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BCI
quarta-feira, 20 maio 2020 03:53

Carta ao Leitor : O dilema de Buchile

Setina Titosse: condenada a 18 anos de prisão por corrupção, ela recorreu e passeia impunemente em Maputo

O grande problema de Beatriz Buchile e equipa é que ela não pode cantar, ainda, uma vitória contra a corrupção, se bem que é isso que a sociedade espera ouvir do seu informe. O Ministério Público não tem evidências para mostrar que está ganhando a luta. Pode forçar argumentos, arregimentar pilha-galinhas, mas o facto é que nenhum caso bandeirante de grande corrupção (é disto que falamos, do que mais conta) transitou em julgado.

 

Nos últimos anos, houve mais do que uma dezena de casos envolvendo gente ligada à alta esfera política, mas nenhum dos visados foi ainda condenado. Há que reconhecer, porém, um certo esforço de investigação. Mas isso não basta. A sociedade quer ver o peixe-graúdo chamuscado nas celas do confinamento prisional.

 

Beatriz Buchile pode apontar-nos que o caso de Setina Titosse (Fundo de Desenvolvimento Agrário, FDA) foi um sucesso. Em parte, foi! Setina foi condenada a 18 anos de prisão mas interpôs recurso, que suspendeu o cumprimento da pena. Será sucesso quando Setina, que se passeia nos palanques do "jet set" local, recolher as calabouços.

 

Mas isso depende dos tribunais. São eles quem condenam ou absolvem. Se tudo dependesse do Ministério Público, a situação seria assaz diferente. Aliás, vigora uma percepção, errónea ou não, entre alguns magistrados do Ministério Público segundo a qual seu trabalho é, às vezes, sabotado, por juízes corruptos. Tal como também é notória a ideia de que, em muitos casos, os processos instaurados pelo Ministério Públicos demonstram uma escandalosa incompetência e desorganização e essa é a razão por que muitos dos casos acabam arrastando-se em sede de recursos.

 

No caso específico de Beatriz Buchile, ela só se pode queixar de si própria. Desde o início que mostrou uma gritante hesitação na abordagem da corrupção. E é justamente devido a essa hesitação que, sobretudo no caso das “dívidas ocultas”, ainda não poderá fazer uma brilhante apresentação no Parlamento. A Justiça tem o seu tempo e sua hesitação e demora em agir encostou-a numa encruzilhada: a encruzilhada do tempo da Justiça. Ela só poderá cantar vitórias depois de vencer no caso das “dívidas ocultas”. Enquanto isso, deve manter um registo de humildade, e não forçar a barra. (Carta)

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