Uma agitação popular tomou conta da vila-sede do distrito de Marracuene, província de Maputo, na manhã do último sábado, fruto de uma acção de recolha de produtos e bens de vendedores informais, protagonizada pela Polícia da República de Moçambique (PRM).
Ao que “Carta” apurou, a acção teve lugar em todas as ruas daquela sede distrital e visava a retirada compulsiva de vendedores informais, que inundam os passeios daquela vila da província de Maputo.
Na sua acção, a Polícia apreendeu diversos produtos e bens, cujo destino ainda é desconhecido. As fontes disseram à nossa reportagem que, para além de recolher os produtos, a Polícia deteve ainda um cidadão que se recusava àquela acção.
Como retaliação, os populares dirigiram-se ao Comando Distrital da PRM, em Marracuene, com o objectivo de exigir a libertação do seu companheiro de trabalho, porém, foram recebidos com tiros. “A Polícia disparou quatro tiros para dispersar a população”, contou a fonte, garantindo que não houve vítimas.
Segundo as fontes, a recolha de bens e produtos dos vendedores informais tornou-se uma rotina naquela sede distrital. Semanalmente, a Polícia tem recolhido diversos produtos das mãos dos vendedores, porém, sem conseguir o seu objectivo: acabar com o comércio nos passeios daquela vila.
A campanha de retirada de vendedores informais da vila de Marracuene teve seu início em finais de 2018, quando o Governo distrital decidiu transferir o terminal de transporte de passageiros para o bairro Possulane. A ideia era criar um mercado formal junto do terminal de transportes.
No entanto, dizem as fontes, o projecto nunca teve sucesso, pois, os transportadores semi-colectivos não aderiram ao novo terminal e, como consequência, o movimento também sempre esteve fraco, facto que não favorecia aos negócios.
Para além da falta de movimento, os vendedores afirmam que em Possulane não há condições para o desenvolvimento do negócio, desde a falta do próprio mercado (infra-estruturas) até à ausência de balneários. Garantem ainda que a vila de Marracuene é um local estratégico para o desenvolvimento de qualquer negócio, diferentemente de Possulane.
“Carta” não conseguiu falar com o Administrador do distrito de Marracuene, Shafee Sidat, que decidiu não atender as nossas chamadas telefónicas. Por seu turno, a porta-voz da PRM, na província de Maputo, Carmínia Leite, prometeu reagir, mas não se verificou até ao fecho desta edição.
Refira-se que as acusações de expropriação de bens e produtos dos vendedores informais por parte da Polícia (seja Estatal, como Municipal) não são novas. Casos similares têm sido reportados em todo o país.
Por sua vez, o combate ao comércio informal também se revela uma luta perdida. Em 2020, por exemplo, o Conselho Municipal da Cidade de Maputo tentou combater, de forma coerciva, a venda nos passeios da capital do país, mas o projecto fracassou. (Carta)