Saleem Karim, o actual Presidente da Comunidade Maometana de Maputo (CMM), uma das mais influentes do país no campo comercial, tem origem paquistanesa, como a maioria dos membros da agremiação, e adquiriu legalmente a nacionalidade moçambicana há quatros anos. Karim dirige a CMM há 12 anos, quando o anterior titular, Momad Bashir Sulemane, o famoso MBS, foi indicado como barão do tráfico de drogas pelo Governo norte-americano. MBS foi forçado a demitir-se para não “sujar” o nome da agremiação.
Ironicamente, Saleem Karim também está a ser conotado com enriquecimento ilícito baseado no tráfico de drogas, no entanto, nada provado. Ele está de pedra rija no posto, embora sua performance seja considerada “negativa”. Nos últimos 7 anos, Karim não prestou contas a ninguém. E, no passado dia 9 de Maio, ele (e não o presidente da Mesa da Assembleia-Geral) marcou eleições para o próximo dia 20 de maio, pelas 19:30 horas.
Ele quer suceder-se a si mesmo, mas conta com um grande opositor, o conhecido jurista moçambicano Salim Omar, cuja família desembarcou em Moçambique há mais de três gerações. Ou seja, Salim é mais “moçambicano” que Karim e goza de grande reputação como advogado.
A Comunidade está dividida entre muçulmanos nascidos em Moçambique (famílias com mais de três gerações neste solo índico) e novos imigrantes paquistaneses que paulatinamente estão tomando conta dos destinos da comunidade. Os novos, “os vientes”, para usar uma expressão do linguajar popular, são conotados com negócios obscuros, incluindo o sequestro de empresários há muito localmente sedimentados.
Saleem Karim não escapa dessas conotações. Quando chegou há pouco mais de uma década, ele abriu uma casa de câmbios numa das avenidas mais elitista de Maputo, a Julius Nyerere. A “Overseas Cambios” foi fechada poucos anos depois, pelo Banco de Moçambique, por alegada contrafação. Hoje, ele está envolvido em projetos imobiliários na marginal maputense, o Maputo Beach Front, e tenciona erguer um hotel de cinco estrelas, num investimento orçado em mais de 225 milhões de USD, de acordo com fontes próximas.
“Carta” tentou infrutiferamente conferir estas alegações com o empresário. Ele não atendeu nossas insistentes chamadas. Uma fonte disse que ele era um “mastermind” da lavagem de dinheiro em Maputo, cuja expressão se traduz no recente “boom” imobiliário, sem mercado aparente. Para isso, “ele usa a capa de Manzar Abbas”.
As eleições marcadas para o dia 20 de Maio vão ser fortemente disputadas. A ala mais moçambicana da comunidade quer resgatar a agremiação e seus valores de solidariedade, afastando-a de suas conotações. Mas, o desafio é espinhoso. Todos os dias desembarcam em Maputo dezenas de paquistaneses, que em poucos meses se tornam moçambicanos, adquirindo uma falsa cidadania nas redes de corrupção entranhadas nos serviços migratórios. Alguns destes têm engrossando a lista de membros da comunidade, com quem Karim pode contar.
Nos últimos dias, assistiu-se a uma frenética actualização de quotas por parte de membros desta ala, para poderem votar. Ou seja, se Karim for reeleito, ele terá tido o apoio de imigrantes ilegais com falsa cidadania.
O candidato à sua sucessão, o advogado Salim Omar, denunciou recentemente ao Governo uma “ onda de mal-estar no seio da Comunidade e sua direcção”. Ele fez tais denúncias junto da Direcção para Assuntos Religiosos do Ministério da Justiça. As denúncias não foram detalhadas, mas é um facto que Saleem Karim está há dois anos fora do mandato. E consta que há intimidações para se votar na sua lista. A procissão vai no adro. É provável que o Ministério da Justiça intervenha para pôr cobro a uma guerra de poder de caráter intra-comunitário. (Marcelo Mosse)