Contrariamente ao discurso oficial, que propala transparência nos processos eleitorais da Frelimo e um ambiente de harmonia e de democracia interna saudáveis, a realidade mostra o contrário: que o autoritarismo e divisionismo estão cada vez mais vivos.
Uma das amostras veio do recente processo eleitoral dos membros do Comité Central, que teve lugar esta segunda-feira, no qual os jornalistas foram impedidos de acompanhar o processo de votação, assim como a divulgação dos resultados. Nos anteriores congressos, sublinhe-se, os jornalistas eram convidados a assistir o processo eleitoral, com destaque para a votação e a divulgação dos resultados.
A votação dos membros do Comité Central, refira-se, ocorreu logo pela manhã, por volta das 10:00 horas, e, de acordo com o programa fornecido à comunicação social, os resultados seriam divulgados às 14:00 horas. No entanto, os mesmos só foram comunicados aos delegados depois das 22:00 horas. Aos jornalistas apenas foram apresentados os membros eleitos ao órgão na manhã desta terça-feira.
Os jornalistas não foram informados das razões que concorreram para o atraso do apuramento dos resultados e sequer foram deixados aceder à sala de sessões. Aliás, os profissionais da comunicação social até foram chamados a entrar na sala, entretanto, quando se encontravam na entrada foram barrados, alegadamente porque tinha sido emitida uma ordem contrária.
Na entrevista que concedeu à Televisão de Moçambique (TVM), Caifadine Manasse, porta-voz da Frelimo, não avançou as razões da demora e nem da exclusão dos jornalistas. Apenas repetiu o refrão de que “foi um processo democrático e que correu com normalidade”.
No entanto, “Carta” sabe que o processo não foi democrático e muito menos decorreu na normalidade. A demora no apuramento dos resultados deveu-se aos acertos que estavam sendo feitos nas listas de candidatura, tendo em conta que alguns candidatos alistados pela actual direcção do partido não tinham aceitação juntos do eleitorado.
Após a votação, era notável a habitual festa dos “vencedores” e a tristeza dos reprovados. Um dos eleitos que não escondeu a sua satisfação é Ana Senda Coanai, PCA do IGEPE (Instituto de Gestão das Participações do Estado), que juntou o seu grupo de trabalho dos bastidores para cantar e dançar e fazer o respectivo brinde. Aliás, Ana Conai até montou uma tenda no local para operar nos bastidores com vista a conseguir a sua eleição.
Segundo Caifadine Manasse, o novo Comité Central da Frelimo está à altura e vai corresponder com as expectativas do partido, sendo “o Comité Central mais coeso e mais unido”.
Eleição do novo Secretário-Geral e membros da Comissão Política também será à porta fechada
Esta terça-feira, para além da apresentação dos novos membros do Comité Central, também serão eleitos os novos membros da Comissão Política, o órgão mais importante da Frelimo no intervalo entre as sessões do Comité Central, o novo Secretário-Geral do partido, o novo Secretário do Comité de Verificação do Comité Central, o novo Secretariado do Comité Central e o novo Secretariado do Comité de Verificação do Comité Central.
No entanto, contrariamente aos anteriores congressos, em que a eleição dos membros destes órgãos, assim como do Secretário-Geral era feito à porta aberta, desta vez, a sessão eleitoral será feita à porta fechada.
Até ao momento, não são conhecidos os candidatos ao cargo de Secretário-geral do partido, no entanto, avança-se a possibilidade de Roque Silva Samuel, actual Secretário-Geral do partido, renovar o mandato. Também não são conhecidos os candidatos à Comissão Política. (A.M.)