Um contentor com quase 20 toneladas de polvo congelado desencaminhado da empresa Mariscos do Índico foi arrestado no porto de Nacala quando estava prestes a ser exportado com base em documentação falsa. O processo de falsificação envolve uma empresa chinesa e um negociante português, ambos baseados em Angoche. As autoridades alfandegárias e policiais, investigaram informações recebidas de várias fontes e, nesta segunda feira agiram atempadamente impedindo o embarque do contentor, cuja mercadoria tem um valor acima de setenta mil euros.
A Carta apurou que o principal denunciante foram os gestores da empresa Mariscos do Índico também baseada em Angoche e que informou as autoridades de que o contentor TTN183558600 com o selo EU 1836600 destinado ao navio MSC Agata KB011R continha mercadoria de origem ilícita.
A Mariscos do Índico é uma empresa de processamento de peixe e mariscos que tem beneficiado de investimentos feitos pela Sociedade de Investimentos Gapi com o objectivo prioritário de valorizar e criar mercado para a produção de centenas de pescadores artesanais na região de Angoche. O negociante luso agora envolvido com a empresa chinesa nesta operação ilegal foi até há meses gestor da Mariscos do Índico, tendo, porém, a Gapi, como acionista maioritário, dispensado os seus serviços na sequência de uma auditoria às contas da empresa. Ele é acusado pela polícia de Angoche de estar envolvido no roubo à Mariscos do Índico deste contentor de polvo congelado.
A recém-empossada Ministra das Pescas, Augusta Maíta, esteve há duas semanas em Angoche para se inteirar dos problemas do seu sector, em particular das dificuldades de integrar os milhares de artesanais na nova estratégia da Economia Azul. A visita à fábrica da Mariscos do Índico constituiu um dos pontos altos da sua visita àquela região.
Na ocasião desta visita da ministra Maíta, o presidente do Conselho de Administração da Mariscos do Índico, João Maunze, informou que o investimento da Gapi em cerca de um milhão de euros foi indispensável para sanear a sobre endividada empresa do negociante português que ali existia e assim salvar aquelas infraestruturas e respectivos postos de trabalho. Acrescentou que foi também necessário a criação de uma nova empresa (Mariscos do Índico) sem mau nome na banca, bem como a implementação de um projecto de modernização da sala de processamento, de forma a que a produção artesanal passasse a ter qualidade para ser aceite tanto nos exigentes mercados europeus como no sistema de fornecimento de alimentos aos mega-projectos em curso no Norte de Moçambique.
“Hoje, Angoche conta com uma sala de processamento de produtos do mar credenciada a exportar para a Europa. Isto é um grande valor para esta comunidade. Mas, em termos sociais, temos localmente alguns concorrentes que não respeitam as mais básicas normas de negócios com ética. Corrompem muito para obter licenças, saquear a produção dos que trabalham com seriedade, usar artifícios legalistas para tentarem apropriar-se de património indispensável para desenvolver a indústria local…há uma grande máfia no sector das pescas e a Justiça parece ter dificuldades de proteger o que é justo. Vamos ver quem vai vencer. Vamos ver de que lado estará a justiça” - concluiu Maunze.
Na opinião de um outro gestor da Mariscos do Índico a nível de Angoche, M Mondlane, e que esteve à frente da operação de recuperação deste contentor em colaboração com as autoridades aduaneiras, o valor desta mercadoria é “muito importante para assegurar os salários dos cerca de 70 trabalhadores da empresa e prosseguirmos com a compra e incentivos aos pescadores locais para trazerem produto com qualidade que esteja dentro das normas internacionais”.(Carta)