A marcha pacífica de repúdio aos resultados das eleições autárquicas protagonizada pela Renamo foi marcada na cidade de Maputo com bloqueios de blindados em algumas avenidas e disparos de gás lacrimogéneo pela Polícia da República de Moçambique.
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) realizou, esta terça-feira, o primeiro dia de uma marcha pacífica em repúdio à alegada fraude nas eleições autárquicas de 11 de Outubro. A marcha que partiu da Praça dos Combatentes (vulgo Xiquelene) contou com a presença do Presidente da RENAMO, Ossufo Momade, que se fazia acompanhar pela sua esposa, bem como dos cabeças-de-lista da Renamo nas cidades de Maputo e Quelimane, respectivamente, Venâncio Mondlane e Manuel de Araújo, entre outros simpatizantes.
Segundo o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, o seu partido venceu as eleições em nove autarquias, por isso a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve agir para repor a verdade, visto que a marcha só irá parar quando a verdade eleitoral for reposta. Ossufo falava minutos antes do arranque da marcha.
Por sua vez, o cabeça-de-lista da Renamo na cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, frisou que o caso já foi remetido à justiça e tem esperança de que a decisão será a seu favor, visto que há evidências mais do que suficientes que comprovam a vitória deste partido.
“O único partido que tem as actas originais é a Renamo, nem os órgãos eleitorais, tampouco a própria Frelimo, que se diz vencedora, tem, o que comprova que eles têm material falso. Portanto, a vitória é da Renamo sem sombra de dúvidas”.
Enquanto os manifestantes indefesos se aproximavam da praça da OMM era possível ver vários carros blindados e membros da Polícia de Intervenção Rápida posicionados bem próximo da avenida Vladimir Lenine. Chegados à praça da OMM, a polícia lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes que marchavam pacificamente e várias pessoas dispersaram-se e tiveram que recorrer à água dos charcos para lavar o rosto e dar continuidade à marcha.
Enquanto caminhavam, era possível ouvir o som da música do falecido rapper Azagaia com o título “povo no poder” e os manifestantes empunhavam dísticos com os seguintes dizeres: “Eu não votei Frelimo, povo no poder” e, ainda, gritavam: “já resgatamos a capital do país”.
Em conversa com “Carta”, Will Enoque Mazivile disse que ″a Frelimo não se cansa de roubar″ e que devia devolver a vitória conseguida com muito sacrifício.
“Os nossos irmãos vêem-nos como se fôssemos malfeitores, mas nós estamos a marchar para cobrar aquilo que são os nossos direitos. A RENAMO ganhou as eleições na cidade de Maputo, nós estivemos a observar tudo, mas a FRELIMO decidiu roubar os nossos votos, a nossa vitória que construímos com muito sacrifício durante muitos anos”.
Enquanto a marcha prosseguia pela avenida Eduardo Mondlane, um forte contingente policial, fortemente armado como se de um cenário de guerra se tratasse e vários carros blindados bloquearam a estrada para impedir que os manifestantes percorressem esta artéria e, depois de várias negociações com a polícia, a marcha continuou na avenida 24 de Julho em direcção à sede da Renamo.
Reagindo a propósito, o citadino Carlos da Silva Uqueio disse: “o nosso presidente Dhlakama morreu para que houvesse a democracia, mas o partido no poder não quer entender isso. Eles passam a vida a bloquear-nos como se não fôssemos moçambicanos. O povo quer estar no poder e o poder está com a RENAMO. Nós estamos cansados desses ladrões, cuja única coisa que sabem fazer é roubar. Esta marcha é uma revolução e não vamos parar até que a verdade eleitoral seja reposta, neste caso a vitória da Renamo”. (M.A)