Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que a população jovem moçambicana está a crescer de forma acelerada e analfabeta. As informações constam de um estudo sobre as condições socioeconómicas da juventude, publicado há dias pela autoridade estatística do país.
De acordo com o estudo, em 20 anos, a população jovem (que compreende idades entre 15 e 35 anos) cresceu na ordem de 4,1 milhões de pessoas, ao sair de 5,3 milhões de pessoas, em 1997, para 9,4 milhões de pessoas, em 2017, sendo que, destes, 5 milhões são do sexo feminino. Até ao ano da realização do Censo Geral da População e da Habitação, os jovens correspondiam a 33,6% da população moçambicana, sendo que a média de idade era de 16,6 anos.
Desagregando os dados, o estudo ilustra que as províncias de Nampula e Zambézia são as que albergam maior número da população jovem, tendo passado de cifras de 1,1 milhão de jovens em 1997, para 1,7 milhão em 2017, em cada província, o correspondente a cerca de 37% da população jovem moçambicana, em 2017. “Entre as províncias com menor número absoluto de população jovem figuram Niassa e Maputo que, em 1997, tinham cerca de 200 mil jovens, tendo passado para 600 mil em 2017”, destaca.
A pesquisa justifica este rápido crescimento da população jovem, no país, com o aumento gradual da sobrevivência infantojuvenil e a manutenção de níveis elevados de fecundidade. Explica que a combinação destes factores “determina a passagem, todos os anos, de um grande contingente de crianças para a idade jovem”.
No entanto, este crescimento não é acompanhado de investimento na área da educação. Em 2017, diz o relatório, 31,5% dos jovens (22,5% homens e 38,9% mulheres) eram analfabetos. Isto é, não sabiam ler, nem escrever.
“A maior parte da população jovem que sabe ler e escrever ou que tem alguma formação concluiu apenas formação básica, que não vai além do nível primário, o que lhe confere pouco conhecimento bem como poucas capacidades técnicas e competências para uma participação plena nos diversos processos produtivos e de desenvolvimento do país”, revela o documento.
O INE reporta ainda que, em 2017, apenas 18% da juventude moçambicana tinha um nível de escolaridade acima do nível primário e apenas 1,5% tinha o nível superior. “Esta percentagem (com ensino superior) aumentou de quase 0,1% em 1997 para 1,5% em 2007 e manteve-se em 2017”, sublinha a pesquisa, notando que a percentagem de jovens com o nível primário aumentou de 47% em 1997 para 48% em 2007 e, depois, para 57% em 2017.
Distribuindo os números pelas 11 províncias do país, o INE revela que o analfabetismo entre os jovens é maior nas províncias de centro e norte que nas províncias do sul. Por exemplo, na cidade e província de Maputo, a taxa de analfabetismo é de 3,1% e 6,1%, respectivamente, enquanto na província de Cabo Delgado é de 45,5% e no Niassa é de 44,8%.
Como resultado do baixo nível de educação e fraca capacidade da economia para acompanhar o ritmo de crescimento da população jovem, defende o estudo, cerca de 3 milhões de jovens estavam em situação de NEET (sigla em inglês): que não estavam empregados, nem a estudar ou em algum tipo de formação profissional, em 2017.
No ano da realização do último censo, diz o INE, do total dos 14.4 milhões de habitantes que compunham a força de trabalho (população em idade activa e disponível para trabalhar), 8.7 milhões (61%) eram jovens, sendo que menos de 15% dos jovens eram assalariados e mais de 85% trabalhavam por conta própria (54%) e/ou estavam em situação de trabalhadores familiares sem remuneração (32%).
“Esta situação sugere que existe um contingente de jovens com potencial, que não tem sido aproveitado através de investimentos na sua educação, formação e enquadramento profissional. Dado que uma parte considerável dos jovens são pouco educados, não estão envolvidos em nenhum tipo de formação profissional e nem enquadrados em nenhum sector produtivo da sociedade, estes têm potencial elevado para se tornar numa fonte de instabilidade social”, alerta a pesquisa.
A pesquisa refere ainda que o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação, entre os jovens moçambicanos, é muito baixo. “Se, por um lado, apenas 8% têm acesso a um computador, por outro, 44% têm celular, porém, apenas 13% têm acesso à internet. Se estas tendências não forem revertidas, para além de menos escolarizada, a juventude moçambicana fará parte dos excluídos da era digital, tornando-os menos competitivos num mundo cada vez mais digitalizado”, defende.
Para os pesquisadores, os resultados deste estudo sugerem que há uma necessidade urgente de as políticas públicas em Moçambique colocarem no seu centro as questões da juventude, sobretudo as relacionadas com educação e formação profissional, acesso a cuidados de saúde sexual e reprodutiva e criação de oportunidades de trabalho.
“Essas políticas deverão ter em atenção as desigualdades territoriais entre as províncias e regiões e, sobretudo, as desigualdades de género, devendo, portanto, ser inclusivas através da identificação, remoção e eliminação de quaisquer barreiras (em particular as relacionadas com casamento e maternidade precoces) para a emancipação da rapariga e da jovem mulher moçambicana”, esclarece.
Refira-se que o estudo foi elaborado com base nos dados dos censos populacionais de 1997, 2007 e 2017 e complementado por informações de inquéritos nacionais representativos e da revisão de literatura. (A. Maolela)