A cidade da Beira, capital provincial de Sofala, irá parar este fim-de-semana para dar lugar a uma “mega” manifestação, convocada pelos empresários locais, com o objectivo de repudiar a onda de raptos que assola o país e, em particular, aquela urbe.
A manifestação foi anunciada esta quinta-feira, em conferência de imprensa, por Maulana Zeyn, porta-voz do “Movimento Beira Anti-Rapto”, constituído por empresários baseados naquela cidade e algumas figuras sonantes do nosso país, naturais e residentes na segunda maior cidade do país, com destaque para o antigo Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), Gilberto Correia, e Nuno Cardoso, irmão do jornalista Carlos Cardoso. A decisão, refira-se, foi tomada há dias, durante um encontro que juntou o grupo, com o objectivo de reflectir em torno da onda de raptos que assola aquela cidade.
Segundo o “Movimento Beira Anti-Rapto”, a manifestação irá consistir na paralisação do comércio (encerramento dos estabelecimentos comerciais) naquela autarquia, durante três dias, começando esta sexta-feira e terminando no próximo domingo. Na sua comunicação, os manifestantes sublinharam tratar-se da primeira medida tomada, com vista a pressionar o Governo a resolver a situação, que já dura há quase 10 anos. Após a manifestação, o grupo irá reunir-se para definir novas estratégias.
Lembre-se que, só neste ano, foram raptados três empresários na cidade da Beira e, em conexão com os casos, a Polícia deteve seis indivíduos. Entre dos detidos, estava o empresário Dada Ismael Dada, que teve de pagar, esta semana, uma caução de 1.5 milhão de Meticais, para responder o processo em liberdade. O indiciado disse, à imprensa, ser inocente.
Segundo Maulana Zeyn, o Estado não tem garantido um dos seus principais deveres: a segurança dos cidadãos. “Nós cumprimos com as nossas obrigações, mas o Estado não está a cumprir com as suas. Está a falhar”, defendeu a fonte, visando, concretamente, as autoridades policiais.
“Somos cidadãos contribuintes do Estado, mas em paralelo acabamos sendo contribuintes (...) para a indústria dos raptos. Pagamos imposto ao Estado, mas somos obrigados a pagar volutuosos montantes para a indústria dos raptos e respectivos encobridores”, disse a fonte, para quem a situação é “insustentável e inaceitável”.
“Como cidadãos, não podemos permanecer eternamente calados, amedrontados e espinhados perante situações tão graves e inconcebíveis”, defende Zeyn, exigindo resultados “concretos, consistentes e palpáveis” por parte do Estado.
A manifestação, diga-se, foi convocada um dia depois de a Secretária do Estado na província de Sofala, Stela Pinto Novo Zeca, ter-se reunido, à porta fechada, com os empresários daquela província para discutir o assunto. O encontro contou com a presença do Comandante Provincial da PRM (Polícia da República de Moçambique), em Sofala, Paulik Ucacha, e o Director do SERNIC (Serviço Nacional de Investigação Criminal), naquele ponto do país.
À imprensa, Stela Pinto Novo Zeca defendeu uma “melhor coordenação e comunicação” entre a comunidade empresarial e as autoridades, neste caso, a PRM e o SERNIC, de modo a estancar a onda de raptos. A dirigente lamentou, aliás, a falta de colaboração por parte dos familiares das vítimas. “Em muitas das situações não houve colaboração para que se pudesse, talvez, abortar [o rapto] antes do pagamento do resgate”.
Entretanto, Zeyn garantiu que grande parte das famílias têm, sim, colaborado com as autoridades policiais, porém, sem sucesso.
Refira-se que os raptos e sequestros já estão enraizados no país, sendo vítimas, geralmente, empresários de origem asiática. Este ano, as cidades da Beira, Maputo, Matola e Chimoio já registaram casos de raptos. (A.M.)