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segunda-feira, 20 julho 2020 03:59

Covid-19: Moçambique em perigo

Os vizinhos África do Sul e Malawi ocupam o primeiro e o segundo lugar em termos de infecções na região da SADC. 

 

Moçambique tem pela frente um grande desafio para gerir a pandemia tendo em conta que está situado entre os dois países com maior número de casos confirmados do novo coronavírus.

 

No caso da África do Sul, não só está em primeiro lugar na região da SADC, mas também lidera o número de casos no continente.

 

Dados estatísticos indicam que a África do Sul tem o maior número de infecções por Covid-19 na África Austral e no continente e é o oitavo país mais afectado globalmente em termos de número de casos.

 

A nação do arco-íris superou o Reino Unido, a Espanha e o Irão nas taxas de infecção, mas tem baixos índices de mortalidade em comparação ao trio. O número de mortes é de 4948 dos 350879 casos confirmados. 

 

A África do Sul realizou mais de 2,2 milhões de testes para o vírus desde que foi detectado pela primeira vez no país há quase quatro meses, sendo que as autoridades de saúde esperam um aumento de infecções, já que o país está actualmente no inverno, conhecido pelo vírus influenza.

 

Devido à situação, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, voltou a impor o recolher nocturno desde o passado 12 e suspendeu a venda de álcool para enfrentar o aumento de casos do novo coronavírus, que pode saturar o sistema sanitário.

 

"À medida que avançamos para o pico de infecções, é vital não sobrecarregar nossas clínicas e hospitais com lesões relacionadas ao álcool, que poderiam ter sido evitadas", disse Ramaphosa, em mensagem à nação.

 

Para reactivar a economia, o Governo decidiu, em Maio, suspender as restrições impostas em Março e voltou a permitir a venda de bebidas alcoólicas para consumo doméstico, tendo agora recuado da decisão.

 

O recolher obrigatório será aplicado entre as 21:00 horas e as 4:00 horas. As visitas a familiares também estarão proibidas.

 

Segundo o presidente sul-africano, nas últimas semanas foram registadas pelo menos 12 mil infecções diárias - até 500 por hora.

 

"Agora há evidências claras de que a retomada da venda de álcool resultou numa pressão considerável nos hospitais, incluindo os traumatismos e as unidades de terapia intensiva, devido a acidentes de viação, violência e traumas induzidos pelo álcool", disse Ramaphosa.

 

Depois da África do Sul, segue o Malawi

 

Malawi é agora o segundo país da região da SADC com maior número de casos do novo coronavírus. O país registou até este domingo 2.907 casos, incluindo 59 mortes. Desse número, 866 são infecções importadas e 2041 são de transmissão local. Neste momento, cumulativamente, o país tem 1.135 casos recuperados, elevando o número total de casos activos para 1.713.

 

Até agora, o país realizou 23733 testes para Covid-19. Mais de 85% dos casos no Malawi apresentam sintomas leves ou inexistentes e o cenário de colapso do sector da saúde já tomou conta do país que já não dispõe de kits para testagem da pandemia e de equipamento de protecção para os profissionais da saúde.

 

A situação atingiu níveis extremamente preocupantes que só um milagre pode salvar o país. 

 

O presidente Lazarus Chakwera, ex-chefe da Assembleia de Deus, uma das maiores denominações cristãs do país, pensando num virtual milagre, pediu aos malawianos três dias de oração, o último dos quais foi ontem domingo.

 

As orações destinavam-se a pedir a Deus para a recuperação dos infectados pela Covid-19 bem como a protecção divina dos profissionais da saúde que estão na linha da frente no combate à pandemia, dos quais mais de duzentos estão infectados. 

 

O chamamento de Lazarus Chakwera para que os malawianos rezassem dia e noite foi condenado por algumas pessoas que afirmaram que a oração não vai acabar com a crise da saúde pública.

 

O líder malawiano está à procura de todas as alternativas para travar a propagação da pandemia, mas no terreno a realidade mostra que Malawi está a perder a guerra contra a Covid-19 numa altura em que o país já não dispõe de kits para testagem. Neste momento,

 

apenas pessoas que apresentam sintomas graves são testadas. 

 

O aumento crescente do número de regressados da África do Sul, a campanha eleitoral que levou dois meses sem observação do distanciamento social e sem uso de máscaras faciais e a precária rede sanitária são apontadas como algumas das causas do colapso da saúde pública.

 

Malawi desafiou a Covid-19 e realizou a nova eleição presidencial a 23 de Junho na qual Chakwera derrotou Peter Mutharika.

 

O presidente Lazarus Chakwera ainda não admitiu o colapso total, mas reconheceu que a pandemia piorou e está a matar, tendo já criado uma equipa multidisciplinar para a mitigação da Covid-19 que vai funcionar na presidência da República.

 

Devido à Covid-19, Malawi já registou uma morte num dos seus estabelecimentos prisionais e também já reportou a morte de um agente da polícia devido à mesma doença.

 

Os activistas dos direitos humanos pediram ao governo para que liberte urgentemente uma parte da população prisional para protege-la da actual crise de saúde pública, alertando que, se isso não for feito, significa uma sentença de morte para muitos reclusos. As cadeias malawianas estão superlotadas e sem condições de higiene.

 

Para além de moçambicanos que vivem e trabalham no Malawi, o país faz fronteira com Moçambique através das províncias do Niassa, Zambézia e Tete.

 

Trata-se de uma fronteira porosa com movimentação descontrolada de malawianos e moçambicanos.

 

Moçambique tem poucos casos em relação à África do Sul e Malawi, mas estando no meio dos dois países mais infectados é um grande risco.

 

A observar o Estado de Emergência, Moçambique tem oportunidade de fazer tudo ao seu alcance para que os números não disparem tal como está a acontecer na RSA e no Malawi. 

 

O Presidente da República anunciou na última quinta-feira que as escolas e igrejas vão continuar encerradas

 

O Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou, numa comunicação à Nação, que as escolas e igrejas vão continuar encerradas. Nyusi recuou da decisão de reabrir gradualmente as escolas, a partir de 27 de Julho corrente e disse que todos os estabelecimentos de ensino manter-se-ão encerrados “até que se confirme” que há “condições de higiene básicas” para reabrirem.  Na ocasião, o Chefe de Estado orientou para que se continue a preparar o “novo normal” em meio à Covid-19, que tende a ganhar terreno no país e no mundo.

 

A medida deve-se ao facto de o grosso dos estabelecimentos de ensino não reunir as condições exigidas para que as aulas decorram sem o risco de contágio pelo novo coronavírus. Mantém-se igualmente a proibição de realização de cultos e celebrações religiosas até que se garanta a sua retoma de forma segura.(FI)

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