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quarta-feira, 01 abril 2020 03:19

Ataques em Cabo Delgado: Pemba cada vez mais abarrotada de deslocados

A Cidade de Pemba, a capital provincial de Cabo Delgado, tem sido, nos últimos dias, o local preferido pelos deslocados dos ataques armados que vêm ocorrendo, há mais de dois anos. Depois de os malfeitores terem atacado as vilas-sedes dos distritos de Mocímboa da Praia e Quissanga, os residentes dos distritos vizinhos, como Macomia, Meluco e Palma, começaram a deslocar-se para diferentes pontos da província. Alguns regressaram aos Postos Administrativos de origem (para o caso dos que se tinham deslocado para as vilas-sedes em busca de protecção) e outros optaram em escalar a capital provincial, Pemba.

 

Actualmente, Pemba é, aparentemente, o local mais seguro da província, depois de nove distritos terem sido assolados pela barbárie, incluindo duas vilas-sedes. Alguns chegam àquela cidade de barco e outros de camiões, em busca de melhores condições de segurança, apesar da especulação de preços e dos riscos associados à viagem, devido ao excesso de carga e lotação (nas embarcações).

 

Por exemplo, para sair de Mocímboa da Praia até Mueda, o custo de transporte é avaliado em 500 Mts, contra os 200 Mts que eram pagos anteriormente.

 

No último domingo, “Carta” deslocou-se ao histórico bairro de Paquitequete, onde observou uma situação preocupante e de comover qualquer ser humano. Só entre as 10:00 e as 12:00 horas, “Carta” testemunhou a chegada de seis barcos, transportando um número superior a 200 pessoas, proveniente, na sua maioria de Mocímboa da Praia e Quissanga. Aliás, alguns garantiram à nossa reportagem que mais de oito barcos, provenientes de diferentes pontos da província, estavam a caminho daquele ponto da província de Cabo Delgado. A razão era a mesma: “estamos a fugir dos ataques”.

 

As autoridades marítimas marcaram presença no local para garantir a segurança dos deslocados, porém, devido à quantidade de barcos que iam atracando naquele bairro e de pessoas que iam desembarcando, as mesmas revelavam-se incapazes de contabilizar todos os indivíduos que iam chegando.

 

A propósito, a dada altura, as autoridades impediram o registo de imagens dos cidadãos que iam desembarcando naquele ponto da cidade de Pemba, porém, a “ordem” quase que não era acatada.

 

Alguns deslocados eram acolhidos pelas suas famílias, porém, alguns nem sabiam onde iam passar a sua primeira noite na terceira maior baia do mundo.

 

À “Carta”, A. Assumane disse que o desafio que tem é de onde foi acolhido não entender a sua situação financeira, uma vez que ainda não contribuiu nada para as despesas. “Eu fugi cinco vezes. Duas vezes nas aldeias de Nfunzi e Nambo e uma vez na aldeia Nacutuco. O grande desafio é a alimentação”, revelou a fonte, sublinhando o facto de não saber por onde começar.

 

Outro entrevistado pela “Carta” disse que saiu de Bilibiza, distrito de Quissanga, em Janeiro passado, onde perdeu sua casa. Conta que perdeu tudo no ataque levado a cabo pelos insurgentes àquela localidade, tendo conseguido salvar os documentos e pouca roupa. “Como as outras pessoas fugiram, ao avaliar o número de danos que fizeram, eu também saí com a família. Atravessamos o rio Montepuez até pegarmos carro que nos levou até Pemba”, narrou, sublinhando que foi acolhido pelo marido da sua sobrinha. (Carta)

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