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sexta-feira, 13 agosto 2021 10:25

Os Hospitais de Medellín

Medellín é uma cidade colombiana, a terra onde reinou o famigerado narcotraficante de todos os tempos, Pablo Escobar. Lá, morrer por bala perdida não era ou não é problema. Em tempos, andar pelas ruas de Medellín e chegar com vida em casa era demasiado sortudo. É o mesmo que acontece em alguns Hospitais da Pérola do Índico, caso estejas doente ou em serviços de pronto socorro. A diferença é que lá morriam por bala perdida e aqui é por vontade perdida de alguns profissionais de saúde. 

 

Não sei porquê, mas parece que ficamos satisfeitos em apresentar estatísticas de maior número de óbitos ao invés de pacientes que chegaram graves e melhoraram. Assim, considero que seja importante repensar nas nossas estatísticas! E aliado a isso, aos nossos Hospitais, onde por um mau olhar pode ser prenúncio de uma eutanásia ilegal, que devido a este espírito Medelliano dos tempos de Escobar, dia após dia, acompanhamos pessoas a morrerem ou sendo tratadas como experimentos laboratoriais.

 

Alguns Hospitais de Moçambique são autênticas ruas de Medellín, embora lá fossem balas ou bombas que tiravam a vida, aqui é a negligência, corrupção e incompetência que te atiram a sete palmos do chão, porque para alguns profissionais do sector, o maior valor não é a vida, mas sim o dinheiro!

 

Nos corredores das salas de parto, quantas mulheres deixam, diariamente, o mundo dos vivos pela vontade perdida da Enfermeira ou do Médico, como se de bala perdida se tratasse. Que o digam as famílias das mulheres que tombaram nas salas de parto de Lichinga, Nampula, Pemba, Quelimane, Beira, Matola ou Cidade de Maputo. 

 

Aliás, que o digam também as jovens mães que vêm o seu sonho ir embora porque não tiveram 500 Meticais para pagar ao sistema de corrupção estabelecido em alguns Hospitais em situação de ameaça de um aborto – é mesmo Medellín, a diferença está no mecanismo usado para que a pessoa morra ou tenha sequelas graves!

 

Ademais, neste tempo da pandemia da Covid-19, a situação piorou, pagas por tudo e mais nada – o sistema sofisticou-se, paga-se para ter espaço no respirador ou aparelho de oxigênio. Se o bolso não pesa, meu amigo e minha amiga, sem demora, o teu corpo é que irá pesar no saco da morgue, e de lá para o caixão. 

 

Portanto, há que colocar um ponto final nos funcionários dos Hospitais de Medellín, que circulam pelos corredores vestidos de cores de paz e esperança, enquanto, na verdade, adoram a cor do diabo e seus hábitos, ver as pessoas a definharem no Banco de Socorro, por não terem dinheiro, ao passo que ele, finge trabalhar, com uma caneta e um papel, para preencher os dados e depois, de forma manhosa, soltar: “Espera, o Doutor está a vir!” Na verdade, o referido Doutor encontra-se a dormir ou a amantizar com uma colega na cama onde deverias estar!

 

Quem nos pode responder: Quantos morrem, por dia, nos corredores dos nossos Hospitais, que se transformaram em ruas de Medellín nos tempos de Escobar!?

 

“O nosso maior valor é a vida” – Lema do nosso Ministério da Saúde... Que seja mesmo e não o dinheiro...!

Quando informações vindas do exterior e amplamente divulgadas pela média independente indicavam a recuperação da vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia pela Força Conjunta, formada por soldados moçambicanos e ruandeses, assistiu-se a uma corrida dualista acirrada pela reivindicação da autoria do sucesso. Se por um lado, o Ministério da Defesa de Moçambique com apoio aparatoso dos órgãos de comunicação estatais redobrou esforços tardios para reivindicar o protagonismo das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no teatro de operações, estes esforços esbarram-se com uma crítica fundamentada da irreverência das tropas ruandesas. A verdade é que foram necessários quase 12 meses para expulsar o grupo extremista Ansar al-Sunna de Mocímboa da Praia (ocupada em Agosto de 2020), e que conquistas expressivas de aldeias passaram a ser notadas com a entrada no teatro de operações das forças ruandesas.  

 

A este debate dicotômico juntam-se académicos, analistas e comentaristas, todos munidos de argumentos para defender uma das duas posições acima apresentadas. Uma autêntica campanha foi instalada para influenciar a opinião pública.  “A quem atribuir o mérito pela recuperação de Mocímboa da Praia?”, não deve e não devia ser o principal objecto de análise neste momento, sobretudo para a comunidade académica e para o Estado.  

 

É inquestionável que a recuperação de Mocimboa da Praia reveste-se de uma importância geoestratégica, e não é minha intenção diluir tal relevância. No entanto, esta recuperação é ainda mais importante por abrir possibilidades para a compreensão mais ampla do extremismo no Norte de Moçambique. Durante um ano o Estado Moçambicano perdeu um pedaço da sua soberania; Mocimboa da Praia esteve sob gestão directa dos grupos extremistas que eventualmente, podem ter instalado um sistema de gestão territorial, uma lógica de organização social e produtiva; e ainda mais importante, a operacionalização das doutrinas fanáticas islâmicas - sharia (lei islâmica), cujos contornos e fundamentos são pouco conhecidos para além de breves mensagens propagandísticas difundidas pelos grupos. Adicionalmente, ao nível da literatura não existe consenso sobre as variáveis motivacionais que fazem com que os jovens adiram a grupos radicais, apesar de apontar factores de vária ordem, nomeadamente psicológica, ideológica, cultural, política e socioeconómica.

 

O território recuperado de Mocimboa da Praia é uma amostra importante para compreensão das variáveis que estruturam o fundamentalismo islâmico de/em Moçambique. Compreender estes aspectos é essencial para informar as soluções não militares que se pretendam desenvolver para fazer face ao avanço do extremismo violento. Há cada vez mais vozes que que defendem uma solução negocial para acabar com conflito, no entanto, estas pretensões esbarram com uma série de questionamentos: como identificar os interlocutores moçambicanos da contraparte terrorista; seus interesses e aspirações; que contrabalançam colocar na mesa de negociações em comparação aos incentivos para a radicalização; a natureza de cedências esperadas no campo político, social e económico por parte do Estado?

 

Até então, o manancial teórico e empírico de respostas às questões acima colocadas para além de ser limitado, baseia-se em estudos exploratórios, em progresso e premissas frágeis. A recuperação de Mocimboa da Praia representa uma janela de oportunidade para aprofundar este conhecimento e solidificar, ajustar e modificar as premissas que possam informar as soluções não militares para o conflito em curso.  No entanto, isso só é possível com uma maior abertura por parte do Estado Moçambicano para a academia, os média, e outros actores relevantes nacionais e estrangeiros.  Por outro lado, é extremamente importante que na análise deste fenómeno as ciências sociais comuniquem-se. As ciências políticas precisam de comunicar-se com a sociologia, a história, antropologia; a geopolítica com a economia; por aí em diante. Fica aqui o convite para um debate mais amplo, para lá das conquistas militares no teatro de operações.    

terça-feira, 10 agosto 2021 14:53

Carta a Yolanda Xikani

Sou mulher como tu, Yolanda! Sou chopi, com o mesmo sangue que circula nas veias de Xeny wa Gune. Vibro também - em todo o corpo - perante o abalo da makharra, dança dos meus antepassados e de todos os chopi como Xeny, esse rapaz gingão que me arrebata em cada baqueta gotejando luz por sobre a timbila. Sabias disso? Eu sou a mathxathxulani (animadora das orquestras de timbila) vituperada nas noites quentes de m,saho (festival dos chopi). Mesmo assim, minha alma continua a sublevar-se em cada golpe.

 

Sou mulher como tu, Yolanda! Vagueei descontrolada em muitas etapas da minha vida, sem saber que um dia havia de te conhecer, e que a tua música viria esbater a peste que sou, mas também como é que havia de saber! Caí nas mãos de um homem que usa a rampa do amor como alambique do veneno, tornou-se carrasco de mim e transformou as palavras em guilhotina, mata-me aos pedaços.

 

Yolanda! A tua música (Ni karate), que cantas contra as feridas despontadas em cada açoite do homem que amas, afinal quem canta essa lírica ensaguentada, sou eu. Vestiste a minha pele e vieste cá fora gritar a dor que me calcina, e não me canso de te agradecer. Passei este tempo suportando o ultraje. Fui esvaziada até ao esgoto, transformada na própria bosta, até hoje em que a tua música chega como as labaredas da libertação.

 

Agradeço-te sem parar nesta hora da fuga, Yolanda. O caminho que se escarrapacha diante de mim, com ténue aurora no fundo, é a mensagem - não tenho dúvida - de que devo continuar a atravessar esta estepe, e o sábio já dizia: nunca pares de correr quando estiveres a atravessar o inferno, e eu recuso-me a olhar para trás, onde passei a vida a ser achincalhada. A ser vergastada nas feridas vivas.

 

Yolanda! Eu sei que nenhuma destas palavras é nova para ti, porém reconforta-me saber que me ouves no silêncio, isso dá-me uma imensa sensação de bem estar, é como se eu fosse uma criança acolhida nesse teu peito que bate incansavelmente ao som das claves. E como se tudo isto não bastasse, eis que vens cá fora cantar as minhas dores, vestindo por inteiro a minha pele enxovalhada sem fim.

 

Obrigada, Yolanda, por essa música (Ni karate), dolorosamente linda!

segunda-feira, 09 agosto 2021 13:28

Prisioneiros de guerra

Em tempos infantojuvenil era normal que no regresso à casa, vindo das instalações do Grupo Desportivo de Maputo (GDM), e já o dia anoitecera, a malta da minha zona (Bombeiros) entrava sempre em confronto com a malta do Prédio Isolado (PI), paredes-meias com o GDM, e que hoje, face as construções vizinhas, seria certamente a malta do Prédio no Interior. Era um confronto preparado minuciosamente pelas partes, assinalando que nós (Zona dos Bombeiros - ZB) aprofundávamos as tácticas defensivas e eles (PI), grosso modo, as de emboscada. As escaramuças tinham lugar na parte frontal do PI, nas imediações do “prédio 33 andares”, que era, na altura, um pequeno mato de girassol.   

 

Um certo dia, e mais um de confronto, nós, a malta da ZB, conseguimos fazer um prisioneiro - por coincidência frequentava a mesma escola que a minha – encontrado bem escondido, e todo aterrorizado por ter sido descoberto entre a mata de girassol. Lembrar que nesse tempo (anos 80), na Pérola do Índico, os direitos humanos não eram tidos e nem achados. Por algum instinto, talvez pela ligação escolar, intercedi, e com sucesso, junto aos mais velhos para que o perdoassem e o libertassem sem um aranhão. Não fora um exercício fácil, pois entre a malta havia alguns com desejo de vingança face a sevícias sofridas em situações análogas.

 

Uns anos depois, cruzo com o liberto em companhia de seus pais e este fez questão de apresentar-me aos seus pais, destacando que era o tal que participara na sua detenção e intercedera para a sua libertação. Foi um (outro) momento mágico quão o da libertação. Até hoje, eu e “ex-prisioneiro de guerra”, e sempre que nos cruzamos, a par dos cumprimentos, paira no ar a presença indelével desse dia, o da libertação, e creio que tenha sido igualmente o da cessação definitiva das hostilidades, avaliando que as confrontações deixaram de acontecer desde então.   

 

Este episódio veio-me à memória neste final de semana com a tomada de Mocímboa de Praia. Aliás, amiúde tem sido assim quando acompanho as comunicações dos sucessos das forças ruandesas e as moçambicanas (nas palavras de Kigali) - ou os sucessos das forças armadas moçambicanas e as ruandesas (nas palavras de Maputo) - quanto ao avanço contra os terroristas em Cabo Delgado, pois noto apenas o registo de mortes e a completa ausência de prisioneiros (de guerra) do inimigo nas estatísticas/comunicações das duas partes da força conjunta. O mesmo com as comunicações dos terroristas. Aliás, e já agora, fazendo jus a crítica sobre a comunicação oficial da evolução dos acontecimentos no teatro de operações, esta (a comunicação) não deveria estar, em primeira mão, sob a alçada das autoridades de defesa de Moçambique? Ou no mínimo que ela fosse de forma conjunta quer presencial, em conferência de imprensa, quer por outros meios, nomeadamente tecnológicos.

 

Mas é de prisioneiros de guerra de que falava. Do pouco que saiba, o facto de fazer, manter e libertar/trocar prisioneiros de guerra é um sinal de abertura/proximidade (e também, e sobretudo, de humanidade) que, por experiência própria, acredito que seja uma forma de alimentar condições que também possam concorrer para a cessação das hostilidades. Por enquanto, do conflito em Cabo Delgado, o único prisioneiro de guerra que se conheça é o próprio Estado moçambicano, restando apenas que se saiba quem o prendeu, o retém e o libertará? Oxalá um dia, e tal como eu fora, o Estado moçambicano apresente-o aos seus pais, o povo moçambicano. 

segunda-feira, 09 agosto 2021 06:53

O “Feiticeiro da Pátria”

A 25 de Junho de 1975, o Estado Moçambicano era fundado, após uma longa luta de libertação movida pela brava juventude daquela década de incertezas, massacres e desumanização. E foi concretamente em Cabo Delgado, hoje em chamas, onde a corrida pela liberdade ganhou uma dimensão revolucionária do tipo Marxista, uma luta entre opressor e oprimido, operário e senhorio – o feiticeiro daquele tempo, vencido e expulso do jovem País, Moçambique. Deste modo, vencia-se o feiticeiro que perdurou por vários anos – o Colonialismo!

 

De 1975 a 86, o País esteve sob a liderança do então Presidente Samora Machel, um homem multifacetado e preparado para os desafios do seu tempo, apesar dos pesares. O País tinha um líder que sabia aparecer para o seu povo. Contudo, durante aquele período, começava uma nova feitiçaria no País, a Guerra Civil, que levou 16 anos de sofrimento, mortes e deslocações massivas da população para os países vizinhos, como Malawi, Zimbábue, entre outros. Exigia-se, por conseguinte, uma mudança de paradigma, pelo menos, é o que os historiadores nos dizem. Queria-se a Democracia, a Parlamentar ou Representativa porque, segundo os teóricos do sistema, a Popular ou Guiada já estava em funcionamento.

 

Durante aqueles anos, muita coisa foi destruída, que embora viesse da feitiçaria anterior, os feiticeiros da década 70, 80 e 90 queimavam a casa para matar a cobra. Foi assim que fábricas renomadas foram sabotadas e utopistas do tempo foram exterminados em campos de reeducação, típico de um sistema totalitário. Nesse contexto, a busca por uma ideia de nação exigiu sacrifícios extremos aos que tinham a vassoura mágica para combater o feitiço que atormentava os moçambicanos – a Guerra Civil!

 

Embora esse fosse o mais visível, existiam outros tipos de feitiços que reinavam na Pérola do Índico, como fome, miséria, analfabetismo, ignorância, tribalismo extremo, entre outros males. Ademais, a situação ganharia outros contornos com a trágica morte do Presidente Machel, em 1986. Neste ano, o País perdeu um líder.

 

Em meio à tempestade, entrou um novo dirigente, Joaquim Chissano, com a dura missão de acabar com o feitiço que dia-a-dia destruía famílias e sonhos. Felizmente, seis anos depois, chegou-se a uma solução para colmatar a feitiçaria reinante, encontraram-se em Roma e assinaram o Acordo de Paz, o qual permitiu a realização das primeiras Eleições e a transição de uma fase para outra, de Democracia Popular ou Guiada para Democracia Representativa ou Parlamentar.

 

Foi neste período que se evidenciaram as “cabeçadas” dos bons filhos, que trabalhavam fora do País – o caso dos “Madjermanes”, que se instalaram, activamente, os novos feitiços da nação – cabritismo/corrupção, nepotismo e assalto agressivo das riquezas do povo, havendo até alguns que abriram hotéis fora do País, enquanto dirigentes máximos da nação, onde os melhores pratos eram os nossos mariscos, que saiam directamente do mar para os frigoríficos da Torre Eiffel – na terra de Napoleão Bonaparte.

 

E a saga continuou! Falava-se mais do que se fazia. Entretanto, o saque foi intenso – os feiticeiros eram tantos, que chegaram a ganhar as eleições, apesar de terem perdido em quase seis províncias, entre elas, as mais populosas, como Zambézia e Nampula. Contudo, pacificamente, houve uma passagem da vassoura mágica, em 2004. Entrava em cena um novo homem – que usou dos poderes mágicos para intensificar o crescimento e desenvolvimento do País.

 

Embora já vivesse ciente dos problemas provocados na palhota dos antigos feiticeiros, desde os tempos da luta de libertação, o homem entrou com os pés no chão e começou por mandar aos calabouços alguns feiticeiros que nadavam nos cofres (des)controlados do Estado – numa era da impunidade, eram anunciados casos de Ministros envolvidos em grandes cabeçadas ao povo.

 

Foi uma era que aparentava que a feitiçaria havia abandonado a Pérola do Índico. O povo corria com Chamas de Unidade Nacional do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico – corpos e línguas diferentes se entendiam. Era bonito ver o xingondo, que tanto era banalizado nas décadas passadas, a ter facilidades e o maxangana, que pelas bandas do Centro e Norte era combatido, a ser acarinhado – até parecia que Deus havia expulsado o Lúcifer das nossas terras!

 

Entretanto, cinco anos mais tarde, tudo viria a mudar – o velho feitiço voltou – o som das armas regressou a imperar no solo pátrio. As pessoas e os automóveis tinham que ser escoltados para circularem pela EN1. A coisa estava feia, alguém tinha destapado a panela do feitiço. Entretanto, em meio às consultas, aqui e acolá, um tempo depois, encontrou-se uma saída.

 

O feitiço da guerra foi-se e descobriu-se um outro – as dívidas odiosas, contraídas com um objectivo, mas haviam sido usadas para acomodar outros interesses, entre eles, carnais e de gula. Embora em certos circuitos a abordagem sobre o assunto seja outra, a intensidade deste feitiço afugentou os outros feiticeiros da cooperação internacional. E com isso, descobriu-se um poço de raízes venenosas da feitiçaria moçambicana – a famosa corrupção cabeluda. O caso gelou o País e os bons amigos foram-se embora. As saborosas tâmaras do deserto cultivadas e distribuídas pelo mágico Armando Guebuza foram queimadas.

 

As boas coisas, outrora realizadas, foram momentaneamente questionadas e estranhamente esquecidas – porque o feitiço verificado era maior – 2.2 mil milhões de dólares norte-americanos. O caso foi parar nos tribunais nacionais e internacionais. A missão do mágico tinha de terminar.

 

Em meio à tempestade agressiva, que a fragata enfrentava, tinha que se encontrar um novo mágico – e, em 2015, chegava ao poder Filipe Nyusi, com um discurso mobilizador no dia da tomada de posse. As pessoas já acreditavam que seria, desta vez, que chegariam à Canaã e as cebolas do Egipto seriam esquecidas. Contudo, não foi o que se viu, dias depois – mexeu-se no “mágico de Sofala” – a mamba verde, segundo o jurista André Thomaussen. Atacou-se à base do “mágico de Sofala” acordando, assim, o feitiço das armas.

 

Dias depois, uma nova feitiçaria ressurgia nas cidades, o baleamento de figuras incómodas ao regime, sequestros e espancamentos aos políticos, académicos, activistas, jornalistas, enfim – chegava o novo feitiço – o medo de ser morto, por pensar e ser diferente. Associada a estes problemas, o País viveu situações complicadas com fenómenos naturais de magnitudes proféticas, como o Idai e o Kenneth, a destruírem cidades e províncias.

 

Porém, enquanto isso, os males como a corrupção, a criminalidade organizada, a pobreza, os fenómenos naturais, a desnutrição crónica, entre outros, intensificaram-se. Um grupo de homens estranhos e desconhecidos, pelo menos publicamente, começava com uma etapa de horror e destruição na Província de Cabo Delgado, terra natal do “mágico no poder”.

 

Neste interlúdio, a Pérola do Índico passou a viver diante de uma nova feitiçaria – o terrorismo e a violência extremista nos distritos de centro e norte de Cabo Delgado. Por três anos, o caso era tratado como mais um assunto de roubo de galinhas, mas logo se percebeu que o problema era cabeludo e complexo – tinha que se aumentar as vassouras mágicas para debelar aquele mal.

 

Correlacionada à nova realidade, ressurgiram, intensamente, novos feitiços, como narcotráfico de heroína, metanfetamina, cocaína, ópio, entre outras, lavagem de dinheiro, tráfico de órgãos humanos, escândalos sexuais, neocabritismo, pobreza aguda, detenções arbitrárias, execuções sumárias, julgamentos falseados, falsas seitas religiosas, assassinatos públicos, sequestros em tudo que é canto, conflitos políticos no Centro do País, entre outros problemas, que verificados, demonstram que as vassouras mágicas da nação precisam de ser exorcizadas ou actualizadas, porque as mesmas aparentam ter perdido suas propriedades reais.

 

Estranhamente, certos filhos que demonstravam ou demonstram estar com os novos poderes mágicos ou morrem/adoecem e alguns, simplesmente, desistem de lutar pelos seus ideais. A situação é mesmo essa, é que o vitalismo africano defendido por Placides Tempels vem demonstrando outras nuances na Pérola do Índico, onde a força mágica carece de uma actualização urgente e eficaz, porque a arte do improviso mal feito assumiu o controlo da poltrona do juiz, que parece estar a confundir o Direito com Curandeirismo.

 

Portanto, os moçambicanos precisam de estar unidos para vencer este velho feitiço que acompanha a pátria – a guerra, pois, ela alimenta os feiticeiros da nação, que são os senhores da guerra que se alimentam do sangue de inocentes e ficam satisfeitos com a dor de uma mãe que vê o seu filho degolado; morrer na fila do hospital por não ter dinheiro para pagar uma sopa ou comprar comprimidos; comer capim porque há stress alimentar; morrer na fila burocrata do tribunal, em busca da justiça, que o diga o velho Chandracant que tanto lutou por um bem conquistado e morreu lutando por ele contra malandros vestidos de fato e gravata; crianças que crescem num País rico, mas vivem minguando por um pão e uma carteira para se sentar e estudar condignamente, enquanto o chinês fotografa, com máquinas rebarbadoras e camiões com atrelados, às nossas florestas, como escreve o Janato Janato, e muito mais.  

 

Enfim, a pátria precisa de evitar novos feiticeiros que festejam com a morte ou queda de um adversário político ou um homem de bem! 

sexta-feira, 06 agosto 2021 14:22

O que gostaria que acontecesse no meu país!

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, saiu a público esta quinta-feira, 5 de Agosto de 2021, e anunciou aos sul-africanos que ia proceder a remodelações governamentais e explicou as razões por que as ia fazer.

 

Disse ele, alto e bom tom, que o país, África do Sul, portanto, está a enfrentar grandes desafios, destacando-se a pandemia da COVID-19 e as recentes ondas de vandalizações e assaltos a bens públicos e privados nas províncias de Kwazulu-Natal e Johanesburgo e as suas consequências, e que o Estado não tinha dado as respostas adequadas que devia ter dado. E as mudanças visavam fortalecer o Estado para dar as respostas adequadas para o bem estar do cidadão e da África do Sul.

 

Outrossim, explicou que ia separar portfólios aglutinados num determinado ministério, o Ministério dos Assentamentos Humanos, Água e Saneamento do Meio. As ‘águas’ passariam a estar separadas do ‘assentamento humano’. Conforme explicou, a provisão de água no país é um assunto extremamente importante, complexo e bastante amplo que não se esgota no fornecimento de água aos domicílios, aos assentamentos humanos, mas que é um assunto crítico para as indústrias, agricultura, mineração e meio ambiente… ou seja, para a economia no seu todo. “A água é o mais crítico recurso natural do país. Segurança na água é fundamental para as vidas do nosso povo, para a estabilidade da nossa sociedade e para o crescimento e sustentabilidade da nossa economia”, argumentou Ramaphosa.

 

A rematar, anunciou que como parte das medidas críticas que estava a tomar para reforçar os serviços de segurança e prever a ocorrência de situações como as que acabavam de ter lugar em Kwazulu Natal e Joanesburgo, criava uma comissão para avaliar o grau de preparação e a deficiente resposta dada. O tal painel de experts vai examinar todos os aspectos e apresentar recomendacoes.

 

Eu aplaudo vivamente este procedimento: informar os concidadãos, ou o seu grupo de trabalho, colegas, subordinados, etc. que vai fazer algo; que vai proceder a alterações no xadrez por causa disto e daquilo. Partilhar com os cidadãos as inquietações e ou aflições que levaram à conclusão da necessidade de alterações na equipa. Comunicar aos concidadãos as expectativas em mente, no caso, fortificar o grupo, a instituição, ou o nosso Estado para fazer face a tudo que seja ameaça ao bem estar e estabilidade nacional e do cidadão.

 

Por fim, como gesto de grande humanidade, agradecer publicamente, sem rodeios, sem desprezo, nem desvalorização, aos titulares cessantes pelo contributo que deram para a consecução dos objectivos da instituição, do Estado ou dos compatriotas.

 

Gostaria que isto acontecesse no meu país! Que esta fosse a prática no nosso solo pátrio.

 

Gostaria que houvesse respeito, consideração, humanidade, sentido de gratidão e de ética para com os que são desnomeados, os que cessam funções! Para com as suas pessoas individuais, humanamente falando, mas também para com as suas famílias e amigos.

 

Mas também ainda, para com a sociedade em geral, para com os compatriotas na globalidade. Não somos mais chefes quando humilhamos o semelhante, sobretudo alguém a quem convidamos, de nossa livre e espontânea vontade, para dar o seu contributo numa determinada posição ou empreitada e procurou dar o seu melhor em resposta ao convite que lhe foi formulado! Agradecer é um dever humano, não é um favor.

 

Cá entre nós, o que temos assistido é bastante triste, roçando mesmo o desumano! Em todos os níveis da nossa gestão. Não é só ao mais alto apenas, mas a todos os níveis!

 

No ciclo governativo anterior, houve uma caricatura que circulou bastante nas redes e meios sociais. Retratava um dirigente, em casa, sentado na cadeira, que não queria ir para a cama deitar-se e a esposa, agastada, perguntava-lhe porquê não se queria deitar e ele respondia: não quero acordar não ministro!...

 

Ao longo destes tempos todos da nossa vida, vimos e ouvimos de tudo… ministros que são demitidos em comunicados de imprensa lidos na rádio, directores exonerados através de SMS’s, outros tantos responsáveis e dirigentes que ouvem que já não o são através dos seus próprios subordinados, muitas vezes da secretaria. Dirigentes que se pedem que entreguem as chaves dos gabinetes na tarde a seguir à sua exoneração… tanta desumanidade! Why?

 

Não podemos respeitar o outro ser humano? Pode já não servir para aquela posição ou interesses, mas não deixa de ser humano!

 

ME Mabunda