O conhecido empresário dos transportes Juneid Lalgy (Transportes Lalgy) escapou ontem a noite de uma tentativa de sequestro na Matola. “Carta” apurou que os raptores tentaram bloqueá-lo à saída de uma Mesquita na N4, mas Juneid terá sido bravo o suficiente para desfazer-se do bloqueio e escapar incólume.
Juneid Lalgy é o principal empresário do futebol em Moçambique, sendo proprietário dos clubes de futebol Black Bulls e Brera Tchumene. Sua empresa de transportes, de natureza familiar, foi fundada há mais de 30 anos e opera presentemente em 15 países africanos, conectando Moçambique com o resto da África.
Se Juneid conseguiu escapar deste rapto, no passado, nomeadamente a 28 de Novembro de 2019, o seu filho Shelton Lalgy, na altura com 30 anos de idade, acabou sendo levado por raptores por volta das 6.00 horas. Os indivíduos faziam-se transportar numa viatura da marca Toyota Noah, cor branca e sem chapa de matrícula.
Shelton dirigia-se à sua residência, depois de uma sessão de ginástica, algures na cidade da Matola. Sua viatura foi bloqueada e ele foi levado para destino incerto.
Shelton viria a ser libertado com pagamento de resgate dois meses depois. Para concretizar o resgate, um mês depois do rapto, e após a confirmação da inoperância policial, Junaid Lalgy colocou à venda parte do seu património para pagar o resgate de Shelton.
Os raptores de Shelton exigiam uma cifra bilionária para libertar o jovem. Para juntar o dinheiro do resgate, a Transportes Lalgy colocou à venda 20 camiões da marca Volvo, Modelo FH13 (6x4) de 2015.
Na altura, uma fonte de "Carta" avaliou o patrimônio vendido em 3,5 milhões de USD. E apesar de na altura o SERNIC a ter deixado claro que pistas sólidas sobre os raptores e eventual localização do cativeiro, Juneid Lalgy teve que pagar um um resgate milionário.
O falhanço do rapto de Juneid mostra uma coisa: nos últimos dois anos, os raptos em Moçambique visaram vítimas de classe média; o último milionário raptado, e depois solto também com resgate, foi Carlos Camurdine, antigo dono da firma Socimpex. Ele acabou deixando Moçambique, tendo-se mudado para Lisboa, onde adquiriu propriedades de luxo.
Esta tentativa de rapto de um empresário milionário aconteceu pouco depois das eleições locais de 11 de Outubro, uma ocasião que propicia um movimento financeiro do sector privado para o Partido Frelimo, embora nesta última campanha esse financiamento eleitoral ao partido no poder tenha sido menor que em anteriores campanhas. Muitos empresários afastaram-se dos jantares milionários de angariação de fundos, promovidos pelo partido.
A principal razão para esse afastamento reside na percepção, entre os empresários, segundo a qual a Frelimo, cuja Comissão Politica é um importante centro de poder em Moçambique, nada faz para conter a vigente indústria dos raptos, onde operativos “trabalham” com relativo à-vontade e seus mandantes nunca são conhecidos.
Não sabemos se Lalgy é um dos empresários desencantados com o regime, mas no passado ele sempre contribuiu financeiramente para as campanhas eleitorais do Partidão, como aliás parece ser “mandatário” em Moçambique. A tentativa deste rapto ocorre num contexto em que o Governo mantém na gaveta uma promessa de estabelecimento de uma Brigada Anti-Raptos, sem explicação plausível. (Marcelo Mosse)