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quinta-feira, 09 junho 2022 06:49

Alegação de roubo de energia: VIP Supermercados (Vip Group) diz que houve “um mal entendido” (actualizada)

Todos roubam à EDM mas todos querem que ela preste melhores serviços. Ligações piratas (domésticas, comerciais e industriais), algumas com conluio interno, e roubo industrial de fios de cobre, são desmanteladas todos os dias. Os prejuízos na infraestrutura de distribuição são avultados: 26 milhões de USD só no ano passado. O sector privado é um dos principais prevaricadores. As companhias de telefonia móvel também se queixam da “vandalização”. 

 

Uma alegação apontou o VIP Grup como um dos casos mais frescos de prevaricação com consumo inapropriado de electricidade, mas a gigante local do comércio retalhista, a cadeia VIP Supermercados que também faz o “franchise” da marca sul africana SPAR, diz que houve um “mal entendido”.

 

Na terça-feira, uma equipa de inspecção da EDM detectou anomalias no consumo de electricidade num escritório localizado no quinto andar do conhecido prédio JAT 1, na baixa de Maputo. Os escritórios já foram usados pela consultora Eurosis, mas a actual assinatura contratual com a EDM está em nome do Vip Group. 

 

O Group VIP diz que houve um “mal entendido” mas evitou entrar em detalhes. E acrescenta que colaborou prontamente com a EDM tendo as duas empresas chegado a um consenso sobre as razões do problema”. O Grupo realça que é uma dos maiores pagadores da empresa de electricidade e tem planos para expandir a sua rede de supermercados, nomeadamente abrindo uma nova unidade em Vilankulo. O grupo é um das principais retalhistas em Moçambique que, a par do Grupo Premier (Mica), adquiriu direitos comerciais para vender a marca SPAR.

 

No final da tarde desta quinta feira, o Group VIP emitiu um comunicado que transcrevemos integralmente:

 

Circula nas redes sociais e outras plataformas digitais uma informação difundida pelo jorna ‘Carta’, sobre um alegado escândalo de roubo de energia fornecida pela Electricidade de Moçambique E.P., por parte do Grupo VIP SUPERMERCADOS. Tudo quanto foi reportado não passa de um mal-entendido entre os funcionários de empresa e o pessoal da EDM, na medida em que a equipa de inspecção daquela empresa pública deslocada ao local teve acesso às instalações, estando neste momento a trabalhar com o GRUPO VIP para esclarecer o equívoco.

 

A empresa tem vindo a respeitar todas as posturas estaduais incluindo o pagamento da energia fornecida pela EDM em todos os supermercados espalhados pelo país o que pode ser comprovado a quem de direito, mediante apresentação de facturas e recibos.

 

Por estas razões entre outras, o Grupo VIP SUPERMERCADOS distancia-se dos factos reportados, disponibilizando-se a colaborar com quem de direito para esclarecimento e reposição da verdade”.

 

Os donos do  Group VIP são de origem libanesa. Quando chegaram a Moçambique em 2006, abriram o primeiro Supermercado VIP, nos arrabaldes entre o Chamanculo e o Bairro do Aeroporto, nas proximidades da Avenida Gago Coutinho, em Maputo. Em pouco tempo, a empresa expandiu para um Super no edifício JAT 1 e outro na cidade da Matola, nas instalações onde funcionava a marca “Ka da Terra”, também com “franchise” do Spar.

 

Nas suas páginas promocionais, o grupo VIP Group diz ter “inovado um prestigiado portefólio de lojas comerciais”. Opera 10 supermercados do norte ao sul, nomeadamente Matola, Zimpeto, Chimoio, Tete, Nampula, Nacala, Pemba, Beira, Palma, Songo, Lichinga. A empresa refere que se tornou “base de novos ‘benchmarks’ no retalho por meio de serviços actualizados, categorias de produtos e amenidades”, servindo mais de 100.000 compradores diariamente.

 

EDM perdeu 16 milhões de USD ano passado

 

Este caso é o mais cru exemplo de como a EDM tem vindo a ser descapitalizada, através do roubo externo. Sua descoberta aconteceu um dia depois de a EDM ter realizado um seminário onde revelou números astronômicos nas perdas que a empresa contabiliza com roubos nas suas infra-estruturadas de distribuição de electricidade.

 

Há anos atrás, a EDM usava um eufemismo para caracterizar um fenômeno que era protagonizado por pequenos delinquentes, pilhas-galinhas que arriscaram suas vidas roubando fios de cobre para subsistência: Vandalismo. Hoje a dimensão do roubo é industrial. Seu produto alimenta indústrias de ferragens e de serralharias no país e na África do Sul (onde a Eskom tem sofrido o mesmo tipo de assalto), tendo virado um novo produto de contrabando transfronteiriço.

 

No primeiro trimestre  deste ano, a EDM perdeu cerca de 250 mil USD devido à vandalização das suas infra-estruturas em todo o país. Os prejuízos foram anunciados segunda-feira, em Maputo, pelo Administrador da Área Comercial, Distribuição e Informática da empresa, Francisco Inroga, que sublinhou que “os materiais eléctricos roubados destinam-se ao negócio de venda de sucata à indústria artesanal para o fabricação de utensílios domésticos, tais como: grades, armadilhas, carrinhos e outros fins”.  Ele falava num seminário organizado pela empresa para discutir a problemática. O evento juntou empresas públicas e privadas e a sociedade civil.

 

O valor perdido durante os primeiros três meses do ano serviria para fornecer eletricidade a 50 mil pessoas na região sul do país, onde se regista o maior número de casos. Mas os números de 2021 são mais alarmantes: cerca de 16 milhões de USD. Em conexão com os crimes do ano passado,  95 pessoas foram presas.

 

“Vandalismo” é um termo brando para o que é, na verdade, roubo em larga escala de cabos de cobre e alumínio e outros equipamentos metálicos. Os ladrões, disse Inroga, querem “extrair um material muito apetitoso do mercado que é o cobre. Grande parte da nossa infraestrutura elétrica como cabos, transformadores, condutores são feitos de cobre”.  O cobre roubado à EDM, frisou a fonte, acaba muitas vezes no mercado sul-africano, pelo que “estamos a trabalhar com a polícia, as autoridades aduaneiras e outras partes interessadas″.

 

Vodacom e Tmcel também são vítimas

 

O roubo afecta também companhias de telefonia móvel. O director de Logística e Serviços Gerais da empresa pública de telefonia móvel Tmcel, António Faria, disse que a sua instituição perdeu, nos últimos três anos, por vandalismo e furto de material elétrico, um valor estimado em 1 milhão de USD. 

 

E o director de Operações interino da segunda operadora de telefonia móvel, a Vodacom, Mateus Moiane, disse que vem registando o mesmo fenômeno desde o ano de 2015. “Perdemos cerca de 207 milhões de meticais (cerca de 3,23 milhões de dólares) desde 2015, valor que seria suficiente para construirmos cerca de 35 torres. Este fenómeno acontece em quase todas as zonas do país mas com mais intensidade na cidade e província de Maputo, Inhambane, Tete e Nampula”, explicou. (MM, com AIM)

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