Por ocasião do meu aniversário, quero partilhar um pouco de mim, com especial destaque paras as décadas 80 a 90, um período de muitos desafios. Nessa época, faltava um pouco de tudo. Criei suínos na Matola C e na Unidade H e alimentava-os à base de restos de produção de cerveja 2M, em que adicionava restos de hortícolas que recolhia no mercado central, na baixa da cidade. Lembre-se que, nessa altura, os produtos a grosso (que actualmente são adquiridos no Zimpeto) eram adquiridos onde foi construído o silo de parqueamento. Para o efeito, adicionava sal para dar algum valor nutritivo e fazia isso misturando num tambor de 200 litros cortado a meio.
Tive um período de estudante nocturno, na Escola Secundária da Matola e mais tarde na Francisco Manyanga. Fui igualmente professor de Geografia, na Escola Secundária da Machava. Lembro-me que uma das salas que usei, hoje é a Direcção da Educação, junto à Administração, para além de que fui assistente técnico agrícola de um produtor de hortícolas na Matola.
Vendi banana da empresa Socas de Xai-Xai, onde meu amigo Maela era Director e também criei Patos. Fornecia carne de suínos aos restaurantes na Cidade de Maputo e Matola. Vendia bananas ao público, tendo desistido da criação devido à peste Suína. Em relação à banana, a cooperativa de Consumo na Padaria Boane na Matola ficou a dever-nos uma carrada e por isso desisti da actividade.
AB
“Vida: estado de actividade dos animais e das plantas, o tempo que dura desde o nascimento até à morte, existência, modo de viver, conjunto das coisas necessárias à subsistência, biografia de uma pessoa, comportamento, profissão, carreira, actividade, animação, vitalidade, causa, origem, essência”.
In Dicionários dos Estudantes, Português.
O Homem nasce, cresce, reproduz e morre! Diz-se a isto o ciclo da vida. O que cada um escolhe fazer, neste intervalo, entre o nascimento e a morte são escolhas individuais, condicionadas ou não, mas tudo irá depender da pessoa e do meio que o rodeia, as pessoas com quem convive, as políticas de onde nasceu, o meio ambiente e tudo isso pode influenciar na pessoa que vier a ser na fase adulta. Contudo, é certo que todos nascemos nus, sem nada e o primeiro sinal da nossa existência na terra é o choro à nascença!
Para nós todos, a duração do dia é igual, independente da raça, origem social, religião, filiação partidária, desportiva e outros. O dia possui 24 horas e todos nós beneficiamos dessas 24 horas, ainda que sejas muito rico, tenhas muitos poderes, influência política, económica ou social, na vida, não terás mais que 24 horas e o que fizeres com o seu fundo de tempo é problema teu. Podes dormir mais tempo que as oito aconselhadas, podes trabalhar menos que as oito aconselhadas e podes te divertir mais que as oito aconselhadas, o resultado irá depender do teu comportamento e atitude perante a forma como usas o teu tempo.
Fala-se de 8+8+8=24 ou seja, temos oito horas consagradas ao trabalho, oito horas para o lazer e oito horas para o descanso. Contudo, em alguma fase da vida, pode não obedecer a este padrão considerado ideal. Por exemplo, as crianças usam o tempo para brincar e estudar, alguns adultos carenciados, conscientes das dificuldades da vida e com a necessidade de superação, dedicam mais tempo a trabalhar que ao lazer e descanso. Mas tudo tem fases. Haverá fase em que descansar é muito importante que o lazer e que o trabalho, tudo depende do estado físico e psíquico em que a pessoa se encontra.
Eu, por exemplo, durante alguma fase da minha vida, trabalhei mais do que descansava e me divertia. Na fase adulta, na década 80 por exemplo, posso dividir esta década em duas partes. Tive um período em que trabalhava inevitáveis oito horas ou um pouco mais. Ia à escola à noite, regressava à casa, fazia a refeição nocturna e depois descansava. Acordava cedo, fazia limpeza nas pocilgas, dava de comer aos suínos, depois me preparava para o trabalho. Confesso que, neste período, não tinha passeios e não participava em nenhum divertimento. A minha rotina era essa mesmo, o período de descanso estava entre 5 a 6 horas por dia.
Na outra metade da década 80, a rotina era a mesma, com a diferença de que já era Professor de Geografia, da 5ª e 6ª classes no antigo sistema de Educação, isto na Machava. Nesta fase, acresce-se que fui assistente Técnico Agrícola na Machamba de um cidadão nacional, uma tarefa que fazia aos sábados e domingos. Diria que foi uma fase muito complicada, olhando deste lado e neste momento. Na altura, achava isso normal e tinha muito prazer em fazer. Na Matola, Unidade H, e Matola C onde vivi por esse tempo, as pessoas ainda se recordam de mim e da minha família.
Na Matola C, por exemplo, era normal, às 2h00 da manhã, acordar, porque os porcos saíram das pocilgas e invadiram a casa do vizinho. Tinha que acordar e trazê-los a casa e não era nada fácil. Muitas vezes, depois desse exercício, não voltava à cama, punha-me a concertar a pocilga e a fazer limpezas. Uma coisa interessante, nessa altura, não havia farelo e nem sêmea à venda, portanto, recorria-se ao resto de produção de cerveja 2M e, como aquele produto era pobre, tinha que adicionar os restos de hortícolas e sal de cozinha, de modo a tornar o produto nutritivo. Devo dizer que cheguei a ter mais de 100 suínos no quintal.
A outra actividade que realizei nesse período foi a criação de patos, a título pessoal. É verdade que, na empresa, também criava esses animais, os patos não davam tanto trabalho quanto os suínos, mas, em contrapartida, reproduziam muito e o segredo era a alimentação. Ao contrário dos dias de hoje, naquela década, as moageiras vendiam o grão de trigo rejeitado, que é muito bom para os patos e para os pombos. Lembro-me do projecto da Helvetas que, na altura, fazia a produção de extensão por famílias, isto já na década 90, um pouco depois dos Acordos de Paz de Roma. Os criadores de patos tinham mercado certo para a sua produção.
Lembro-me, embora não tenha sido parte do projecto, a Mozal fazia a extensão de cabritos. Uma família recebia um casal e, passado um tempo, tinha de contribuir para outra família. Foram iniciativas extraordinárias que não percebo muito bem por que razão deixaram de existir. O meu amigo Dr. Mausse esteve à frente destas iniciativas. Foi um período de trabalho intenso, muitas vezes sem descanso e sem férias, mas foi um período muito desafiador e restava tempo para jogar futebol no campo da Matola C, de onde viria transferir-me para a Aldeia de Campoane.
A minha transferência para Campoane seguiu-se a um protesto dos vizinhos, por causa da criação de porcos e era compreensível. A criação ascendia a 100 animais e além da evasão nocturna, havia o relativo cheiro nauseabundo, digo relativo porque, realmente, as minhas pocilgas eram muito limpas, contudo, para evitar barulho com a vizinhança, decide sair para a recém-criada aldeia de Campoane e lá me instalei e construi pocilgas, continuando com a minha actividade de criação.
A criação ia muito bem, entretanto, tivemos o surto de peste suína na zona. Devo dizer que não era eu sozinho que criava porcos, havia mais gente que também desenvolvia esta actividade. Na altura, fornecia-se a carne de porco a restaurantes, centros sociais das empresas, para o consumo dos seus trabalhadores e, por vezes, para a venda aos trabalhadores, pelo que nunca tive problemas com o mercado. Estava garantido.
Outra passagem que gostaria de deixar aqui é a venda de banana da Socas Xai-Xai, onde o meu amigo Maela era Director. Conhecemo-nos nas lides agrárias e falei-lhe do interesse que tinha na venda de banana na cidade de Maputo e Matola. Ele aceitou. Entretanto, eu tinha que ter uma carrinha e, para o efeito, um amigo, residente na Unidade H na Matola, de nome Muianga, proprietário de uma carpintaria próximo ao Cinema 700, actual Auditório Carlos Tembe, alugou-me a sua carrinha e, ele mesmo, conduzia. Viu o sucesso do negócio e pediu para fazer parte e poderíamos aumentar as quantidades e sem custos de transporte.
Eu aceitei, fizemos umas quatro viagens com sucesso, mas cometemos um erro quando aceitamos fornecer a banana à cooperativa, ali na zona da Padaria Boane. Fomos buscar banana por encomenda da cooperativa e entregamos toda. Passados dois dias combinados para a cobrança, no lugar de dinheiro, levaram-nos ao armazém fechado, onde tinham a banana e toda praticamente podre. Zanguei com o Muianga, pois o contacto era seu e deixei de ir a Socas buscar Banana. Mas confesso que foi um negócio aliciante. Fazia a viagem aos sábados que não trabalhava.
Adelino Buque
No desfile de reuniões de véspera e do principal órgão do partidão entre os Congressos alimentara a vaga esperança da realização de uma reunião da "Geração 8 de Março" com o propósito de discutir e de forma concludente apresentar uma proposta de candidato para as presidenciais de 09 de Outubro. Se dentro ou fora do partidão ficaria uma matéria de seguimento.
O argumentomor para a apresentação da candidatura é o mesmo de 8 de Março de 1977: o chamamento à pátria. Lembrar de que nesta data, e que dá origem ao nome da geração, os alunos que deveriam prosseguir com seus estudos na 10ª e 11ª classes foram comunicados por Samora Machel, então presidente, que os seus estudos∕ sonhos seriam interrompidos e no lugar receberiam tarefas em diversos sectores de actividades do país.
Volvidos perto de cinco décadas é unânime o reconhecimento do partido e do Estado aos préstimos desta geração e de que sem a sua prontidão e engajamento dificilmente o país sobreviria aos desafios da altura.
Hoje, diante do rumo do país uma boa parte das condições∕desafios para a decisão de 8 de Março de 1977 estão novamente reunidas, sobretudo as relacionadas com a ameaça à segurança e o atraso económico e social do país que se acresce a turbulência do processo de sucessão no partidão a questão que se coloca é a de saber a razão que leva o partidão (e são ainda os mesmos que decidirem em 1977) a não voltar a recorrer aos salvadores da pátria de 8 de Março de 1977? Por acaso andam por cá, formados e com experiência de trabalho, e ainda jovens para os critérios da política.
Mas pelo tempo que já escasseia temo que a vã esperança por uma candidatura "oitomarcista" morra solteira. Temo ainda que nem mesmo o "nós querermos eles se quererem", tal como em Março de 1977, o resultado não mudará: é o "Não é não" de Luís Montenegro, PM português, dito quando confrontado se ainda mantinha a decisão de o seu partido não avançar com um acordo com um outro partido e mais a direita.
Por ora, e quanto a assumir o controlo da governação do país, se o "Não é não" seja de facto a última decisão da "Geração 8 de Março" fica algum crédito aos que afirmam que se trata de uma espécie de vingança pelo facto de os sonhos de cada um dos seus membros terem sido violentamente interrompidos no dia 8 de Março de 1977. Se for por aqui, um "Distras" o país agradeceria.
PS: Pela análise dos perfis avançados na Matola, candidatos "3 em 1" (que reúnam simultaneamente qualidades de ordem política, económica e militar ∕securitária), só recorrendo a um Triunvirato é que o partidão apresentará a sua candidatura. Em 1969 o Triunvirato fora uma solução transitória para a sucessão de Eduardo Mondlane. Em 2024, embora num contexto diferente, os ingredientes, ora em ebulição na mesma (e já exausta) panela de pressão, são similares.
“A Mulher Moçambicana, em termos numérico é superior ao homem, falamos de 16 milhões de Homens contra 17 milhões de Mulheres, ainda assim, na Governação, desde 2022, que se observa a paridade, dos 22 Ministros, 11 são Mulheres e 11 são Homens, já na Assembleia da Republica, dos 250 Deputados, 116 são Mulheres, a Frelimo contribui com 90, a Renamo com 16 e o MDM COM ZERO, o que é de lamentar. Com estes dados, pode-se afirmar que, a Mulher Moçambicana tem estado a subir de fasquia em termos de participação politica e Governamental, outro dado interessante, é que, a nossa Assembleia da Republica já teve duas Presidentes, sendo a Senhora Verónica Macamo e a Senhora Esperança Bias, em funções, esta ultima, caso para dizer, Parabéns Mulher Moçambicana, na região Austral, Moçambique é o terceiro com mais Mulheres na Politica, sendo primeiro a Africa do Sul, segundo a Namíbia.”
AB
“A data foi instituída em homenagem a Josina Machel, heroína nacional, uma das muitas mulheres moçambicanas que lutaram pela independência do nosso país. Mas mesmo estas mulheres, antes de lutarem pela independência do nosso país, tiveram igualmente de lutar pelos direitos das mulheres, pelo direito a lutar, pelo direito a resistir à colonização, pelo direito à sua voz e à participação na política e nas decisões do futuro do nosso país!
Muitas mulheres têm conseguido vitórias importantes na luta por igualdade e dignidade, mas a luta continua até que sejamos todas livres! Livres para resistir, livres para marchar e gritar pelos nossos direitos, livres para dar opinião sem temer represálias, livres para escolher o nosso futuro”
In Justiça Ambiental de 09 de Abril de 2023
Moçambique, segundo os dados divulgados pelo INE – Instituto Nacional de Estatísticas, para 2024, a população total ee de 33.244.414, sendo que, destes, 16.098.427 são homens e 17.145.987 são mulheres, por isso, podemos dizer, sem sombra de duvidas que, as mulheres continuam em termos numéricos, mais que os homens, estes dados, não se fazem sentir na esfera politica e Governamental.
Destas populações, 34,88% estão nas zonas urbanas e 65,14 nas zonas rurais, os mesmos dados indicam que, a esperança de vida situa-se nos 56,2 anos, com uma taxa de nascimento anual de 36,6% e de mortalidade situa-se em 8,8%, o que significa quem, o País tem assinalado, um crescimento assinalável dos indicadores em referência, ou seja, esperança de vida, taxa de natalidade e taxa de mortalidade.
O caro leitor, deve estar a perguntar-se, para que essa informação toda, quando a reflexão tem a ver com a homenagem á Mulher Moçambicana, a resposta é simples, é que, toda informação estatística, aqui partilhada, afeta, sobremaneira, a Mulher Moçambicana e, muitos dados estatístico, refletem, de alguma forma, o bem-estar da Mulher na nossa sociedade, infelizmente, a Mulher, continua carregando o “fardo de pobreza” em Moçambique, estes dados, podem ser reveladores, do quanto se tem afastado desse mal.
Mulher na Politica em Moçambique
Os dados acima, partilhados, cuja fonte é o INE – Instituto Nacional de Estatística, revelam que a Mulher está em numero maior que os Homens, no entanto, por exemplo, no nosso Parlamento, dos 250 Deputados, somente, temos 116 Mulheres, mas a crise é mais grave se considerar que, destes 90 são da Frelimo, 16 da Renamo e o partido MDM não tem nenhuma Mulher no Parlamento, ou seja, não há, no seio dos partidos políticos, a consideração pela Mulher, fala-se da proporcionalidade na Frelimo, por exemplo, o que não se observa em outros partidos, atenção, não estou a dizer que a Frelimo é melhor que os outros mas, convenhamos, é na Frelimo que se luta pelo equilíbrio.
Nessa perspetiva, pode-se dizer que, a Frelimo, tendo sido sempre o partido maioritário na Assembleia da Republica, já teve duas Mulheres na Presidência da Assembleia, que são, as Senhoras, Verónica Macamo e Esperança Bias em exercício, podemos, por assim dizer que, a Frelimo, não só procura equilibrar, como, também, impondera as Mulheres mas, no se pode dizer o mesmo dentro do parlamento, existem muitas Mulheres que esto para o agrado estatístico, isso, deve ser combatido pela própria Mulher, lutar por igualdade, não somente nos números mas, nas funções e no trabalho.
A nível do Governo, dos 22 Ministros existentes, 11 são Mulheres e 11 são Homens, aqui, pode-se dizer, com alguma satisfação que, atingiu-se a paridade nos lugares de Governação, nesse sentido, cabe, as próprias Ministras, mostrarem que, não estão la para simples decoração mas, para trabalhar e mostrar resultados, de acordo com as estatísticas do mundo, Moçambique, reforça 14 países com a paridade de género na Governação, sendo que, em Africa, são 3, o que, sem dúvidas, é de louvar!
Adelino Buque
PS: Reflexão dedicada á Mulher Moçambicana, por ocasião do dia 07 de Abril, data consagrada a Mulher Moçambicana, essa Mulher virtuosa, Guerreira incansável, antes lutou para ser aceite na Luta Armada de Libertação Nacional, depois, lutou pela sua inserção na politica Governamental e, hoje, quer, a par do seu parceiro Homem, lutar pela emancipação económica, certamente, que venceras Mulher.
Até bem pouco tempo o sonho de um sobrinho de um amigo era o de ganhar um "Oscar de Hollywood", a estatueta de premiação da catedral do cinema mundial que se outorga anualmente aos melhores profissionais da sétima arte.
O tio, um amigo de longa data, contou-me, no final da tarde de ontem, a novidade do novo sonho do seu sobrinho: ganhar o "Oscar da Matola". O que seria o "Oscar da Matola"? Fora o que me ocorrera a partida.
Do sobrinho, fora a sua paixão pelo futebol, conhecia o velho sonho de conquistar um prémio Oscar e de que até já estava de malas aviadas para iniciar, no estrangeiro, um curso superior de cinema.
"Depois procuro saber dele". Assim decidi e alivei a mente para outros afazeres do dia. Debalde. Na hora dos jornais televisivos acompanho as incidências da reunião da associação dos combatentes da luta de libertação nacional, sobretudo a intervenção cirúrgica de um seu membro sénior com nome similar ao da estatueta de Hollywood.
Após do que assistira nos jornais televisivos, fiquei mais aliviado em relação ao novo sonho do sobrinho do meu amigo. Na verdade não seria um novo sonho, mas apenas uma nova categoria no rol das premiações de Hollywood e de que o termo "Matola" seria uma espécie de homenagem ao local de incidência periódica e recorrente de eventos objecto da premiação.
De toda maneira, e porque apenas conjecturava sobre o significado do novo sonho do "cineasta", o nome que carinhosamente é tratado o sobrinho, esta manhã, e do próprio, fiquei a saber do seu suposto novo sonho.
E assim fica o leitor também a saber de que o "Oscar da Matola" (ODM) é uma espécie de VAR (Vídeo Árbitro) da política com a diferença de que o VAR do futebol procura fazer as correções durante o jogo e o ODM do cinema premeia o melhor filme cujo enredo debruce sobre intervenções políticas de grande alcance antes do início de qualquer jogo político.
Em suma, o "Oscar da Matola" inspira a consolidação do processo democrático no mundo, em particular nos países em que a democracia esteja em jogo. Não é por acaso, e segundo o "cineasta", que na estatueta deste Oscar estará inscrito: "De todos se faz um País".
Primeiro não passava de uma hipérbole: “Chuva de Afetos”, para designar o espetáculo que se queria único, íntimo, simbólico e solidário. Stewart Sukuma celebrava 40 anos de carreira, dentro de um movimento iniciado em 2022 numa série de digressões e iniciativas sobre meio ambiente, cidadania, igualdade de género e direitos humanos. Depois, no terreno, Galeria do Porto de Maputo, no dia 30 de março, veio a apoteose, indubitável, com a chuva e os afetos reais a vincarem o exagero. A energia extasiou a plateia que mesmo ameaçada pela chuva não abandonou o espaço.
Na verdade, não foi exatamente um concerto. Foi uma história de vida, uma rapsódia de canções emblemáticas que ainda ecoam no imaginário dos seus fãs. E foi isso que tornou o evento emblemático. A seleção dos artistas convidados, a união de artes, as performances, o espaço, o dia, a hora, as luzes, o som, o alinhamento das músicas… um espetáculo montado com rigor e cuidadosamente coreografado e com reações positivas.
Stewart Sukuma ganha, todavia, nesta roda artístico-musical pela sua história, pela idade, pela persistência. Conhece o seu público e, aos 40 anos de carreira, já sabe o que exatamente esperam, detestam e/ou gostam. Por isso, como “divo”, conseguiu colocar a multidão em devoto, desde o primeiro minuto do show, numa clara observância física e emocional da Terceira Lei de Newton. Foi assim na interpretação de “Tingalava”, “Olumwengo”, “Wulombe”, “Why”, “Moçambique”, “Felismina”, “Male”, “Ezamany kim’bediwa”, “Xitchuketa Marrabenta”, “Caranguejo”, “Vale a Pena Casar”, entre outros temas.
Facto é que não é a primeira vez que Stewart consegue controlar o seu público, colando-o a dançar, a cantar e/ou a interagir sempre que necessário. A sua versatilidade permite; reinventa as suas canções, envolve gerações e mistura sempre elementos novos como forma de inclusão artística. No sábado, por exemplo, a dramatização e a dança, o rapper, o gospel e o afro jazz formaram uma unidade temática que criaram uma nova atmosfera nas músicas participadas por K9, Nelton Miranda, Nandov Matsinhe, May Mbira, Sizaquel Matlhombe, Otis, Lenna Bahule, Valdemiro José, Alfa Thulana, Deotado Siquir, Xixel Langa, W Tofo, e outros.
São nomes e elementos que se destacam pela sua qualidade. Cada um tem um percurso artístico cujos anos podem ser avaliados em função dos resultados da forma como se relacionam com essa arte. Para Xixel Langa, por exemplo, aplica-se a máxima do filhinho do peixe. A sua entonação é de arrepiar e os seus passos uma intensa ousadia.
Ao Nelton e Otis à máxima do vinho, quanto mais velhos melhor. A dupla W Tofo dispensa comentários, pois, como sempre, não deixa espaços para defraudação. E é o mesmo que se diz da Banda Nkuvu, agora mais vigorante, energética e madura. E tem sido assim os últimos anos, em atuações dentro e fora do país.
Em quase quatro horas do show, as energias foram aumentando, música após música. Outros que também atuaram no sábado são os meninos do Coro dos Little Singers da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa. A presença destes alunos inseriu-se no âmbito da parceria e relação de amizade de longa data que une o artista à Escola e que se vem concretizando em inúmeras ações. A receita do espetáculo foi destinada a uma instituição de cariz solidário, a "Associação dos Bons Sinais", de Quelimane.
Voltei a passar em frente ao Gabinete do Governador de Inhambane, um edifício de fina arquitectura do tempo, cheio de lâmpadas na fachada, e notei mais uma vez que todo aquele cenário à volta, do qual já falei exaustivamente até não me cansar, continua o mesmo, sem brilho. Os dois aquários colocados no jardim defronte, projectado no sentido de oferecer à cidade uma paisagem esverdeante, e, consequentemente, trazer beleza e leveza, não têm peixe, o repucho deixou de aspergir água, e o bolor tomou conta de tudo. A estátua de Samora Machel, mal concebedida pelo arquitecto provavelmente coreano, agride violentamente o espírito dos apreciadores da arte, é uma obra deplorável, Samora não tinha pararício no dedo.
Naquele edifício trabalha o governador Daniel Chapo, pelo qual nutro uma grande simpatia. É um homem bom, mas também com o nome que tem, não tinha outra opção que não fosse praticar a honestidade e integridade. Daniel, profecta do antigo testamento, é muito atencioso e apegado a família, possui um senso maternal muito forte. É o tipo de pessoa que gosta de se sentir útil e necessário. Então, urge que o nosso “El Chapo”, como lhe chamam a brincar algumas pessoas, dê uma vista de olhos no “seu-nosso” jardim.
Passo por aqui sempre que vou à cidade, onde o silêncio tornou-se o refrão dos bitongas. E não posso voltar para casa sem chegar aos Caminhos de Ferro, cujas instalações estão em forma de escombros, não há esperança. Toda esta zona, a defunta serração que já ninguém se lembra dela nas conversas, nem do restaurante Maguluti do Dalsuco, onde conheci o Magid Mussá cantando o lado mais belo da vida, até hoje, com uma voz muito mais linda, se calhar melancólica como o canto das rolas ao final da tarde.
E é neste percurso em que sou levado pelos demónios do amor, que vejo um homem andrajoso entrado na idade, sentado no banco de madeira na Estação dos Caminhos de Ferro. Eu também sento-me ali, partilhando com um desconhecido, a memória do tempo. Há uma diferença aparente entre nós. Enquanto o ilustre desconhecido traja roupa mais do que carcomida e rota e suja e tem cabelo desgrenhado, eu visto calças e camisa de ganga e sandálias de couro, tudo limpo, sem me esquecer do boné que me proteje a calvice, mas as minhas roupas podem ser pura fantasia fantasia, o importante é saber como é que estou vestido por dentro.
Saudei hesitantemente o meu futuro companheiro de ocasião, e para o meu espanto, ele retorque: estás bem, Alexandre? Apanhei um susto como no dia em que Deus troveja numa sarsa tornada caixa vocal chamando pelo Moisés, e Moisés perguntou: que és Tu? E a voz que ressurge da sarsa, respondeu: Sou eu, o Deus de Jacob e de David e de Abrahama!
E eu também quis saber do homem que vocalizava o meu nome com carinho,“quem és tu, não me lembro de t!?“ e ele contraperguntou-me: lembras-te do Guipfodzo, teu vizinho na Fonte Azul?
Prestei mais atenção nele, mesmo assim não podia reconhecê-lo, a não ser o nome que me ribombava. Era o regresso às paródias de criança e de adolescência, ao amor e à verdadeira amizade, e tudo isso era luz.
“Não pagas uma garrafinha?” Fui com ele, o Guipfodzo, entrando pelos becos de Chalambe, onde me indicou uma gruta imunda onde se bebe thonthontho, e onde estão outros homens bebendo aguardente de jambalau e de cana-de-açúcar, sem olhar para trás.
E eu tinha uns trocados no bolso, com os quais paguei bebida a potes para o Guipfodzo e para toda a gente que estava alí. Bebi com todos eles, no mesmo copo que rodava na roda da frustração até ficar bêbado, e voltei para casa feliz, a cheirar no corpo o odor horrível do meu amigo, transmitido naquele abraço profundo de despedida.