseguiram boas mulheres. Boas damas. Muitos até casaram. Para ser mais franco, todos nós financiamos a felicidade destes compatriotas.
Financiamos, com dois bilhões e meio de "galinhas", a compra de Bi-Eme-Dablius, Mercedezes, Rolls Royces, Maserates, Ferraris, etecetera, para as "beibis" dos nossos estimados gatunos. Isso sem contar com aluguer de jactos e mansões para "férias" e lobolos. É bem possível que sem aqueles dólares o "love" não acontecesse.
Então, é bom que vocês, nossas cunhadas de estimação, nunca se esqueçam de nós. A malta também é da família. A malta é a peça fundamental das vossas paixões milionárias. Esses "Bi-Eme-Dablius" modelo "Eksi-six", essas mansões, essas roupas, aquelas viagens, aqueles lobolos cheios de cerejas que vos deram de presente saíram dos nossos bolsos. Aliás, ainda estão a sair dos nossos bolsos... à força. Não estamos a conseguir pagar, mas, pelo bem-estar emocional dos nossos gatunos, estamos a pagar assim mesmo à rasca.
Por isso, exigimos mais respeito de vocês nossas cunhadas. Quando encontrarem a vovó Aissa no mercado do Fajardo, com sacos de alface e couve na cabeça, parem e deem-lhe uma boleia nesse Bi-Eme. É uma das contribuintes da vossa felicidade. Está a rochar para pagar essa viatura aí. Não se façam tipo não sabem!
Os filhos que nasceram e os que vão nascer desse namoro financiado pelo povo são nossos sobrinhos também. Ensinem-lhes a nos respeitarem também. Somos todos primos, titios e avôs deles. Estamos todos a pagar as mensalidades dos colégios deles. Tivemos que deixar os nossos filhos em baixo das árvores para pagarmos os ar-condicionados desses nossos sobrinhos de estimação. Somos muito generosos.
O povo merece uma tatuagem nas vossas coxas. Compramos ambientes climatizados e jantares afrodisíacos. Compramos colchões medicinais e cobertores macios. Compramos enzoys e gonazololos. Compramos de tudo para proporcionarmos noites mágicas. Podemos dizer com firmeza que somos os donos dos vossos orgasmos.
A factura é altíssima. Uma factura de umas dívidas ocultas sexualmente transmissíveis. Dói. Dói, mas vale a pena. A felicidade destes gatunos é um imperativo nacional, e nós fizemos a nossa parte.
- Co’licença!
Essas boladas das dívidas ocultas, Odebrecht, Embraer, I-Ene-Esse-Esse e quejandos são novidade para nosoutros. Os Changs, Leões, Setinas, Zuculas, Helenas e filhos&esposas limitada não são de hoje. Estavam mesmo aqui ao lado maracutaiando e comendo a vida com colher grande e sendo aplaudidos.
O pior é que os acólitos do sistema faziam cortinas de ferro na mídia à essas roubalheiras a troco de vinhos e promessas de cargos. Alguns são esses académicos que hoje acordam publicando cartas de indignação extemporâneas.
Dizia eu, os gatunos de amanhã estão hoje na forja sendo esculpidos. Posso garantir que amanhã um ministro vai entrar na "djela" por conta dessa bolada de camiões de transporte de passageiros que foram apresentados na semana passada. Aquilo é bandidagem fria e seca. Só não vê quem não quer. Aquilo não difere das dívidas ocultas. Aquelas carroças não diferem daquelas pranchas de surf adquiridas para pescar atum no mar-alto que hoje desfalecem inertes ali no porto.
Os mesmos acólitos que hoje defendem que aquelas carroçarias são uma grande súbida na vida dos moçambicanos, amanhã estarão envergonhados quando os nomes dos mentores desta iniciativa estiverem em parângonas na imprensa como arguidos. Foi assim com as dívidas ocultas. O grupo que ontem defendia, na imprensa, as boas intenções dos termos de referência daquele negócio, hoje é o primeiro a dizer que o pepino podia ter sido um pouco mais fino.
Não estou a dizer que a população não devia usar estes camiões. Nada disso! Só estou a dizer que colocar uma tomada e internet no "mai-love" não devia ser motivo de júbilo. Não devia ser algo de pompa com ministro a dar a cara. O governo pode dar mais do que isso. O governo pode melhorar as vias de acesso e pode oferecer melhores carros. O governo pode melhorar a mobilidade do cidadão.
Estes camiões são uma vergonha. Não se deve elitizar sofrimento. Nos anos 90 andavamos naquilo e os governantes andavam em Peugeot-504 (que era muito!). Hoje que os governantes andam em últimos gritos de carros com cara de avião o povo não pode ser prendado com apenas uma tomada para carregar celular no mesmo pobre e desconfortante "mai-love". Se se investigar os contornos daquele negócio, vão-se encontrar outros Changs, Nhangumeles, Ndambis, Pearses, Privinvests e companhia.
Aquilo é mafia pura. É uma guengada. É prova de um crime público que vamos testemunhar amanhã. É sempre assim. "Ai-am-telingue-yu!"
- Co'licença!
Já que tem data comemorativa para tudo nesta vida, que tal celebrarmos o dia 29 de Dezembro como o Dia dos Gatunos Moçambicanos? Esta data coincide com o dia da captura do nosso brada Chang na África do Sul no ano passado. Sei lá, é apenas uma ideia. Se não for "naice", podemos deixar. Assim tipo malta dia dos heróis moçambicanos ou dia da mulher moçambicana, antes que esta data seja atribuída a um desses pseudo-acordos de paz ou de cessar fogo que viraram moda nos dias que correm. Eu acho que deviamos celebrar, de alguma forma, a audácia e a aventura desses nossos irmãos. Nossos gatunos de estimação. Legítimos e genuínos. A nossa eterna seleção olímpica de larápios.
Vamos evitar homenagens post mortem, vamos reconhecê-los ainda em vida. Fomos roubados - sim - mas, convenhamos, foi um roubo artístico. Este nível de despudor não se pratica aos montes, não se encontra por aí de qualquer maneira. É preciso valorizarmos isso. São gatunos - sim - mas, diga-se, são gatunos heroicos. Portanto, precisamos de arranjar uma data para o país fazer uma auto-reflexão. Precisamos de fazer uma introspecção sobre o ananás que levamos.
Que dói, dói, mas também temos que reconhecer que foi graças a esses filhos destemidos desta pátria que entramos no Mapa Mundo. Graças a eles, hoje somos assunto no Banco Mundial e no Efe-Eme-I. Somos manchete na Bê-Bê-Cê e na Cê-Ene-Ene. No tribunal de Nova Iorque estamos em voga. Nem os Mambas elevaram tanto a nossa fasquia. Nem Massuko, nem Mutola, nem Ghorwane, nem Malangatana, nem Ungulani, nem Eusébio, nem Mia Couto, nem Marrabenta, nem Craveirinha, nem ninguém e nem nada.
Estes compatriotas merecem uma data especial e uma estátua ali na entrada do Ministério das Finanças. Pode ser uma escultura de um atum fugindo de uma rede furada, ou um pançudo de balalaica exibindo um anzol na mão, sem atum, com cachimbo na boca e aquele sorriso patriótico fosco, ou então um ananás em forma de atum sendo enfiado Moçambique adentro. Que seja em bronze puro, material de primeira.
Gatunagem epopeica não é para qualquer povo. Somos o único país no mundo com um acervo de pilantras codificados em ordem alfabética. Então valorizemos o que é originalmente nosso.
Enfim, está lançado o debate. A proposta está na mesa: 29 de Dezembro - Dia dos Gatunos Moçambicanos. Um feriado nacional. O povo merece. Será aquele dia em que cada moçambicano estará no seu cantinho, bem lúcido, perguntando-se a si mesmo como os gajos ousaram tal desfaçatez. Tipo, não usaram vaselina, ao menos, porquê?
- Co'licença!