Tudo indica que os resultados operacionais conseguidos pelas tropas ruandesas no combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado, em dois meses da sua intervenção, criaram condições para que as tropas de Paul Kagame exibissem a sua musculatura e também chamassem para si a responsabilidade de controlar a segurança do seu presidente no território moçambicano.
No último fim-de-semana, “Carta” testemunhou situações sui generis na manutenção da segurança do estadista ruandês, desde a sua chegada na cidade de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, até à sua partida.
Os sinais de que a tropa ruandesa assumiria o controle da segurança do seu estadista ficaram evidentes logo na manhã de sexta-feira, no Aeroporto de Pemba, onde a Força Aérea Ruandesa sobrevoou a área momentos antes do desembarque de Paul Kagame. Sublinhar, aliás, que a comitiva de Paul Kagame foi transportada em duas aeronaves, sendo que uma se destinava à sua equipa de segurança e outra ao próprio Presidente.
À chegada de Kagame, os ruandeses tomaram o controlo do Aeroporto de Pemba, tendo sido estes a criarem o principal cordão de segurança dos dois Chefes de Estado, deixando os pontos mais distantes a cargo da Casa Militar, a guarda presidencial moçambicana.
Entretanto, o show ruandês ficou evidente na base Naval de Pemba, onde decorreu a parada militar conjunta entre as Forças de Defesa e Segurança (FDS) e as forças ruandesas. Neste local, os ruandeses lideraram todos os processos, desde o controlo das entradas e saídas no recinto, a vistoria do equipamento trazido pelos jornalistas e demais convidados à cerimónia e a testagem da Covid-19 – os testes rápidos eram o requisito básico para se ter acesso ao evento. Realçar que ninguém escapou ao pente fino dos ruandeses, incluindo colaboradores directos do Presidente da República.
Durante os 20 minutos em que durou a parada militar, a segurança presidencial ruandesa, devidamente equipada e armada, tomou controle dos pontos estratégicos da Base Naval de Pemba. Aliás, cada segurança do Chefe de Estado moçambicano tinha ao seu lado um segurança do Presidente ruandês, porém, em alguns pontos via-se apenas a presença da guarda presidencial ruandesa.
Os aspectos da segurança de Paul Kagame, em Pemba, foram extensivos às ruas, onde em cada esquina, os agentes da Polícia moçambicana tinham a companhia de um agente da Polícia ruandesa. O helicóptero ruandês, por sua vez, não parava de sobrevoar a cidade de Pemba, em particular a região próxima da Base Naval.
25 de Setembro também com segurança ruandesa
O mesmo cenário verificou-se no sábado, 25 de Setembro de 2021, dia em que se comemorava o 57º aniversário das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Com excepção da cerimónia de deposição da coroa de flores na praça do Heróis Moçambicanos, que contou apenas com a segurança moçambicana, as restantes cerimónias contaram com a segurança ruandesa que, mais uma vez, assumiu o controlo da situação, tanto no acto da apresentação dos exercícios da Marinha de Guerra moçambicana, assim como no desfile das FADM e apresentação dos exercícios da Força Aérea de Moçambique.
Tal como na sua chegada, a Força Aérea Ruandesa voltou a sobrevoar a cidade de Pemba durante a realização dos exercícios da Marinha de Guerra moçambicana, assim como minutos antes de Paul Kagame levantar o voo de regresso à casa.
Referir que o Presidente do Ruanda esteve em Moçambique a convite do seu homólogo moçambicano, tendo sido convidado de honra para as cerimónias centrais do 25 de Setembro, que decorreram na terceira maior baía do mundo. (Carta)