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quarta-feira, 03 agosto 2022 06:20

“Presidenciais” no Quénia: Raila Odinga, líder da oposição, lidera com apoio do Presidente Uhuru Kenyatta

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Raila Odinga, antigo Primeiro-Ministro no quadro dum ‘governo de unidade nacional’ e destacado veterano oposicionista do Quénia, que se candidata pela quinta vez ao mais alto cargo público deste país da África Oriental, está a um passo de alcançar o seu há muito perseguido objectivo político número um, conforme o sugere o relatório de uma sondagem eleitoral publicada na manhã de hoje, 3 de Agosto, aqui em Nairóbi.

 

De acordo com a referida sondagem, realizada por telefone entre 30 de Julho último e 1 de Agosto corrente, Odinga, candidato presidencial da Coligação Azimio, lidera, a escassos seis dias das eleições, as intenções de voto com 49%, seguindo-se-lhe o actual vice-presidente William Ruto, da coligação Kenya Kwanza, com 41%.

 

Ao que tudo indica, serão os candidatos indecisos a decidir quem, entre Odinga e Ruto, irá suceder Uhuru Kenyatta, que, curiosamente, apoia Odinga e não o seu “vice”, que o considera “unfit for the job”, ou seja, não preparado para as funções de Presidente do Quénia.

 

Segundo a sondagem, comissionada pelo Nation Media Group, os eleitores indecisos constituem 7%, acreditando-se que bastará a Odinga, cuja coligação é integrada e presidida pelo Jubilee Party, do Presidente Kenyatta, angariar pelo menos um quarto desse segmento para ganhar à primeira volta.

 

Dois outros candidatos concorrem às presidenciais, no contexto das eleições combinadas da próxima terça-feira no Quénia, nomeadamente George Wajackoyah, do Roots Party, com 2% das intenções de voto, e David Waihiga, do Agano Party, com 0.2%.

 

Se Odinga vencer as eleições da próxima semana, tal será a segunda vez em um ano que um político da oposição alcança(rá) essa façanha em sede da quinta tentativa na África Subsaariana, região de que Moçambique é parte, tal como sucedeu em 2021 com Hakainde Hichilema, actual presidente da Zâmbia.

 

Porquê Uhuru apoia Odinga?

 

Duas razões podem ser apontadas ao facto de o actual incumbente, Uhuru Kenyatta, apoiar Raila Odinga, em detrimento do seu vice-presidente, William Ruto, tendo uma mais que ver com afinidades e conexões históricas e outra de pendor estratégico.

 

Na dimensão das afinidades e conexões históricas, há a destacar o facto de Uhuru Kenyatta, de 60 anos, filho do primeiro presidente queniano, Jomo Kenyatta, ser, na verdade, uma espécie de “irmão mais novo” de Raila Odinga, de 77 anos, ele que é filho de Jaramogi Oginga Odinga, que foi “vice” do pai de Uhuru Kenyatta.

 

Tanto Kenyatta como Odinga, quais “descomunais aliados”, nasceram e/ou cresceram, em bom rigor, nos mesmos corredores políticos, onde nunca faltou tapete vermelho, bife de primeira, leite fresco e escola de elite.

 

Aliás, as afinidades e conexões históricas entre ambos terão sido cruciais na superação da crise político-eleitoral de 2017-2018, que se seguiu às conturbadas eleições presidenciais anuladas pelo Tribunal Supremo do Quénia, que ordenou, na ocasião, a realização de uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados na primeira, nomeadamente Uhuru e Odinga.

 

Mas Odinga boicotou a sobredita segunda volta, que foi, obviamente, ganha por Kenyatta. A referida crise político-eleitoral, que se saldou na morte de perto de 200 pessoas, se agudizou quando Odinga “conferiu posse” a si mesmo, em acto público no qual se declarou “Presidente do Povo”.

 

Não tardou muito que ambos, na altura adversários políticos e hoje aliados, se reconciliassem, tendo sido nessa ocasião que exibiram um forte aperto de mãos e se declararam “eternos irmãos”. 

 

Na dimensão estratégica, ressalta a forte probabilidade de Kenyatta poder estar, bem vistas as coisas, a investir na sua segurança e na da sua família, que é das mais ricas do Quénia. Em África, onde não é raro que riqueza exponencial tenha fontes ilícitas, é comum ver antigos presidentes a serem chamados à justiça, sobretudo pelos seus oponentes políticos.

 

Por outro lado, e ainda na perspectiva estratégica, Kenyatta estará, igualmente, a fazer de tudo para continuar na esfera efectiva do poder, sem estar formalmente lá. A alteração recente ao regime das coligações político-eleitorais neste país é disso a maior evidência.

 

De resto, com o novo quadro legal das coligações político-eleitorais do Quénia, os acordos firmados em sede das mesmas já são vinculativos, ou seja, de cumprimento obrigatório, desde que em conformidade com a Constituição e demais legislação.

 

É no âmago desse “arranjo legal” que Kenyatta, que é agora chefe de Odinga na Coligação Azimio, pode continuar materialmente no comando. 

 

Centralidade do Quénia e as sempre presentes questões tribais

 

Quénia é um dos mais importantes países para a economia e segurança da região subsaariana de África, de que Moçambique é parte, o que faz com que ‘players’ de primeira linha como os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (EU) tenham, inclusive, robustas estratégias de segurança para este país.

 

Questões de segurança no Quénia estão sempre no topo da agenda, muito por conta da exposição do país ao terrorismo. Em períodos eleitorais, as questões tais ganham relevância acrescida, dado o histórico de profundas crises pós-eleitorais no país, sobretudo deste 2007, o que até já levou um presidente e seu “vice” serem acusados pelo Tribunal Penal Internacional.

 

É esta dimensão que Carta destacará, amanhã, na sua cobertura às eleições quenianas de 2022, combinando presidenciais, legislativas e locais.(Carta)

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