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quinta-feira, 23 julho 2020 06:01

Julgamento do caso “Junta Militar da Renamo”: Sandura Ambrósio “negou tudo…”

FOTO: O País

O Tribunal Judicial do Distrito de Dondo, na província de Sofala, ouviu, esta quarta-feira, em sede de sessão de produção de prova, aquele que é tido como peça-chave do caso da auto-proclamada Junta Militar da Renamo. Chama-se Sandura Ambrósio, o empresário e antigo deputado da Renamo, que é tido pela acusação como peça-chave do “puzzle”.

 

Sandura Ambrósio é acusado de ser um dos financiadores da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, liderada por Mariano Nhongo, a quem as autoridades policiais imputam a autoria moral e material dos ataques armados que têm ocorrido nas províncias de Sofala e Manica, ambas na região centro do país. À chegada ao Tribunal, Ambrósio ainda prestou breves declarações à imprensa, tendo, na ocasião, dito que estava “preparado como sempre”.

 

Em sede do Tribunal, o empresário não fez outra coisa senão negar todas as acusações. Disse não ser o financiador e que nunca recrutou jovens para fazer parte do quadro de pessoal da sua empresa de segurança privada, denominada Mamba, para, seguidamente, engrossar as fileiras daquele movimento dissidente da Renamo.

 

A narrativa de que teria sido ele (Sandura Ambrósio) quem mandou recrutar jovens para sua empresa foi levada ao Tribunal por António Bauase, um dos co-réus, também acusado do crime de conspiração contra a segurança do Estado.

 

António Bauase, apontado como sendo o recrutador, é quem revelou ao Tribunal, na semana passada, que participou da reunião constitutiva da auto-proclamada Junta Militar, tendo sido, em sede desta, que Mariano Nhongo foi sufragado líder do movimento. Revelou, à data, que tomou parte do evento por iniciativa própria, isto após ter ouvido falar da reunião constitutiva, através dos órgãos de comunicação social.

 

Sobre as razões por detrás da criação da auto-denominada Junta Militar, Bauase apontou que foram as desinteligências internas (Congresso da Renamo realizado em Janeiro de 2019 que elegeu Ossufo Momade presidente) que deram corpo ao nascimento daquele movimento, cujo objectivo é devolver o partido aos verdadeiros membros e simpatizantes.

 

Em sua defesa, Sandura Ambrósio assumiu que chegou a falar com António Bauase, mas tal aconteceu em Janeiro do ano passado (2019), via telefone, tendo sido este último a ligar, pedindo apoio financeiro sob argumento de que pretendia transportar os seus bens para a cidade da Beira. Ainda na sua alocução, disse não ser verdade a afirmação de Bauase, segundo a qual ele (Sandura Ambrósio) fornecera-lhe dois números de telefone, isto para situações em que não o conseguisse contactar.

 

Ambrósio, que nas eleições de 15 de Outubro último concorreu ao cargo de deputado da Assembleia da República nas listas do Movimento Democrático de Moçambique, negou ter falado e indigitado António Bauase a responsabilidade de recrutar indivíduos para fazer parte do quadro de pessoal da sua empresa de segurança privada.

 

Entretanto, é de notar que, em depoimento, no passado dia 15 de Julho corrente, António Bauase disse, repetidas vezes, que recrutara os outros três co-réus a pedido de Sandura Ambrósio e que antes de se deslocar à vila municipal de Marromeu falou com o empresário, de modo que ele custeasse as despesas com as passagens aéreas.

 

Sandura Ambrósio disse não constituir verdade que ele tentou falar com António Bauase no interior da Cadeia Central da Beira com fito de persuadi-lo a testemunhar a seu favor em sede do Tribunal.

 

O antigo deputado da Renamo revelou que, por diversas vezes, os advogados de António Bauase o contactaram a fim de convencê-lo a assumir que teria mandatado este último a liderar o processo de recrutamento de indivíduos para fazerem parte do quadro de pessoal da sua empresa de segurança, realidade que ajudaria a “todos a sair do barulho”. Sobre o processo de recrutamento, Ambrósio disse que ele não é que conduz o processo e que existem gestores na empresa que tratam do assunto, facto que acontece após o preenchimento de uma série de requisitos.

 

No que respeita a sua alegada participação na reunião que culminou com a criação da auto-proclamada Junta Militar, Sandura Ambrósio refutou redondamente.

 

Ainda na sessão havida ontem, o antigo deputado da Renamo disse que era prática, no seio do partido, os deputados apoiarem com valores monetários os restantes membros que tivessem necessidades. Eram elegíveis aos apoios, disse Ambrósio, os membros que não eram funcionários ou os que não representavam o partido ao nível das assembleias provinciais.

 

Nhongo nega que Sandura Ambrósio seja seu financiador

 

Entretanto, a partir da parte incerta, o líder da auto-proclamada Junta Militar da Renamo falou aos jornalistas, via teleconferência, tendo garantido que o antigo deputado da Renamo não é o financiador do seu grupo.

 

“Estão a enganar o povo moçambicano. Nós não somos financiados por Sandura. Sandura nunca financiou a Junta Militar. Desde que eles prenderam Sandura, a Junta Militar parou? Nós somos guerrilheiros e guerrilheiros não morrem à fome. Nenhum deputado está a apoiar-nos”, disse Mariano Nhongo, citado pela Lusa. (Carta)

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