A Polícia da República de Moçambique (PRM), nas suas diversas especialidades, voltou a mostrar estar pronta e devidamente equipada para reprimir qualquer acto de manifestação pacífica. A última prova foi dada na sexta-feira, quando membros e simpatizantes da Renamo voltaram a sair à rua para protestar os resultados das VI Eleições Autárquicas, que dão vitória à Frelimo em 64 autarquias.
Moralizada com o pagamento, na semana finda, de todos os salários em atraso, a Polícia partiu para cima dos manifestantes, lançando gás lacrimogéneo e disparando balas de borracha. Em algumas ocasiões, disparou balas reais, alegadamente com intenção de dispersar os manifestantes. Cenas idênticas, lembre-se, assistiram-se no dia 18 de Março passado, quando diversos cidadãos saíram à rua para homenagear o falecido músico Azagaia, que perdeu a vida a 9 Março.
Para o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, o que se assistiu um pouco por todo o país na sexta-feira foi um “autêntico terrorismo da Polícia contra os cidadãos”, representando um “total desespero de um Governo em decadência e sem legitimidade”.
Em conferência de imprensa concedida neste domingo, Momade manifestou preocupação com o facto de estarem envolvidos, na repressão aos cidadãos indefesos, “cidadãos vestidos a civil, empunhando e disparando armas de fogo como se de mercenários se tratasse”.
“É também inacreditável que as perseguições e matanças de cidadãos não mereçam nenhuma preocupação da PGR [Procuradoria-Geral da República, que continua em silêncio em relação aos actos assistidos em Março] e muito menos do Presidente da República que disse «o povo é o meu patrão»”, defendeu Momade, questionando a prontidão da Polícia em combater os cidadãos em detrimento dos raptos.
“Como se explica o uso de tanto material bélico contra cidadãos civis e indefesos, quando a mesma Polícia queixa-se de não ter meios para combater os raptos e igualmente queixa-se de não ter logística para combater o terrorismo”, indaga-se, garantindo que a entidade liderada por Bernardino Rafael “não vai matar a vontade dos moçambicanos”.
Refira-se que quatro cidades moçambicanas (Maputo, Quelimane, Nampula e Nacala-Porto) viveram momentos de agitação na sexta-feira, na sequência das manifestações convocadas pela Renamo em contestação aos resultados eleitorais divulgados na quinta-feira pela CNE.
Das manifestações, duas pessoas perderam a vida na província de Nampula, sendo um agente da Polícia na cidade de Nampula e um cidadão civil na cidade de Nacala-Porto. Para além de danos humanos, também houve registo de danos patrimoniais, com destaque para o saque de lojas e vandalização de viaturas. (Carta)