Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
Renato Caldeira

Renato Caldeira

Renato Caldeira
O Zimpeto nasceu pressionado pelo “show” que o país pretendia dar ao continente e ao mundo em realizar os Jogos Africanos de 2011, após a desistência da Zâmbia. Faltavam então três anos quando se abraçou a iniciativa. Dinheiro para a aventura, dizia-se, não faltava. Além disso, ficaríamos com um estádio, uma piscina olímpica e uma cidadela desportiva imponente, para as gerações vindouras.
 
Às pressas, com os chineses a liderarem, passou-se à prática o arrojado projecto. O primeiro passo? Localização. Tchumene, Matola e outros locais, foram equacionados. “De caras”, a pensar numa utilização e rentabilização futura, o espaço central na Matola, onde agora se situa o edifício central do Município, era o ideal.
 
Foi a proposta principal, mas não passou. Porquê?...
 
Outros valores então se levantaram, provavelmente para encher certos bolsos, o que acabou por inviabilizar a escolha. A realidade está agora a demonstrar que o desporto nacional e o país foram lesados. O espaço junto ao novo edifício da edilidade matolense continua desocupado, após a instalação da iluminação e tubagem para um projecto que não teve (ou não tinha?) “pernas para andar”. Sabe-se agora que gestores, da “negação” estão com um processo em tribunal.
 
 
ZIM... PRÉSTIMO?
 
O que poderia ser a maior cidadela desportiva, com largos negócios a permitirem viabilidade pela localização e envolvência do lugar, hoje não é rentável, simplesmente porque foi erguido num ponto de passagem da zona Sul para o resto do país. A azáfama no Zimpeto, com um “dumba-nengue” de premeio, é de tal ordem, que ninguém tem tempo, disponibilidade e até interesse, em desviar-se dos seus negócios, para assistir às partidas de futebol ou a natação que ali se realizam.
 
O Zimpeto, provavelmente, virará um Zim...préstimo, ou mesmo sem...préstimo, algo que custou milhares aos bolsos dos moçambicanos que vão assistindo, dia-a-dia à sua degradação.
 
Na altura, a aposta no recondicionamento do majestoso Estádio da Machava, actualizando-o face à novas exigências internacionais, mais a construção de alguns mini-estádios noutras províncias do país, não permitiria que outros galos cantassem?
 
O Monstro adormecido no Zimpeto, nesta altura, não produz retorno nem para a água para regar a relva e mantê-la em condições de se realizarem os eventos internacionais!
 
Desta forma e sem soluções de rentabilidade interna à vista, o Zimpeto é um elefante branco, em estado de falência. A “mão estendida” que o Estado tem tentado disfarçar para o manter, com sugestões de concursos públicos internos – à semelhança das SAD’s nos clubes – está visto que é impraticável.
 
E agora?
 
Porque o empreendimento foi erguido numa área total de 267.900 metros quadrados, dos quais 41.987 foram ocupados pelo Estádio, o bairro onde se insere esta obra, beneficiou de saneamento das águas, energia e vias de acesso, com expectativas que transcendem os ganhos desportivos.
 
“Qui tal” – como dizia alguém bem conhecido - um concurso público de gabarito, pensado sob o pano de fundo do longo prazo, que permita construir naquele local, que tem à volta muito espaço vago, uma atractiva cidadela, com componentes de vária ordem, como museus, estalagens, pistas, etc., que “obriguem” nacionais e estrangeiros a deslocar-se ao Zimpeto, com motivações de outra índole, para além das braçadas e dos pontapés na bola?
 
Renato Caldeira
quarta-feira, 26 julho 2023 19:01

Desporto moçambicano em contra-mão com o mundo

Renato CaldeiraOs fazedores do desporto, sobretudo nas modalidades ditas pobres, passam a vida de mão estendida em busca de apoios para movimentarem uma actividade que a todos beneficia. Quer isto dizer que os clubes e a realização de uma qualquer prova, estão dependentes da visão e dos gostos de quem decide nas empresas. Daí a tendência para se escolher para os órgãos directivos das Federações, Associações e Clubes, não os mais capazes, dedicados ou “carolas”, mas os mais influentes, gestores ou proprietários de marcas ou unidades de produção.
 
Esta é a realidade que faz com que certas modalidades e actividades, de sucesso, dependam apenas da insuficiente dotação do Fundo de Promoção Desportiva para sobreviverem.
 
O tempo do pagamento regular das quotas nos clubes, já lá vai. Quanto a bilhetes de entradas, poucos “graduados” seguem o exemplo do governador de Inhambane, Daniel Chapo... E como o estamos numa terra de seguidismos, em que a maioria das acções são foto-cópia das chefias... 
 
 
INVESTIMENTO SEM RETORNO?
 
Devido às extremas dificuldades em chegar ao retorno directo e concreto, as empresas pouco apostam na publicitação dos seus produtos, através do desporto. Há excepções dos tradicionalmente apoiantes, sem as quais o cenário seria dramático.
 
De tudo isto, resulta a pergunta/questão de fundo: quando se apoia, de uma ou de outra forma o desporto, está-se a fazer um favor, ou a cumprir uma obrigação?
 
Que diferenças existem entre um país que cultiva a movimentação do seu povo no desporto, nos diversos escalões etários e extractos sociais, de outro que subalterniza essa prática?
 
As respostas são óbvias, visíveis e “sentíveis”. Tudo aponta para a falta de uma visão geral, colocando esta actividade como um “parente pobre”, nesta sociedade assoberbada pela sobrevivência, de um lado, e pelo acumular de riquezas pessoais do outro.
 
Daí que se esqueça que:
 
-    Um investimento forte e sério no desporto, reduz substancialmente o recurso às farmácias. Basta recordar o que dizia o saudoso presidente Samora Machel: “onde entra o desporto, sai a doença;
 
-    Que o aumento da nossa auto-estima deixaria de ser um mero “slogan”;
 
-    O turismo, através da divulgação dos nossos valores e estrelas, trazer-nos-ia um substancial retorno;
 
-    Devido ao talento nato da nossa juventude, provado e (com)provado por várias gerações, deixaríamos de ficar nas primeiras eliminatórias competitivas, passando a rivalizar com outras latitudes.
 
Não estará aqui matéria para reflexão profunda, pouco abordada nos vários fóruns deste “país sentado”, de forma a despertar o sentido colectivo de cada um de nós, para daí todos sairmos valorizados?
 

Renato Caldeira

Ao analisar-se o entusiasmo em redor do Moçambola, facilmente se verifica que ele diminui do Norte para o Sul, de forma proporcional à distância. De Lichinga à Beira, o desporto-rei é uma loucura e os adeptos até dão espectáculo nas bancadas, monopolizando conversas e exacerbando paixões, algo que contrasta com a capital do país, onde apesar de haverem os melhores estádios e transportes, as bancadas ficam “às moscas”, mesmo em dia de derby.

 

Em contra-ponto, na capital, em dia de embate Manchester City-Barcelona, Benfica-FC do Porto e outros, os adeptos vestem camisolas e bonés dessas equipas e vibram até à exaustão.

 

Fica claro que para estes, o estatuto do futebol interno e do desporto em geral, é uma coisa menor, um “xitututu” (barulho de uma motorizada), incapaz de ser factor de atracção.

 

DE FORMADOR A ESPECTADOR

 

Recordam-se os mais velhos, que o Norte e o Centro, eram os viveiros e fornecedores da base das selecções nacionais no pós-Independência. Cito algumas estrelas: Nuro Americano, José Luís, Chiquinho Conde, Rui Marcos, Paulito, Jójó e outros. Porém, hoje vivem do recrutamento de treinadores de Maputo, que por sua vez impõem a contratação de jogadores do Sul. Os plantéis ficam completos com o recrutamento de futebolistas nos países vizinhos, muitos deles de categoria duvidosa.

 

E porque os clubes vivem dos orçamentos das empresas e não da publicidade e quotas dos associados, importa apresentar resultados imediatos, para justificar novos desembolsos.

 

O principal “cancro” da formação? Após terem sido “bisnados” – na sua maioria - os espaços vazios, campos e pavilhões, o que escapou tem como prioridade o aluguer a reuniões políticas, cerimónias religiosas e espectáculos musicais. As futuras estrelas que optem pelos “games” nos celulares.

 

Quanto ao futuro dos Mambas? Ressalvando as excepcões, a prioridade para sermos competitivos passa pela naturalização de jovens descendentes de segunda e terceira geração de cidadãos nascidos em Moçambique!

 

Uma pobre herança para estrelas como Eusébio, Coluna, Armando Manhiça, Hilário, Mário Wilson, moçambicanos de raiz que levaram o nome da antiga colónia portuguesa ao Mundo.

Pág. 2 de 2