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quinta-feira, 31 janeiro 2019 04:22

Extinção da UP deixa colaboradores pasmados, atónitos e perplexos

Pasmados, atónitos e perplexos é como alguns colaboradores séniores da Universidade Pedagógica (UP) dizem ter ficado quando receberam a notícia de que aquela instituição pública de ensino superior tinha sido extinta, e criadas cinco Universidades em sua substituição. Eliseu Sueia, funcionário da UP, disse à “Carta” que soube da notícia através da comunicação social. “Extinguir a UP não é a melhor medida porque já tinha uma grande expressão a nível nacional e regional”, argumentou.

 

Aliás, a generalidade dos docentes da UP não sabia. Aparentemente, o Governo tomou uma decisão sem ouvir boa parte dos interessados (os próprios docentes da UP), apesar da alegação dada pelo Ministro Jorge Nhambiu (Ciência e Tecnologia), segundo a qual a extinção da UP foi uma proposta da anterior direção do ex-reitor Rogério Uthui. “Carta” apurou que em 2015, quando a UP foi confrontada com uma decisão política visando a sua divisão em três entidades distintas, Uthui apresentou três cenários, mas nenhum apontava para a decisão agora tomada.  

 

A decisão do governo foi um “duro golpe” para muitos que estavam empenhados no crescimento da UP. “Perdem-se mais de 60 acordos de cooperação académica com universidades estrangeiras. Isto é grave”, disse um antigo docente. Na opinião de Sueia, podia-se ter optado por uma descentralização administrativa em vez de eliminar a UP para formar pequenas universidades. Eliseu Sueia é apologista da unificação de pequenas universidades ‘fracas’ para se criar outras mais fortes. “Essa devia ser a tendência”, afirmou, adiantando que a extinção da UP vai criar desequilíbrios, movimentos de quadros e elevados custos ao Estado.

 

Uma funcionária da UP que falou à “Carta” na condição de anonimato referiu que foi criada uma comissão de trabalho para estudar as formas possíveis de extinguir a UP, mas que a informação sobre os resultados obtidos não foi transmitida aos colaboradores da universidade. 

 

“Pareceu-nos que o trabalho tivesse ficado estagnado, pois não tivemos mais informações”, disse a funcionária em causa, salientando que ficou surpreendida com a notícia. “Soube da extinção através de uma notícia publicada pelo vosso jornal (Carta de Moçambique)”, disse.

 

“Dizer que a extinção é para conter custos de despesas não serve como justificação lógica. Com a extinção da UP quantos reitores e vice-reitores teremos nas cinco universidades?”, questionou, sublinhando que a nova situação  “vai exigir mais  meios financeiros”. Outro aspecto levantado pela mesma funcionária foi o de a extinção ter ocorrido numa altura menos apropriada. Stela Duarte, directora científica da UP, disse que não estava a par do assunto. “Fui colhida de surpresa, por isso não posso comentar sem dados”, confessou.

 

A extinção da UP, segundo o Ministro da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, Jorge Nhambiu, visa permitir maior eficácia na prestação de serviços, através da descentralização de poderes e empoderamento da governação local. Para o académico e docente da UP, José Castiano, com a extinção da UP perde-se um conhecimento acumulado que se pretendia transformar em escola académica. Trata-se, segundo Castiano, de um pensamento que estava na gesta. “Estávamos em vias de criar escolas doutorais para depois transformá-las em escolas de pesquisa e centros de pensamento. Tudo isso pode ficar perdido com a extinção da UP”, afirmou José Castiano, acrescentando que a eliminação daquela popular instituição de ensino superior em Moçambique é o corolário de um longo processo de descentralização, não só universitária, mas também política e administrativa do país. 

 

“As delegações da UP nos últimos seis ou sete anos já recebiam os seus orçamentos a partir dos governos provinciais, e isso enfraqueceu um pouco o poder central da UP-sede. O que me surpreendeu foi o surgimento das cinco universidades porque não era essa a ideia que estava na mesa”, declarou José Castiano, frisando, no entanto, que “temos de ir para a frente”. O académico lamentou também o facto de por detrás da extinção (ou restruturação) da UP não existir uma visão estratégica a longo prazo daquilo que poderá ser o ensino superior em Moçambique. (Sérgio Raimundo)

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