As vítimas do terrorismo que se encontram na localidade de Corrane, distrito de Meconta, província de Nampula, mostram-se receosas quanto ao regresso às suas zonas de origem, caso o Governo declare haver condições de segurança e habitabilidade nos distritos afectados pelos ataques terroristas.
Em causa estão, por um lado, as incertezas em relação aos reais resultados alcançados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), em coordenação com as tropas ruandesas e da SADC e, por outro, ao facto de se estarem a adaptar à nova zona de residência.
“Carta” esteve em Corrane há dias e conversou com alguns deslocados que se encontram naquele ponto da província de Nampula. Refira-se que a zona de reassentamento de Corrane é habitada por mais de 6.000 pessoas, provenientes na sua maioria dos distritos de Mocímboa da Praia, Muidumbe, Macomia e Quissanga.
José, de 38 anos de idade, é um dos deslocados que tem a intenção de regressar à sua terra natal, Mocímboa da Praia. Alega que, embora as armas estejam em silêncio naquela aldeia, a vida está difícil, pois, não desenvolve qualquer actividade de rendimento. Conta que, em Mocímboa da Praia, era agente de segurança, uma actividade que já não desenvolve desde que deixou a sua zona de origem.
Entretanto, Momade Abdala, que chegou em Corrane em Agosto findo, proveniente da cidade de Nampula, onde se tinha instalado desde que saiu de Milamba, no distrito de Mocímboa da Praia, diz que não pensa em regressar à casa, devido ao terror que viveu naquele ponto do país.
Conta que em Mocímboa da Praia vendia peixe e geria o barco do seu tio, porém, nem estas condições lhe atraem a voltar àquele ponto do país, pois “não quero fugir mais”.
A insuficiência da água potável, a falta de medicamento no posto de saúde e a precariedade das vias de acesso são algumas das dificuldades reportadas pelos deslocados em Corrane, porém, o silêncio das armas e das catanas é tido como factor-chave para tomada da decisão final.
O chefe do Posto Administrativo de Corrane, Alberto Alexandre, afirma estar a ser um desafio gerir pessoas de várias etnias, mas garante que tudo está correndo na maior tranquilidade. Assegura haver boa convivência entre os nativos e as famílias deslocadas, havendo já crianças que foram enquadradas nas escolas locais. (Carta)