Quando o recenseamento eleitoral para as VII Eleições Presidenciais e Legislativas entra no seu sexto dia, o maior partido da oposição vem, mais uma vez, denunciar actos que voltam a manchar o processo eleitoral moçambicano.
Segundo a mandatária nacional da Renamo, Glória Salvador, dois membros do partido foram detidos ilegalmente na manhã da última segunda-feira, na povoação de Nampeué, distrito de Eráti, província de Nampula, depois de estes terem identificado o registo fraudulento de um cidadão naquele ponto do país.
Trata-se do mandatário distrital da Renamo, em Eráti, e do fiscal do partido em Nampeué, que até ao fecho desta reportagem se encontravam nas celas da Polícia da República de Moçambique (PRM) por denunciarem um cidadão que estava na posse de três cartões de eleitores, todos em seu nome.
A mandatária da nacional da Renamo disse ao nosso jornal que o facto ocorreu na presença do supervisor que, no lugar de denunciar a ilicitude, optou por chamar a Polícia para recolher os dois membros da “perdiz”.
Para além da detenção dos dois membros da Renamo, Glória Salvador denuncia também o contínuo registo de eleitores por listas nominais, todas provenientes do partido Frelimo, uma táctica usada em 2023 para impedir o recenseamento de eleitores da oposição. Acrescenta que, após o registo desses indivíduos, os brigadistas encerram as inscrições.
À “Carta”, Glória Salvador denunciou ainda a falta do pagamento de subsídios dos brigadistas e agentes cívicos, em território nacional, assim como o não pagamento de salários dos vogais e técnicos do STAE (Secretariado Técnico da Administração Eleitoral) indicados pela Renamo.
A chuva que continua a cair em algumas províncias, condicionando o trânsito de pessoas e bens; a insegurança na província de Cabo Delgado, causada pelos ataques terroristas; e a falta de combustível para a realização dos trabalhos de monitoria por parte do STAE, são outras questões que, segundo a Renamo, marcam e mancham os primeiros dias do recenseamento eleitoral.
Para a Renamo, estas questões beliscam o processo eleitoral e fazem com que o maior partido da oposição volte a questionar se o país irá ou não às eleições este ano. A questão, lembre-se, já havia sido feita pelo Chefe de Bancada Parlamentar da Renamo, Viana Magalhães, que a 22 de Fevereiro último perguntou se o recrudescimento dos ataques terroristas não visava adiar as eleições e perpetuar o reinado de Filipe Nyusi.
Fraca afluência aos postos de recenseamento
Enquanto o maior partido da oposição denuncia as irregularidades que marcam o processo nesta primeira semana, o Centro de Integridade Pública (CIP) relata uma fraca afluência aos postos de recenseamento, sobretudo na região sul, com destaque para os distritos que não foram abrangidos pelo recenseamento eleitoral para as eleições autárquicas de 2023.
“Os nossos correspondentes dos distritos não autárquicos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane reportam um cenário de quase total ausência de eleitores, havendo postos que apenas registam até três eleitores em três horas, o que significa que um eleitor aparece por hora e menos de 20 eleitores por dia”, detalha.
Refira-se que o recenseamento eleitoral decorre até ao dia 28 de Abril e os órgãos eleitorais prevêem registar pouco mais de 7.7 milhões de eleitores. As eleições decorrem no dia 09 de Outubro. (Carta)