O Sul de Moçambique e a zona costeira de Cabo Delgado, no Norte do país, são as zonas mais ameaçadas no mapa da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa), que agrega organizações norte-americanas.
A seca que se arrasta há vários anos condiciona a produção agrícola a Sul, enquanto a violência armada leva ao abandono dos campos a Norte, lê-se na previsão feita até setembro e consultada hoje pela Lusa.
As zonas mais afetadas estão em situação de crise (nível três num total de um, mínimo, a cinco, risco máximo de fome), havendo ainda diversas regiões do centro que vão passar o ano sob stress (nível dois) por ainda estarem a tentar recuperar dos prejuízos causados pelos ciclones de 2019.
“A assistência alimentar humanitária impede que haja situações mais severas”, lê-se no relatório.
O documento realça ainda que o preço dos grãos de milho está 25% a 75% acima dos preços de 2019 e 25% a 55% por cento acima da média “devido à oferta abaixo da média do mercado”.
O preço “anormalmente alto” de alimentos de primeira necessidade vai “diminuir o poder de compra entre as famílias pobres, levando a insegurança alimentar aguda em áreas onde as famílias dependem fortemente dos mercados, incluindo a região sul”, conclui.
A rede FEWS Net foi criada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) em 1985 para apoio à tomada de decisões na gestão de apoio humanitário. (Lusa)
A Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), através do seu projecto Viva+ e à luz do Memorando de Entendimento que tem com o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) para implementação de múltiplas intervenções dentro da escola para reduzir a prevalência do HIV, vai reunir, nos dias 05 e 06 de Março, na cidade de Maputo, com alguns educadores de todas as províncias do país, representados ao nível Distrital até Central.
Trata-se de Professores, Directores ou Coordenadores de Escolas, Pontos Focais de Saúde Escolar ou Director Distrital dos Serviços de Educação, Juventude e Tecnologias (SDEJT); Chefes de Departamento de Nutrição e Saúde Escolar da Direcção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano (DPEDH); Pontos Focais da DPEDH; representantes do MINEDH, do MISAU; da Secretaria da Juventude; do Conselho Nacional de Combate ao SIDA, além de especialistas e representantes da FDC.
A reunião tem como objectivo avaliar a implementação de múltiplas intervenções realizadas dentro da escola para reduzir a prevalência de HIV, no grupo de 10-14, que é semelhante entre ambos sexos. Estas intervenções resultam do facto de que, em Moçambique, a partir dos 15 anos, a prevalência de HIV aumenta com maior incidência nas raparigas.
O facto fez com que a FDC, desde 2018, e dentro do seu projecto VIVA+, repensasse no seu pacote de intervenção para redução da incidência de HIV (novos casos de infecções), recorrendo ao lugar onde há maior concentração de raparigas e rapazes a nível nacional: escolas.
Associado aos elementos acima, uma avaliação de lacunas no Sector de Educação (ALL IN), mostrou que não existem ferramentas de monitoria e avaliação do ensino abrangente da sexualidade, incluindo a prevenção de HIV/SIDA/ITs, embora este conste no currículo nacional de forma transversal; lacuna em relação a Professores treinados para abordar conteúdos sobre Saúde Sexual e Reprodutiva nas salas de aula; falta de Cantos de Saúde Escolar funcionais nas escolas; poucos educadores de pares para apoiarem as escolas nestas matérias; execução de actividades relacionadas com saúde sexual e reprodutiva não, devidamente, supervisionadas e muitas das vezes dispensável de ser incluída na carga horária do Professor; falta de guiões de orientação para professores, com conteúdos sobre HIV/SIDA/ITs, para serem abordados nas salas de aula; não contemplação dos Cantos de Saúde Escolar na arquitectura das novas escolas.
Este quadro de situação gera um conjunto de evidências: adolescentes com fraco conhecimento sobre HIV/ITS/Saúde Sexual e Reprodutiva, limitado acesso à informação e aos serviços e mesmo quando estes serviços estão disponíveis, existem barreiras na utilização e qualidade dos mesmos. A não resposta eficaz deste problema poderá resultar na adopção de comportamentos sexuais de risco. (Carta)
Os índices de diabete e hipertensão arterial, em Moçambique, registaram, nos últimos 10 anos, um aumento bastante significativo, exigindo, neste caso, uma abordagem integrada de prevenção e controlo, o que inclui a detenção, rastreio e tratamento a nível dos cuidados primários de saúde.
Segundo o Ministro da Saúde, Armindo Tiago, que falou na última quinta-feira, em Maputo, na cerimónia de Encerramento do Projecto WDF12-745 “Abordagem Integrada da Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial nos cuidados Primários”, a prevalência da diabetes subiu de 3.8% para 7.4%, enquanto de hipertensão arterial aumentou na ordem dos 5.9%, tendo saído de 34.9% para 39%.
Assim sendo, e a título de exemplo, o titular da pasta da Saúde alertou para o risco de se concentrar apenas nos cuidados médicos dos pacientes padecendo de malária, em detrimento de outras doenças crónicas não transmissíveis.
De acordo com a representante da Organização Mundial da Saúde, Djamila Cabral, o papel do sector da saúde é extremamente importante na prevenção da exposição e factores de risco destas doenças, através do controlo do consumo do tabaco, álcool e promoção da prática de actividades físicas e dietas saudáveis.
“Nada ajudará mais os pacientes com diabetes e hipertensão e as pessoas que estão em risco, do que garantir que todos possam beneficiar de serviços de saúde como diagnóstico precoce e tratamento de qualidade”, acrescentou.
Refira-se que o projecto foi implementado, numa primeira fase, nas províncias de Sofala, Cabo Delgado e Maputo, tendo abrangido 3.6 milhões de pessoas, das quais 903.244 rastreadas, 951.809 em segmento e 1.855.053 em tratamento. O projecto teve duração de três anos. (Marta Afonso)
Moçambique terá, até ao próximo ano (2021), toda a informação florestal digitalizada, através do Sistema de Informação Florestal (SIF), desenvolvido pelo Governo com o apoio técnico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e financiado pelo Banco Mundial.
A informação foi tornada pública, semana finda, em Maputo, pelo Director Nacional de Florestas, Xavier Sakambuera Sailors, durante a Reunião Técnica de Florestas. Durante a sua intervenção, Xavier Sailors disse que o SIF tem, por objectivo, revolucionar o tratamento de expedientes do sector da floresta, passando-os de processos analógicos para digitais e facilitando o controlo das áreas florestais.
O Representante da FAO no evento, Hernani Coelho Da Silva, explicou que a digitalização florestal vai contribuir para uma melhor gestão das florestas, com base fundamental na administração e controlo florestal.
“O uso do sistema irá trazer maior agilidade e transparência na gestão administrativa e operacional”, sublinhando que o sucesso da implementação do sistema exige dedicação, capacidade e prontidão de quem o usa.
“Vivemos uma realidade, como em muitos outros países, em que a exploração, o uso, a produtividade e o comércio de madeira são problemáticos. Neste sentido, exige-se de todos uma abordagem integrada de gestão das florestas e uma visão holística sobre os seus múltiplos produtos e serviços ambientais, concluiu Hernani Coelho Da Silva.
Neste momento, decorre a fase de testes nas províncias de Cabo Delgado e Zambézia e espera-se que, até 2021, o processo de digitalização abranja todo o país.
A Reunião Técnica de Florestas contou com a participação de 80 técnicos da Direcção Nacional de Florestas (DINAF), do Gabinete Jurídico do Ministério da Terra e Ambiente, dos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia, provenientes das províncias de Gaza, Manica, Zambézia, Nampula e Cabo Delgado. O encontro teve duração de quatro dias e participantes discutiram também temas relacionados com o licenciamento e fiscalização florestal, uniformização da interpretação e entendimento do quadro legal. (Marta Afonso)
Dois corpos, com sinais de terem sido baleados, foram encontrados ontem perto da capital provincial de Cabo Delgado, norte de Moçambique, disse à Lusa fonte da polícia, que está a investigar o caso.
"As vítimas foram mortas a tiro e foram encontradas pela população em Metuge", um distrito a 39 quilómetros do centro de Pemba, capital provincial, disse o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Cabo Delgado, Augusto Guta.
Os corpos eram de dois jovens e foram encontrados no domingo, num local deserto, pela população, que comunicou a polícia de imediato.
"Não há muitos detalhes no momento, na medida em que as investigações decorrem. É prematuro associar o caso aos ataques protagonizados por grupos armados em Cabo Delgado, embora tenhamos tido, nesta semana, informações que davam conta de que os insurgentes ameaçaram matar pessoas que se recusavam a ingressar para as suas fileiras", afirmou o porta-voz.
Desde outubro de 2017, os distritos da província de Cabo Delgado, onde estão instalados os megaprojetos de gás natural, têm sido alvo de ataques armados de grupos desconhecidos, tendo as incursões já provocado, pelo menos, 350 mortos, afetando mais de 155 ml pessoas.
Na terça-feira, o comandante-geral da polícia moçambicana, Bernardino Rafael, pediu o envolvimento das comunidades para evitar o recrutamento de jovens por grupos que têm protagonizado os ataques na região.
"Pedimos as comunidades para alertar a juventude para evitar ser recrutada para engrossar as fileiras dos malfeitores", disse Bernardino Rafael, falando num encontro com líderes comunitários na província de Cabo Delgado.
Os ataques têm incidido sobre aldeias e distritos do norte da província e nunca houve registo de uma incursão na capital provincial.
Nunca houve uma reivindicação da autoria dos ataques, com exceção para comunicados do grupo "jihadista" Estado Islâmico, mas cuja presença no terreno especialistas e autoridades consideram pouco credível. (Lusa)
Falta de fundos obrigou o Programa Alimentar Mundial (PAM) a reduzir o apoio entregue a famílias moçambicanas afetadas pelos ciclones de 2019, disse à Lusa fonte da organização.
“Desde janeiro, o PAM foi obrigado a reduzir as rações”, referiu Espinola Caribe, chefe do programa das Nações Unidas na cidade da Beira, centro de Moçambique.
Em vez dos habituais 40 quilos de milho ou arroz entregues por mês a cada família como produto base para sustentar agregados vulneráveis, passaram a ser distribuídos 20 quilos para cada, detalhou.
“Temos problemas sérios de fundos. Temos uma necessidade de 48 milhões de dólares (43,7 milhões de euros) para poder continuar a assistir 1,3 milhões de pessoas” que atualmente são ajudadas.
“Estamos a bater às portas”, acrescentou, uma vez que, sem essa verba, 525 mil pessoas “estarão fora do programa, por falta de fundos” durante o mês de março.
O PAM lançou o apelo a parceiros internacionais, tem organizado reuniões e visitas ao terreno por forma a manter o nível de apoio.
Apesar de os ciclones já terem acontecido há um ano, é pouco tempo para as famílias recuperarem os seus rendimentos e o acesso a comida, referiu Espinola Caribe.
“São pessoas que perderam tudo” quando estavam prestes a começar a colheita “e que dependem da agricultura de subsistência”, pelo que só depois de abril ou maio, com a primeira colheita de sucesso depois dos ciclones, poderão começar a ter alimentos.
Mesmo essa esperança ficou em dúvida em vários locais do centro do país, devido a inundações registadas nas últimas semanas, afetando novamente quem já tinha sofrido em 2019 - num total de 71 mil pessoas só na província de Sofala.
Logo após os ciclones, na fase de emergência, a ajuda do PAM chegou a 1,8 milhões de pessoas, descendo depois para os números atuais - que recebem apoio em géneros ou cheques desconto, que podem ser trocados por produtos do mesmo cabaz em pontos comerciais definidos.
O cabaz mensal inclui milho, arroz, ervilha, feijão, óleo vegetal e sal.
Além das vítimas dos ciclones e inundações deste ano, o apoio do PAM chega também às comunidades do Sul de Moçambique que sofrem com seca e aos deslocados devido à violência armada no Norte, na província de Cabo Delgado.
A atual época das chuvas em Moçambique, de outubro a abril, já matou 54 pessoas e afetou cerca de 65 mil, muitas com habitações inundadas, segundo dados do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai e Kenneth) que se abateram sobre Moçambique. (Lusa)