Por estes dias paira um certo entusiasmo e apoio popular em defesa da renovação do contracto de Chiquinho Conde, actual seleccionador nacional dos “Mambas”. O mesmo frenesim em torno da candidatura presidencial do político oposicionista Venâncio Mondlane. Ambos com um histórico recente de turbulência institucional com as respectivas chefias.
Estes dois concidadãos partilham uma titânica semelhança: o espírito de rebeldia. Cada um deles um “Enfant-terrible”. Uma expressão utilizada para designar uma pessoa por acharem-na inoportuna, contestatária e de difícil trato, mas que por conta disso, a par da sua inteligência, idealismo, inovação e ousadia, também atrai o fascínio e admiração da sociedade.
Feitas as apresentações fica a pergunta: será que o entusiasmo e apoio popular em prol de Chiquinho Conde e de Venâncio Mondlane correm por conta dos seus bons resultados? Quer os desportivos do primeiro, quer os políticos/eleitorais do segundo? Ou decorrem da rebeldia que emanam?
Pessoalmente tenho a nítida impressão de que os bons resultados são o pretexto e a rebeldia a causa do entusiasmo e apoio popular que Chiquinho Conde e Venâncio Mondlane granjeiam.
Em jeito de fecho, um bom exemplo para suster esta asserção é o caso do antigo presidente dos assuntos tributários e das estatísticas nacionais, o “Capim Alto”, que é corrente ser lembrado, admirado e querido mais pelo seu legado de um “Enfant-terrible” do que pelos seus bons e comprovados resultados institucionais.
Samora Machel é imortal. Um leão que ruge na memória dos algozes como a comporta da devastação. Ele ressurge nas efemérides esvaziadas, encimando os mastros e vibra na voz tinotroante pedindo contas aos traidores. As massas populares continuam a segui-lo no fracasso dos mercados onde o negócio sossobra, ninguém compra nada, não há dinheiro. E o povo não se cansa de gritar, lembrando um homem que nos catapultava e dizem: “se Samora estivesse vivo não haveria estes abusos”.
Ocuparam o nosso país outra vez. Esta terra deixou de novo de nos pertencer, e toda a epopeia da luta das matas foi vituperada pela ganância. Não é verdade o que o Primeiro-ministro Adriano Maleiane disse, de que o povo sofre de síndrome de impaciência e quer ganhos imediatos. Mas o gás brota em Moçambique há cerca de trinta anos em Temane, onde a Sasol suga o nosso recurso numa acção de saque, e nunca ganhamos com isso de forma justa, nem pelo menos as comunidades locais. E Maleiane vem a terreiro fazer-nos de tolos. Maleiane disse ainda que o gás não começou a sair e “nós já estamos a reclamar”. Ora! Quem não sabe que o gás já jorra e já faz dinheiro?
Joaquim Chissano, ex-presidente da República, também veio cá fora afirmar que o problema é a formação, por isso não estamos a usufruir da riqueza existente no subsolo, mas não é isso! O verdadeiro problema é a desonestidade dos acordos estabelecidos com as multinacionais, que exploram os nossos recursos a seu bel prazer. Humilham-nos. Riem-se de nós. Matam-nos nas minas.
As grilhetas voltaram aos nossos pés e, no roçagar das correntes, ouve-se a voz de Samora. O povo quer de volta a almadia que nos levava aos estádios e às praças onde sonhavamos com o crepúsculo do amanhecer, e essa almadia já não existe. Caíram os pilares da integridade. Esboroou o compromisso de criar felicidade para o povo, e o que resta agora parece ser a resignação perante os novos colonos que regressam triunfantes, entrando pelas portas mais sofisticadas.
É preciso matar Samora Machel outra vez, para voltarmos a encher as ruas com lágrimas e revigorarmos o espírito, cantando as canções da nossa luta, hoje enterradas na escala diatónica do infortúnio.
- A luta contunua!
- Continuaaaaaaaaa!
- Viva o povo moçambicanos do Rovuma ao Maputo!
- Vivaaaaaaaaaaa!
- Abaixo a exploração do homem pelo homem!
- Abaixoooooooo!
É preciso matar Samora Machel outra vez para que a Praça dos Heróis se escancare e o povo encha as ruas como as marés enquinociais. Mas os verdugos continuam assustados. O povo estava nas mãos de Samora, e hoje não está nas mãos de ninguém, foi abandonado no deserto sem fim. Então é preciso matar Samora outra vez para que as nossas lágrimas voltem como as albufeiras da esperança.
- A luta continua!
- Continuaaaaaaaaaa!
- Independência ou morte!
- Venceremos!
(a propósito da conferência de imprensa do presidente da FMF)
Na senda da conferência de imprensa do presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) ocorrida no passado dia 19 de Junho de 2024 alguém mandou para a minha caixa esta notícia https://lance.co.mz/artigo/chiquinho-conde_-amarra-se-o-burro-a-vontade-do-dono-e-quem-dita-as-regras-sou-eu_ que reporta uma entrevista concedida pelo actual seleccionador nacional de futebol, vulgo “Mambas”, ao canal desportivo da Rádio Moçambique, em meados do ano passado (2023).
Na citada entrevista foram abordados assuntos correntes da altura como a renovação do contracto do seleccionador, que findaria a 31 de Julho de 2023; a presença dos “Mambas” na Taça COSAFA; e ainda a polémica sobre a não convocatória de Zainadine Júnior e Lau King para a jornada frente ao Ruanda. Da notícia, e cruzando-a com a conferência de imprensa, ressaltou-me um ponto de convergência entre o presidente da FMF e o seleccionador nacional que exponho-o mais abaixo.
O seleccionador, debruçando na entrevista sobre a não convocatória de Zainadine Júnior, afirmou que diz sempre aos seus jogadores, e cito: “…para não se esquecerem que eu sou o treinador e quem dita quem toma as decisões relacionadas com a parte técnica e táctica sou eu. Há um velho ditado alentejano que diz assim: amarra-se o burro à vontade do dono. Isto para dizer que enquanto estiver na selecção as regras vão ser estabelecidas por mim, o jogador tem espaço para opinar dentro das balizas, mas com limites. Eu decido em conformidade, o individual nunca pode sobrepor ao colectivo”. Fim da citação.
Nestes termos, e decorrente das entrelinhas da fala do presidente da FMF na conferência de imprensa, depreende-se o tal ponto de convergência entre o presidente da FMF e o seleccionador nacional: ambos partilham o mesmo princípio de gestão, ancorado no ditado alentejano que diz “Amarra-se o burro à vontade do dono”. Em outras palavras: que se deve obedecer ou fazer as coisas conforme as regras do chefe/patrão. O emblemático “Patrão é Patrão” do cantor MC Roger.
“Convocar uma Conferência de imprensa para anunciar que o Presidente da FMF paga o salário acima do salário do Presidente da República e seus Ministros é muita falta de respeito. Respeito que exige de outros! Chamar a imprensa para dizer que os jovens militares que defendem a pátria no norte de Moçambique são mal compensados, passou dos limites do aceitável.
Se a FIFA é que manda no Futebol em Moçambique e por isso as autoridades nacionais estão de “mãos atadas”, então porque se criam instituições moribundas como a Secretaria do Estado da Juventude e Desporto? Alguém se lembra de algo útil realizado por esta instituição? Por favor senhor Presidente da República, extingue essa secretaria por inoperância.”
AB
Existe a narrativa recorrente de que o estado não deve interferir nos assuntos de Futebol, sob pena de a Federação ser penalizada e não obter apoios da FIFA e muito menos participar das actividades organizadas por este órgão. Mas tudo isso é falácia, a FIFA – Federação Internacional de Futebol tem funções e atribuições específicas e, mais do que isso, a pessoa ou pessoas a ela associadas não podem estar acima do Estado, como parece acontecer em solo pátrio. Vejamos abaixo e de forma resumida, as funções da FIFA.
“Para além de promover competições entre os países, a FIFA tem diversas atribuições relacionadas ao futebol a nível internacional. A entidade é responsável por supervisionar as diversas associações, federações e confederações de futebol ao redor do mundo”, fim da citação.
As autoridades moçambicanas, muito em concreto a Secretaria do Estado da Juventude e Desporto, devem rever o seu papel no desenvolvimento do Desporto em Moçambique. Na minha opinião, se não pode intervir para casos tão periclitantes, como o que se vive hoje no País? Então, em que circunstâncias deverá intervir e qual é a utilidade dessa instituição? Serve para acomodar determinadas pessoas ou é mesmo para a regulação Desportiva? É que, se as instituições internacionais são as reguladoras internas das actividades desportivas, então, não vale a pena criar instituições que só irão gastar os parcos recursos existentes.
Por outro lado, é importante que haja regras para se dirigir determinados sectores no País. Este país é dos moçambicanos e não da FIFA. Ela pode ajudar-nos, já que em tudo precisamos de ajuda, mas a última decisão deve ser nossa. Mais do que isso, é preciso rever os estatutos da Federação Moçambicana de Futebol, o Futebol não pode continuar a ser dirigido por 11 Associações neste País, facilmente corrompíveis a troco do nada. Lembro-me que a polémica no futebol não é de hoje, no entanto, as pessoas renovam mandatos. O que isso significa?
No conceito, a Federação Moçambicana de Futebol é uma entidade colectiva e a FMF não é propriedade do seu presidente. É irritante que os restantes membros da FMF passem a vida no silêncio, como se fossem múmias. Se não querem viver os problemas do futebol, demitam-se por favor ou vocês são “empregados” do Presidente, ele vos paga quantos salários mínimos mensais?
Vejam as cinco regras de ouro para o Futebol e outras modalidades colectivas, estará o atual elenco Federativo em condições de cumprir com isto?
“1- Evite estrelismo
Evite direccionar os holofotes apenas para alguns. Na hora decisiva, você precisará contar com o esforço máximo de todos. Apenas um não ganhará o campeonato.
2- Reconheça e valorize cada esforço
Existem várias formas de motivar a sua equipe. Claro que um aumento no salário é sempre bem-vindo, mas já experimentou valorizar o seu pessoal? O reconhecimento tem um poder mágico, faz o profissional sentir-se vivo e, principalmente, parte integrante do projecto, sabendo que seu trabalho está sendo visto.
3- Ouça a todos
Um dos grandes trunfos de um líder é saber ouvir. Isso não quer dizer que a ideia ou opinião de todos será acatada e implantada, mas trará várias boas ideias que, juntas, se podem transformar em excelentes resultados.
4- Una conhecimento técnico e conhecimento prático
Não adianta ter a teoria, mas não saber como executá-la na prática. Unir o conhecimento teórico com o conhecimento prático é um dos grandes segredos para sua empresa se destacar e o seu projecto ter sucesso.
5- Comemore os resultados
Sabemos que uma das melhores formas de motivar as pessoas é através do reconhecimento. Sendo assim, comemorar os resultados é uma regra valiosa. Quando seu colaborador percebe que seu esforço valeu a pena e que isso foi reconhecido, tende a repetir o feito em outros projectos.
As pessoas são assim, precisam de ser estimuladas. Agora, imagine se você focar apenas no jogador principal, reconhecer, premiar, dar festas e viagens de prémio apenas para o principal. Como ficarão os outros? Lembre-se: o talento vence jogos, mas só o trabalho em equipa ganha campeonatos.”
In: Sandro Libardoni é palestrante e consultor especialista em motivação humana, analista comportamental e Coach.
Definitivamente, a conferência de imprensa convocada pela FMF, em que o seu Presidente falou e insultou a tudo e todos, inclusive falou da Guerra em Cabo-Delgado, mostra a pertinência de intervenção do Estado no Desporto nacional ou então teremos de concluir que são todos empregados do Presidente e recebem, eventualmente, mais que o Presidente da República e seus ministros. Chega!
Adelino Buque
Pode ser que a espada anunciada já esteja a operar, é verdade. Estamos a ser conduzidos por demónios nos nossos caminhos tornados íngremes e ninguém percebe os sinais. No princípio era o bairro Chalambe o ponto principal da esbórnia dos desgraçados, aqueles que não terão onde ir, nem a quem chorar. Aqui paira vivamente, de dia e de noite e nas madrugadas, o cheiro catalizador da cannabis e o despudor. Ninguém se assusta com isso, nem com os homens rebentados pelo álcool.
Já o dissemos várias vezes mas não nos cansamos de repetir. Hoje, Chalambe não é mais o único lugar da gravitação das grutas, há outros pontos nos bairros onde se bebe aguardente de cana-de-açúcucar ou jambalau e ainda a sura, com mulheres jovens destacando-se na linha da frente, sem preconceitos. Bebem e fumam tudo, desde o cigarro normal até à “cosa nostra”, e já ninguém vê problema nesse gesto que vai se tornando hábito. Um vício mortal.
Não precisa que seja noite, as raparigas e também mulheres maduras, podem ser encontradas nesses esconderijos imundos a consumir tais coisas sem olharem para trás. Outras ainda, fogem temporariamente das suas bancas no mercado e vão beber um trago como forma de afugentarem a dor do tédio criado por um negócio que não anda. Já se descomplexaram, e no seu desespero jamais vão se importar com o que a sociedade fala sobre ela. Aliás, a sociedade tem outras preocupações: o dinheiro que não existe e, consequentemente, o pão que não chega à mesa.
Não precisamos mecionar o nome dos bairros onde em cada esquina há uma toca onde se vende thonthonto (aguardente de cana ou jambalau) e sura, existem em todo o lado, e em algumas delas tem lá mulheres bebendo e fumando, e as conversas que se ouvem não têm futuro. Nem passado. Muitas delas mostram-se com sinais de desitração, facilmente notável por via do rosto. Tumefacto.
Mas de onde é que vem este fenómeno novo, de mulheres jovens e maduras na cidade de Inhambane bebendo cachaça e essas porcarias industrializadas que levam nomes inconsebíveis nos rótulos, como por exemplo “Dinamite”? Se calhar a sociedade está atrasada numa pergunta que não vai fazer sentido, pois se estas jovens estão muito perto do abismo, então todos nós estamos lá. No fundo.
Ninguém as repreende, nunca foram. Jamais tiveram alguém para o fazer, ou seja, os pais quando descobrirem a fossa em que suas filhas se meteram, poderá ser tarde demais para qualquer reparação. O tempo que as move funciona como o relógio da morte, cujas horas correm com tontura em direcção à fornalha do diabo, onde já estão a ser queimadas na ilusão do prazer. Mas a cachaça e o fumo de todos os tipos que consomem e libertam no vazio, é apenas para desfarçar a dor. Elas estão no inferno e não conseguem fugir dalí. E se elas não conseguem fugir, nós também estaremos com elas.