A ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, disse em Maputo que acredita que a justiça “vai ser feita de alguma maneira” no caso do assassinato da sua irmã, a ativista e vereadora Marielle Franco.
“A minha mãe sempre fala que se não for a justiça dos homens, vai ser a justiça de Deus e a gente precisa esperar e acreditar nisso”, disse a governante brasileira, à margem de uma roda de conversa com estudantes, em Maputo.
Defensora dos direitos humanos e, na época, vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco foi morta a tiro, bem como o seu motorista, Anderson Torres, na noite de 14 de março de 2018, quando saíam de um comício político.
Passados mais de cinco anos desde o assassinato, a irmã da ativista, Anielle Franco, atual ministra, afirmou acreditar que a justiça “vai ser feita de alguma maneira, se não for agora, mais para a frente”.
A governante brasileira admitiu que teve alguns receios quando recebeu o convite para assumir o cargo de ministra da Igualdade Racial no Governo de Lula da Silva, referindo que tem, por isso, tentado “minimamente se precaver e proteger” para não correr os mesmos riscos.
“Tudo o que diz respeito a política é claro que assusta a gente de mais”, vincou a ministra, referindo que as mulheres brasileiras passaram a ter medo de se candidatar a cargos políticos no país devido ao nível de “violência política” que têm sofrido.
“A maior parte das mulheres no país que sofrem violência política são mulheres negras e LGBT [sigla para lésbicas, ‘gays’, bissexuais e transgénero]”, destacou Anielle Franco, acrescentando que se está a avaliar a aplicabilidade das leis sobre o racismo e a punição em caso de violência política.
O ex-vereador e polícia militar brasileiro Zico Bacana, uma das testemunhas da investigação sobre o assassínio de Marielle Franco foi morto a tiro no dia 07 deste mês, no Rio de Janeiro, segundo a Polícia Militar.
Zico Bacana já tinha sofrido uma tentativa de assassínio em novembro de 2020.
Desde 2018 ainda não se sabe quem ordenou o homicídio da ex-vereadora e ativista Marielle Franco. Entretanto, em julho, a Polícia Federal brasileira deteve no Rio de Janeiro um ex-bombeiro suspeito de ter participado no homicídio.
O detido é Maxwell Simões Correa, apontado como cúmplice do duplo homicídio e que já tinha sido condenado em 2021 a quatro anos de prisão por obstrução à Justiça neste caso, embora cumprisse a pena em regime aberto, segundo fontes do Ministério Público.
As investigações apontaram que o ex-bombeiro era o proprietário do veículo que servia para guardar as armas do ex-agente policial Ronnie Lessa, acusado de ser um dos autores do crime que chocou o Brasil e teve ampla repercussão internacional.
A prisão ocorreu no âmbito de uma operação lançada pela Polícia Federal, que incluiu buscas em sete endereços na cidade do Rio de Janeiro e região metropolitana.
Com a chegada ao poder do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em 01 de janeiro deste ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, criou um grupo especial dentro da Polícia Federal para apoiar as investigações da polícia do Rio de Janeiro com o objetivo de solucionar definitivamente o crime.
Os dois supostos autores materiais, os ex-agentes Elcio Queiroz e Ronnie Lessa, foram detidos em 2019, mas ainda não se sabe quem foi o mandante. O Ministério Público suspeita que tenha sido um crime encomendado.(Lusa)