Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
sexta-feira, 21 setembro 2018 17:37

O lobby muçulmano e Comiche

Depois do seu violento repúdio contra as declarações de Roque Silva, o solícito e interventivo SG da Frelimo que elevara o PR Filipe Nyusi ao estatuto divino de Allah, o lobby muçulmano de Maputo não ficou de braços cruzados. Esperavam uma reacção pública de Silva? Talvez não! Mas houve quem tivesse considerado o repúdio uma acção exagerada. Roque Silva já se tinha retratado usando os canais discretos na sua relação com a comunidade. Longe dos holofotes. Alguém na comunidade forçou aquela reacção, aquele registo de grupo de pressão.


Na mesma semana, no entanto, alguns empresários muçulmanos haviam soltado largas somas em dinheiro para financiar as campanhas da Frelimo em todo o país. Entre eles, sobressaíram Munir Sacoor, Noor Momade, Shafee Sidat e Junaid Lalgy. Os primeiros três pousaram semana passada num evento de angariação de fundos no Niassa. Trajados das vestes coloridas da maçaroca e batuque. Empresários da comunidade sempre estiveram na dianteira do financiamento à Frelimo. Uns dão mais a cara que outros, que optam pela descrição mas gastam rios de dinheiro. Esta semana, a comunidade muçulmana de Maputo despiu o casaco da pressão e vestiu a camisola do lobby.


Na terça-feira de manhã, representantes de 14 associações estiveram no prédio da antiga Pereira do Lago num encontro com Eneias Comiche onde deram suas opiniões sobre a vida da cidade de Maputo. A iniciativa partiu da Frelimo. O repúdio tinha sido violento e era preciso clarificar se depois do barulho a comunidade estava com o partido. Mas como não estar? Na noite da mesma terça-feira, pelas 20 horas, o cachimbo da paz foi fumado em jantar com pompa. No Hotel Afrin na baixa de Maputo. Todas as associações islámicas de Maputo (14) e mais de 100 empresários muçulmanos juntaram-se à volta de Eneas Comiche. O jantar não era de angariação de fundos. Era para Comiche aprofundar sua compreensão sobre o que inquieta as associações e empresários mulçumanos.


Basicamente, a comunidade espera de Comiche que ele oleie e máquina burocrática do Conselho Municipal. Olear no bom sentido de agilizar decisões e autorizações. Pode ser que Comiche tente se agilizar, ele próprio. Mas se os processos burocráticos de tomada de decisão forem intricados, demorados, não esperem que Comiche renasça com o perfil do pragmático que nunca foi. Comiche é um “burocratista” quase a roçar para o kafkiano. 


Mas o essencial é que o lobby muçulmano falou de quase tudo: lixo, comércio informal nas suas barbas, mendicidade (que têm combatido com notoriedade) alcoolismo, violência doméstica, etc. E mostraram saudade do moribundo projecto “Chonga Maputo”, que estava a trazer novas cores aos prédios desbotados da cidade mas também uma nova dinâmica de organização intra-condomínios. Isso se perdeu.


Houve quem tentasse o diapasão da queixa particular sobre uma decisão ilegítima do consulado de David Simango mas o que mais ressaltou foi uma intervenção geral de carácter cívica e duas grandes preocupações. A Associação Muçulmana (AM) quer que a edilidade autorize o uso do espaço vedado em Hulene onde seria a zona muçulmana do cemitério que nunca foi. No passado, a AM investiu na vedação, incluindo da zona cristā, mas quando a ideia de cemitério foi descartada nunca obteve autorização para usar o lugar para outra coisa.

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