Logo que seu nome foi revelado ontem como sendo um dos detidos no caso das “dívidas ocultas”, todas as referências sobre sua história convergiam para uma alegação: Bruno Tandane, também conhecido por “Nonó”, era um associado do filho do antigo Presidente Armando Guebuza, um frequentador assíduo das hostes da então família presidencial. A alegação tornou-se verdadeira quando foi circulado nas redes sociais um recorte de uma edição do Boletim da República (BR), mostrando o anúncio da constituição de uma empresa, a Mobimóveis Limitada, em Março de 2011, onde os dois são sócios únicos. Aconteceu dois anos antes do início da orquestração do calote. Bruno Evans Tandane Langa tornou-se sócio de Armando Ndambi Guebuza nessa altura, mas eles já eram amigos de longa data, de acordo com fontes de “Carta”.
No BR (segundo suplemento, III Série, número 10, de 11 de Março de 2011) consta que a Mobimóveis foi criada como uma empresa de prestação de serviços de consignação, agenciamento, mediação e intermediação comercial de material de escritórios e residências; elaboração de projectos e consultoria para elaboração de projectos mobiliários; design e decoração de interiores e exteriores; importação e exportação de bens em geral e serviços.
Bruno Tandane (na verdade Bruno Langa) é filho de Jorge Langa e Artemisa Tandane. Quem lhe conhece diz que cresceu no coração da Polana, em Maputo, na zona da Vila Algarve. Era um rapaz de hábitos modestos. Também passou parte da infância e adolescência na Matola. No registo da Mobimóveis em 2011, Bruno era ainda solteiro. Mas, recentemente casou-se, com grande pompa e desmedida circunstância, tendo como padrinho Teófilo Nhangumele.
Ainda não é claro qual foi o seu papel no calote. Apresentava-se como membro do SISE, mas há quem diga que isso era apenas uma capa de protecção. De há uns tempos para cá, sobretudo entre 2013/14/15, seu estilo de vida mudou radicalmente. Passou a ser um endinheirado, tendo comprado gado de raça e uma viatura Ferrari. Nessa altura, sua amizade com Ndambi estava em alta. É descrito como tendo participado dalgumas viagens para França, no quadro do “procurement” dos barcos da Ematum, acompanhando os filhos de Armando Guebuza, nomeadamente Ndambi e Mussumbuluko.
Desde essa altura, dizem as nossas fontes, Nonó começou a ostentar riqueza a valer. Tal como muitos jovens próximos dos filhos de Guebuza, Bruno Tandane também adquiriu seu Range Rover mas, de acordo com um amigo próximo, ele preferiu “investir” na África do Sul, onde vivia como um “lord”.
Com Ndambi, em 2016 terá estado desavindo. Tiveram algumas altercações e Ndambi lhe terá dados costas, numa altura em que parte do seu gado de raça foi confiscado na fronteira de Ressano (e depois roubado), alegadamente por importação irregular. Sua irmã Cátia Langa surgiu na altura nas câmeras da TV barafustando contra tudo e todos.
Os dois acabaram fazendo as pazes. Afinal, eram amigos de gema. Quando Ndambi saiu do Mathew Phosa Collegue, em Mpumalanga, em 2002, para estudar em Durban, Bruno seguiu-lhe as peugadas. Eram como unha e dedo. Aliás, essa amizade deve ter tido antecedentes numa relação entre Armando Guebuza e o empresário Júlio Tandane, tio de Bruno, cujo nome virou parangonas num caso polémico de desfalque do antigo BPB (Banco Popular de Desenvolvimento). Júlio Tandane geria alguns interesses empresariais de Guebuza.
“O melhor amigo de Ndambi”, como lhe descrevem, acabou agora nas malhas da justiça. Quem lhe conhece diz que é apenas um “pobre inocente” que se beneficiou do calote. Porquê ele?, questiona-se. A chave para a compreensão do papel de Bruno na trama do endividamento oculto parece residir na sua relação de amizade com Ndambi. Seu depoimento em Tribunal vai ser revelador. Será que ele está disposto assumir a culpa? Ou arrastará o amigo?(Marcelo Mosse)